Carta Capital
Senhor do submundo
Com aquele rosto redondo perfeitamente esculpido para os óculos igualmente esféricos e os ternos que parecem comprados em magazines populares, Carlos Augusto Ramos poderia facilmente se passar por um pacato corretor de seguros ou dono de uma loja de colchões. Mas não se engane. Em menos de duas semanas, os crimes de Ramos, mais conhecido como Carlinhos Cachoeira, listados pela CPI são de assustar: sequestro, cárcere privado, prostituição, jogatina, sonegação fiscal, evasão de divisas, tráfico de influência, corrupção ativa, formação de quadrilha, suborno. Só falta assassinato.
Em meio a disputas políticas e pressões de todo tipo, é esse amplo universo de criminalidade que os parlamentares investigarão nos próximos meses. Se forem eficientes, ao contrário de seus pares da CPI dos Bingos de 2005, que ignoraram o personagem, embora ele fosse um dos alvos da comissão, uma história exemplar dos tentáculos do crime organizado no Brasil será revelada em toda a sua plenitude e extensão. “Tudo indica que o esquema de Cachoeira era muito maior do que imaginávamos”, afirma o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), integrante da CPI. “Temos indícios de que ele cometeu diferentes crimes. Vamos pedir inclusive a ajuda da Interpol para investigar suas empresas no exterior.
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Os relatos de que as “amizades” de Cachoeira envolviam farras com prostitutas não são novos. Todos os que conheceram o bicheiro de perto costumam descrever sua “simpatia” e contar das festanças com mulheres incluídas. Em depoimento à CPI na quinta-feira 10, o delegado da PF Matheus Mella Rodrigues, titular da Operação Monte Carlo, declarou que o suplente de senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO), assíduo interlocutor de Cachoeira, revela em uma das ligações interceptadas com autorização da Justiça estar no Hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, com 10 homens e 30 mulheres. Na quinta-feira 17, o site Congresso em Foco informou que o bicheiro pagou o jantar e contratou uma garota de programa para o tucano Eduardo Siqueira Campos, filho do governador de Tocantins.
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É absolutamente previsível a explosão que pode emergir de uma apuração minuciosa envolvendo as relações de uma grande construtora, no caso a Delta Construções, e seus laços financeiros com políticos influentes. A empreiteira assumiu o posto de líder entre as fornecedoras da União depois de contratar como consultor o deputado cassado José Dirceu, petista que responde a processo no Supremo Tribunal Federal (STF) no papel de “chefe da organização criminosa” do mensalão. Além disso, consolidou-se como a principal parceira do Ministério dos Transportes na esteira de uma amizade entre seu controlador, Fernando Cavendish, e o deputado Valdemar Costa Neto, réu no mesmo processo do mensalão e mandachuva do PR, partido que comandou um esquema de cobrança de propina que floresceu na gestão Lula e só foi desmantelado no ano passado pela presidente Dilma Rousseff. A empreiteira de Cavendish é dona da maior fatia das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e tem contratos avaliados em cerca de 4 bilhões de reais com 23 dos 27 governos estaduais. Todo esse império começou a ruir desde que a Delta foi pilhada no epicentro do escândalo envolvendo o contraventor Carlos Cachoeira. Se os segredos de Cachoeira são dinamite pura, os de Cavendish equivalem a uma bomba atômica. Fala, Cavendish!
Na semana passada, a CPI do Cachoeira aprovou a convocação de 51 pessoas e 36 quebras de sigilo bancário, fiscal e telefônico. Os números foram festejados pela cúpula da comissão como prova inconteste da disposição dos parlamentares para investigar os tentáculos da máfia da jogatina nos partidos políticos, na seara das empreiteiras e na administração pública. Sob essas dezenas de votações, no entanto, esconde-se a operação patrocinada pelo ex-presidente Lula e alguns políticos para impedir que a bomba atômica de Cavendish seja detonada.
Época
Negócios que não param de jorrar
Todos sabem que o bicheiro Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, começou a vida no ramo de jogos ilegais. Com a ajuda de políticos e policiais e o uso de recursos do submundo, Cachoeira se tornou um homem próspero, com negócios nos ramos farmacêutico e da construção civil. Seu braço nessa área era a construtora Delta. A extensa investigação da Polícia Federal na Operação Monte Carlo mostra, à exaustão, quanto Cachoeira se empenhava para conseguir negócios para a empreiteira. Mas, como bom empresário, Cachoeira procurava diversificar seus negócios. Cachoeira usou a Construtora Rio Tocantins (CRT) para fazer negócios em Mato Grosso e em outros Estados da região. Assim como aconteceu com a Delta, os negócios da CRT ex-pandiram-se consideravelmente nos últimos anos.
A agenda confusa de Cabral
Quanto mais o governador do Rio, Sérgio Cabral, explica, mais se complica.
ÉPOCA revelou na semana passada que a agenda oficial de Sérgio Cabral (PMDB) mostrava o governador em atividades internas no Rio durante três dias em julho de 2009, enquanto ele se divertia na Europa. Durante a viagem, Cabral foi fotografado e filmado com o empreiteiro Fernando Cavendish, dono da construtora Delta. Como justificativa, sua assessoria disse que houve um erro de publicação naquelas datas e que Cabral de fato não estava no Rio, mas em descanso.
Na semana passada, ao tentar explicar por que gastou cerca de R$ 7 mil em diárias durante apenas dois dias de viagem oficial a Paris, nos dias 14 (uma segunda-feira) e 15 de setembro de 2009, o governador Cabral voltou a se enrolar. A justificativa de Cabral para os gastos é que ele chegara a Paris com três dias de antecedência. Mas, em sua agenda oficial, não constava a informação de que estava na França. Ela se limitou a informar que o governador estava em “compromissos internos”.
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Muito barulho por nada
Criada para investigar as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos e empresários, a CPI do Cachoeira até agora pouco avançou. Na primeira semana de depoimentos, os debates foram dominados pela troca de acusações entre integrantes da Polícia Federal e a Procuradoria da República. Já a aguardada audiência de Cachoeira, inicialmente marcada para a terça-feira 15, foi adiada por causa de uma liminar acolhida pelo ministro do STF, Celso de Mello. Na quarta-feira 16, parlamentares de governo e oposição costuraram um conveniente acordão para postergar ao máximo o depoimento de governadores do PSDB, PT e PMDB citados no inquérito da Operação Monte Carlo, restringindo o foco das investigações a personagens menores do esquema. “Só chamaram os bagrinhos. Os importantes mesmo estão de fora”, criticou a senadora Kátia Abreu (PSD-TO). Também mandaram direto para o arquivo os pedidos de quebra de sigilo das contas da Delta em todo o País, com exceção da região Centro-Oeste. A decisão livra os tucanos de sofrer constrangimentos em São Paulo e os peemedebistas no Rio de Janeiro. “Não há chance de a CPI avançar. Não vejo interesse nos partidos”, reconhece o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE). Enquanto a apuração engatinha e não há demonstrações contundentes de que o esquema de Cachoeira será investigado a fundo no Congresso, os parlamentares aproveitam os holofotes proporcionados pela CPI para produzir barulho. Apenas barulho.
Menos segredo, mais democracia
Às 11h46 da quarta-feira 16, o locutor oficial do Palácio do Planalto anunciou: “Está instalada a Comissão da Verdade.” A plateia que ocupava o Salão Nobre, repleta de familiares de vítimas da ditadura militar, aplaudiu com entusiasmo, certa de que estava vivendo um momento histórico. De volta à plenitude democrática, o País finalmente poderá passar a limpo os episódios tristes e cinzentos dos anos de chumbo. Emocionada com a criação do órgão que vai apurar os horrores da repressão, a presidenta Dilma Rousseff, ladeada por quatro ex-presidentes da República, fez questão de ressaltar que no mesmo dia entrava em vigor a Lei de Acesso à Informação, que obriga órgãos públicos a fornecer dados requeridos por qualquer cidadão. A nova lei e a Comissão da Verdade não nasceram juntas por mera coincidência. São frutos, como lembrou a própria Dilma, de um longo processo da democracia, de quase três décadas. “Não posso deixar de declarar meu orgulho por coincidir com o meu governo o amadurecimento da nossa trajetória democrática. Por meio dela, o Estado brasileiro se abre, mais amplamente, ao exame, à fiscalização e ao escrutínio da sociedade”, afirmou a presidenta.
Não faltou emoção durante a solenidade de posse dos sete integrantes da Comissão. Dilma fez um discurso bastante cuidadoso, referindo-se à participação de seus antecessores na consolidação do Estado de Direito, lembrando até dos falecidos Itamar Franco e Tancredo Neves. Sem mencionar expressamente a Lei da Anistia, enalteceu quem lutou contra a ditadura, mas disse que reconhece e valoriza os pactos políticos que levaram à redemocratização. A ex-guerrilheira da VAR-Palmares, hoje no comando do País, chorou ao lembrar a dor das famílias que nunca puderam enterrar seus mortos.
Escravidão sem fim
Na semana passada, a Câmara dos Deputados mostrou que sua sintonia com a sociedade não está bem afinada. Pela segunda vez em menos de 15 dias, parlamentares de todas as matizes políticas adiaram a votação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 438, já aprovada pelo Senado. Trata-se da lei que prevê a expropriação de imóveis rurais e urbanos, cujos donos sejam flagrados usando trabalho escravo. Para procurar justificar os seguidos adiamentos, líderes de vários partidos dizem que a dificuldade está em definir o que é trabalho escravo. Um discurso que não encontra respaldo na realidade. O Ministério do Trabalho e Emprego tem regras muito claras que determinam como deve ser a relação entre empregadores e empregados. Ao fugirem do tema, os deputados parecem ignorar que, em pleno século XXI, ainda existe no Brasil situação de escravidão. E não são apenas casos isolados nos rincões do País. As fiscalizações do Ministério têm encontrado esse tipo de prática em grandes centros urbanos e a serviço de fortes grupos econômicos. Este mês, os fiscais encontraram 12 trabalhadores submetidos a condições semelhantes às da escravidão em São Paulo e em Itaquaquecetuba, no interior paulista. São bolivianos que produziam peças para a marca de roupas femininas Gregory, presente nos principais shopping centers do País.
Negócio da china em Barueri
Na última década a desapropriação de terrenos em Barueri, na Região Metropolitana de São Paulo, foi sinônimo de negócios da China para aqueles que estivessem próximos ao poder local. No município, de 240 mil habitantes e conhecido por abrigar grandes condomínios de luxo, ter um imóvel desapropriado pela prefeitura era um privilégio digno de inveja a especuladores experientes do mercado. O preço do imóvel pago pela prefeitura chegou a variar mais de 400% em 18 meses. Tanta lucratividade chamou a atenção do Ministério Público, que há cinco anos investiga essa indústria da desapropriação. Os dois principais protagonistas desse enredo, segundo o MP, são o ex-prefeito e atual deputado estadual (DEM), Gilberto Macedo Gil Arantes, e a empresa Conspar Empreendimentos e Participações. Em junho de 2002, por exemplo, a companhia comprou onze terrenos na cidade, entre eles o que hoje funciona o serviço Ganha Tempo, por R$ 2,7 milhões. Em janeiro de 2004, o então prefeito Gil Arantes os desapropriou. A prefeitura pagou R$ 12 milhões pelas áreas, R$ 4 milhões em outubro de 2004 e R$ 8 milhões em janeiro de 2005. Uma valorização de 444% em um ano e meio.
Um outro caso de máxima valorizacão em tempo mínimo é alvo de uma ação civil pública, na qual o MP pede que o ex-prefeito seja condenado a ressarcir os cofres públicos. O processo mostra que em janeiro de 2002, Arantes ordenou em caráter de urgência a desapropriação de 13,8 mil metros quadrados de uma área total de 151 mil metros quadrados pertencentes à Conspar por R$ 952 mil. O valor equivale a R$ 68,95 por metro quadrado. A Conspar tinha adquirido o terreno 11 meses antes, desembolsando R$ 31,85 por metro quadrado. Ou seja, a área mais do que dobrou de valor em menos de um ano.
O treino certo do começo ao fim
Matricular-se na academia, comprar roupas de fitness, receber a planilha de exercícios e começar a treinar. Simples assim, sem surpresas. Fazer um pouco de atividade aeróbica em um dia, no outro trabalhar separadamente grupos musculares. E só. Familiar a qualquer um que já tenha se proposto a começar a praticar atividades físicas, esse esquema de treinamento já é algo do passado. Hoje, descobertas no campo da fisiologia e a ascensão de novos conceitos estão ajudando a construir um novo padrão de treino ideal. Ele vem embasado em informações que permitem instituir com maior precisão o tempo e a intensidade necessários ao resultado desejado e ajudam a evitar equívocos responsáveis por lesões ou pelo desânimo que costuma abater os praticantes após dois, três meses o início de seus treinos. Na sua essência, está a mais moderna maneira de compreender o corpo: um organismo integrado no qual músculos, ossos, articulações, artérias e veias sanguíneas trabalham em conjunto com o objetivo de preservar nossa capacidade de executar movimentos – desde os mais simples, como se agachar para amarrar os sapatos, até os mais complexos. Enfim, que atuam como uma orquestra afinada para garantir a funcionalidade do corpo. Não se trata mais, portanto, de pensar o treino de forma fragmentada, com músculos estimulados isoladamente, por exemplo. No treino ideal, todas as estruturas do organismo envolvidas no movimento devem ser levadas em consideração. É o chamado treinamento funcional, integrado por exercícios capazes de turbinar, ao mesmo tempo, o equilíbrio, a força, a estabilidade e a potência.
A mais recente novidade nessa área é a chegada às academias de um novo método de avaliação para conhecer a fundo os segredos que interferem nos movimentos de cada um antes do ingresso na atividade física. Os resultados são usados para definir o plano certo de treinamento, que podem incluir exercícios corretivos, se for o caso, e aqueles destinados a assegurar a funcionalidade do corpo. Conhecido pela sigla FMS, do inglês Functional Movement Screen (em tradução livre, teste de movimento funcional), o recurso começa a ser oferecido em academias americanas, como a moderna Equinox, a respeitada Mayo Clinic e o Cooper Fitness Center, um dos principais difusores da proposta. “Precisamos conhecer as pessoas e, como diz o criador da técnica, Gray Cook, primeiro ajudá-las a se movimentar bem para depois se movimentar com frequência”, disse à ISTOÉ Carla Sottovia, diretora da rede Cooper.
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