Telmo Schoeler*
O artigo de James Hagerty no Wall Street Journal que mostra a melhoria e eficiência de companhias americanas retrata um cenário que merece meditação. Sem paixão, nele vemos a vida se descortinando e inexoravelmente traçando o caminho dos que têm a capacidade de sobreviver e dos condenados à morte por inflexibilidade.
É a lei de Darwin aplicada ao meio empresarial, onde na evolução das espécies, sobrevivem não os mais fortes, mas os que se adaptam como nos ensinam os dinossauros que se foram e as baratas que continuam por aí há milhões de anos. A crise financeira e econômica mundial de 2008/09 pegou a todos, indistintamente, sem poupar continentes, antiguidades ou estágios de desenvolvimento, ainda que alguns marqueteiros espertos e de plantão por aqui a descrevessem como “marolinha”.
A partir dela alguns países e empresas encararam a crua realidade e mudaram, ajustando-se ao novo cenário. Outras comunidades e organizações continuam por aí, debatendo-se enquanto sangram, numa hemorragia que ainda levará muitos à morte.
Esta realidade generalizada sugere a pergunta: por que os EUA e as empresas americanas saíram menos chamuscadas, tiveram perdas menores e se recuperaram mais rápido? Mais que isso, por que a Europa continental – salvo raras exceções tipo Alemanha – continua mergulhada num atoleiro de onde não sabe (ou não quer?) sair?
A explicação não está na ideológica e retrógrada visão que culpa a lógica “individualista, desumana, movida por organizações de objetivos excusos do regime capitalista”, nem em visões de fatalidade, destino ou falta de sorte, mas sim na presença e sustentação de dois grandes pilares conceituais: a Liberdade e a Mudança. Enquanto a Liberdade é um princípio, de respeito ao indivíduo, sem adjetivos, a Mudança é uma postura, uma atitude, um estado de espírito, uma visão de mundo, sendo a ligação entre ambas umbilical: a segunda não existe sem a primeira. E ambas não existem se estivermos focados no que passou, olhando pelo retrovisor.
Aqui reside uma fenda abissal e cultural: enquanto a Europa olha para trás, os EUA o fazem para frente. Aquela usa leis, conceitos, hábitos e tradições do passado, enquanto a América analisa os fatos, aceita a inexorabilidade da vida e muda, para sobreviver. Não todos, pois a evolução das espécies produz sempre e apenas a sobrevivência da maioria. A renovação pela morte parcial é salutar em todas as instâncias da vida, o que pode soar duro, mas é realista e depurador.
Esta diferença basilar de enfoque reflete-se no dia a dia das empresas: enquanto a Europa – e o Brasil por ela colonizado – é especialmente focado num conceito patrimonialista do imóvel, da loja, das terras que se “tem”, o Novo Mundo segue a visão rentista, perguntando-se quanto “rendem” ou “produzem” o imóvel, a loja ou as terras. Se a resposta for “nada”, o que adianta tê-las? Para simplificar, é a percepção de que a sobrevivência se dá pelo caixa e não pelo patrimônio.
Quando a Harley Davidson e a Caterpillar detectam mudanças necessárias de operações e gestão, observa-se que os sindicatos e os operários esmagadoramente entendem, acompanham e aderem à lógica, fazendo com que todos ganhem com isso, inclusive o país, por decorrência. Contrariamente, na Europa – e nos seus colonizados – fazem-se piquetes, greves, manifestações e passeatas para manter o status quo e direitos adquiridos, como se a vida fossa feita de passado e não de futuro. A história do passado é boa como reconhecimento do mérito do que foi, é válida como memória e respeito e merece ser preservada nos museus físicos ou espirituais.
Sabemos que viver não é fácil, mas com Liberdade e Mudança, no frigir dos ovos, a América sofre menos e avança mais. Inexoravelmente. Teve razão Alvin Tofler quando sentenciou que “os analfabetos do século XXI não serão os que não souberem ler e escrever, mas os que não souberem aprender, desaprender e reaprender”.
* Administrador (UFRGS), Master of Business Administration – MBA – (Michigan State University – USA), com diversos cursos de extensão em gestão, governança corporativa, planejamento, finanças, marketing e qualidade, no Brasil, EUA (Southern Connecticut University e Yale University) e Inglaterra (City of London). Sócio-fundador e Leading Partner da Strategos – Strategy & Management
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