As disputas políticas entre governo e oposição na CPI dos Correios pelo rumo das investigações subiram de tom ontem pela manhã e empurraram, para o início do tarde, o depoimento pouco esclarecedor do ex-presidente do Banco Popular do Brasil Ivan Guimarães.
Os oposicionistas queriam que a CPI marcasse, ainda ontem, depoimentos de maior apelo político, como o do ex-ministro Luiz Gushiken, e do presidente do Sebrae, Paulo Okamoto. O governo, por sua vez, barrou o ímpeto da oposição, mas a questão só deve ser resolvida hoje às 9h, quando a comissão se reúne para votar requerimentos.
A oposição acusou o presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), de obstruir proteger o governo. O ex-tucano rebateu as críticas ao dizer que parlamentares do PSDB e do PFL queriam apenas aparecer na mídia. Os oposicionistas cobram de Delcídio rigor contra órgãos da administração federal que estariam atrasando o envio de documentos requisitados pela CPI. O petista ameaçou pedir o afastamento da diretoria dos Correios se a estatal não colaborar com os trabalhos da comissão.
Guimarães foi convocado a depor após as revelações de que, em sua gestão à frente do banco, os gastos com uma das empresas de Marcos Valério Fernandes foram maiores do que os empréstimos a pessoas de baixa renda, público-alvo da instituição, subsidiária do Banco do Brasil. Enquanto a DNA Propaganda recebeu R$ 29 milhões, entre 2003 e 2004, os recursos destinados ao microcrédito não passaram de R$ 21 milhões nesse mesmo período.
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Veja os principais trechos do depoimento de Ivan Guimarães:
Contratos de publicidade
Afirmou que todos os contratos de publicidade da instituição eram fechados pela Diretoria de Marketing do Banco do Brasil, sobre a qual não teria qualquer ingerência. Admitiu, entretanto, ter se reunido “várias vezes” com o empresário Marcos Valério e seus sócios Rogério Tolentino e Cristiano Paz, donos da DNA, agência de publicidade contratada pelo Banco do Brasil.
Ivan Guimarães disse os gastos em publicidade da instituição em 2004 são normais “numa empresa que está começando”. O Banco Popular destinou R$ 21,3 milhões, no ano passado, para operações de crédito e aplicou R$ 29 milhões em publicidade feita pela empresa DNA Propaganda, que tem como sócio o empresário Marcos Valério. O ex-presidente do banco rebateu a argumentação do relator, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), de que a criação do Banco Popular foi equivocada na medida em que aumentou gastos do Banco do Brasil.
Ele refutou ainda as denúncias de que a instituição teria gasto mais com publicidade do que com concessão de crédito. Ele explicou que, entre julho de 2004 e julho de 2005, o banco despendeu R$ 29 milhões em publicidade, mas concedeu R$ 97 milhões em crédito. Ele destacou que, no período, a instituição atendeu a 1,6 milhão de clientes.
Guimarães admitiu, contudo, que o banco teve prejuízo de R$ 60 milhões em seu primeiro ano de operação.
Valério e política
Disse que Marcos Valério procurou-o algumas vezes para conversar sobre política. Segundo ele, o empresário queria saber o motivo de pessoas do partido serem contra a política econômica do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Os contatos de Ivan Guimarães com Valério eram rápidos: “Ele (Valério) tinha também muito interesse nas eleições municipais de 2004.”
Ivan Guimarães disse que conheceu o empresário Marcos Valério em 2003, em decorrência da prestação de serviços ao banco por parte da DNA Propaganda.
Campanha de Lula
Confirmou que atuou, durante a campanha presidencial de 2002, no comitê financeiro petista. Ressaltou, contudo, desconhecer qualquer tipo de operação de caixa dois. “Não me metia com isso”, declarou. “Não perguntava e não queria saber”, afirmou.
Apartamento para ex-mulher de Dirceu
Guimarães confirmou que aluga o apartamento que pertencia a Maria Ângela Saragoça, ex-mulher do deputado José Dirceu (PT-SP). Antes de ser comprado no final de 2003, o imóvel era alugado para Rogério Tolentino, sócio de Marcos Valério. “Essa coincidência é verdade”, contou o ex-presidente do Banco Popular.
Ivan Guimarães garantiu que desconhecia, inicialmente, o fato de o imóvel pertencer à ex-mulher do então ministro da Casa Civil. No primeiro ano de aluguel, segundo Guimarães, Tolentino não pagou nada pela estadia por causa de uma reforma bancada por ele próprio, ao custo de R$ 7 mil.
O ex-dirigente do Banco Popular negou qualquer relação entre esse episódio e os patrocínios dados pela instituição para eventos promovidos pela Multi Action, empresa de Marcos Valério.
Carteira de correntistas
Negou as denúncias de abertura de contas sem permissão dos clientes como artifício para aumentar a carteira de correntistas. Segundo ele, o aumento do número de contas no último ano, de 500 mil para 1,1 milhão, foi decorrente de campanhas publicitárias realizadas pela DNA Propaganda.
Indicação do PT
N egou que sua indicação para o cargo no banco tenha sido feita pelo PT, por critérios políticos. Segundo Ivan, isso aconteceu devido ao fato de ser especialista em microcrédito.
Desfiliação do PT
Anunciou aos integrantes da comissão que vai se desfiliar do PT, rechaçou ainda as acusações de que durante sua gestão o Banco Popular tenha privilegiado sindicatos e organizações não-governamentais (ONGs) ligados ao partido.
R$ 36 mil como conselheiro
Informou ainda que após deixar o cargo em abril devido ao interesse do PT em “realocar seus quadros”, passou a ganhar R$ 36 mil como conselheiro indicado pelo Banco do Brasil a três grandes empresas: a Kepler, onde recebe R$ 8 mil; a Belgo-Mineira, que lhe paga R$ 10 mil; e a Bombril, que está sob intervenção judicial e lhe dá R$ 18 mil por mês.
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