Reafirmando-se pré-candidato ao governo do Rio de Janeiro, o senador Romário (Podemos-RJ) acusou a imprensa de publicar fake news, as notícias falsas, sobre seus propósitos com a consulta feita ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), cujo conteúdo foi negado na última terça-feira (24). Romário quis saber se um mandatário do Senado poderia interromper seu mandato de oito anos, na metade, para concorrer ao mesmo posto. Caso a resposta do TSE tivesse sido diferente, o ex-jogador de futebol poderia, se quisesse, tentar um novo mandato e, assim, permitir ao seu primeiro suplente, João Batista da Rocha Lemos, assumir a cadeira na Casa com o objetivo de exercer a função pelos próximos quatro anos.
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Mas não foi esse o objetivo do senador, segundo nota publicada em suas redes sociais (íntegra abaixo). A consulta pretendeu, diz Romário, evitar a morosidade do processo legislativo justamente para evitar a possibilidade de reeleição no meio do caminho. “Meu objetivo era apresentar um projeto de lei que proibisse, de forma explicita, casos como esse. Infelizmente, projetos de lei costumam demorar muito em sua tramitação. Uma manifestação do TSE seria mais rápida e teria validade já para esta eleição”, escreveu o ex-craque da seleção brasileira de futebol, que se notabilizou por dribles desconcertantes e gols decisivos.
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Para reforçar sua versão, Romário cita ainda dois precedentes protagonizados por uma senadora e um senador, ambos do PMDB. “O primeiro episódio foi o da então senadora Marluce Pinto, de Roraima, eleita no ano de 1990 para um mandato de oito anos, candidatou-se em 1994 para um outro mandato de oito anos e, assim, assumiu em 1995 para as legislaturas 1995-2003”, apontou o parlamentar.
“O segundo caso foi em 1998, o então senador Carlos Bezerra, de Mato Grosso, candidatou-se a um novo mandato por seu estado. Sua candidatura foi objeto de impugnação judicial, mas a Justiça entendeu que não havia impedimento para que ele concorresse. Ele acabou não conseguindo a ‘nova’ vaga”, acrescentou em seu site.
A possibilidade de reeleição de Romário ao mesmo posto no meio do mandato foi veiculado em diversos veículos de imprensa, inclusive o Congresso em Foco. No site do jornal O Globo, por exemplo, o título dizia: “TSE impede Romário de tentar reeleição antes de fim de mandato no Senado”. Na matéria, a premiada repórter Carolina Brígido acrescenta: “Romário queria deixar a cadeira no Senado neste ano, para seu suplente completar o mandato. […] Se o plano desse certo, ele ficaria por 12 anos seguidos no Senado”. O próprio site do TSE faz menção ao assunto, mas sem referência às pretensões de Romário.
Jornalismo
O Congresso em Foco, referência internacional na cobertura política e na veiculação de denúncias sobre malfeitos na administração pública – a ponto de veículos de imprensa como o jornal inglês The Guardian se referir ao site como “Congress whatchdog” (“cão de guarda do Congresso, em tradução livre) –, não só combate as notícias falsas como publica reportagens com desmentidos sobre elas. Diversos foram os episódios em que, confrontados com a verdade, políticos vieram a público para tentar desqualificar o trabalho da equipe de redação.
Em 2009, o então deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE), hoje presidenciável do PDT, reagiu mal ao ver publicada a lista dos deputados federais que usaram a cota de passagens para voos internacionais, no último dia 22? “Leviana e grosseira mentira”, bradou Ciro no plenário, sob os aplausos dos colegas. “Ministério Público é o caralho”, ditou em seguida, para os jornalistas.
O Congresso em Foco reuniu informações para comprovar o que publicou. Como informamos, de acordo com registros da empresa aérea em questão, a Câmara dos Deputados pagou quatro voos internacionais para a passageira Maria José Gomes, mãe de Ciro e do então governador cearense, Cid Gomes. Os dois primeiros tiveram emissão em dezembro de 2007; os outros dois, em abril de 2008.
Outro exemplo, este recente, foi a publicação de matérias que funcionaram contraponto às mentiras espalhadas em redes sociais, por autoridades, sobre a vereadora Marielle Franco, executada em 14 de março no Rio de Janeiro. A desembargadora fluminense Marilia Castro Neves e o deputado Alberto Fraga (DEM-DF), como este site e diversos outros veículos de imprensa mostraram, ambos replicaram em plataformas como Facebook e Twitter a estória de que Marielle era ligada ao crime organizado, o que se revelaria mentira. Na ocasião, a reportagem do Congresso em Foco ouviu Fraga e tentou ouvir a magistrada, que depois se desculparia pelas mentiras e ofensas replicadas.
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Leia a nota de Romário:
Diferente do que a imprensa vem dando, de forma mentirosa e leviana, nunca pretendi me candidatar ao Senado em 2018. Eu provoquei o Tribunal Superior Eleitoral para que se manifestassem a respeito da possibilidade de um senador, no meio do mandato, concorrer novamente ao cargo.
Meu objetivo era apresentar um projeto de lei que proibisse, de forma explicita, casos como esse. Infelizmente, projetos de lei costumam demorar muito em sua tramitação. Uma manifestação do TSE seria mais rápida e teria validade já para esta eleição.
A decisão do TSE é um avanço, porque bateu o martelo em uma regra que vai servir para todos os senadores. O tribunal não me impediu de nada. Em nenhum momento eu lancei candidatura ao Senado. Sou pré-candidato ao governo do estado do Rio de Janeiro, como todos sabem.
Assim como o ministro Barroso, que se manifestou na consulta, eu acho uma fraude abandonar um mandato no meio para concorrer ao mesmo cargo. No entanto, já houve dois casos em que senadores concorreram a uma nova vaga de senador sem que seu mandato estivesse chegado ao fim.
O primeiro episódio foi o da então senadora Marluce Pinto, de Roraima, eleita no ano de 1990 para um mandato de oito anos, candidatou-se em 1994 para um outro mandato de oito anos e, assim, assumiu em 1995 para as legislaturas 1995-2003.
É ano eleitoral e infelizmente qualquer notícia vira arma pra ganhar audiência, mesmo que pra isso tenham que torcer a verdade. Fake news aqui não!
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