Reportagem – é o aprofundamento de uma notícia ou o mergulho em um fato importante, mesmo que não seja recente, em busca de revelações exclusivas. A reportagem, na acepção aqui utilizada, está no universo do “jornalismo investigativo”, que remete ao esforço para tornar públicos fatos relevantes que autoridades ou pessoas poderosas gostariam de manter ocultos. Uma boa reportagem requer pesquisas intensas, entrevistas com grande diversidade de fontes, reiteradas checagens e cuidado especial na apresentação do conteúdo final, que pode trazer complementos como vídeos, infográficos, mapas e painéis de visualização de dados. Também deve trazer – ou, no mínimo, tentar obter – as explicações de quem pode ter sua imagem arranhada pela sua publicação.
Flagrante de propina para Maurício Marinho acabou por resultar na crise no mensalão
O Ministério Público Federal (MPF) denunciou o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), que deflagrou a crise do mensalão, pela participação num escândalo de propina na Empresa de Correios e Telégrafos (ECT). Segundo a denúncia, ele e outros envolvidos no “grupo criminoso” arrecadaram cerca de R$ 5 milhões em propinas para financiar projetos políticos do PTB.
Além de Jefferson, foram acusadas mais oito pessoas por formação de quadrilha e corrupção passiva. São eles: o ex-chefe de Compras dos Correios Maurício Marinho, os empregados da ECT Antônio Osório, Fernando Godoy, Júlio Imoto e Eduardo Coutinho, o ex-presidente da Eletronorte Roberto Garcia Salmeron, Horácio Batista, primo de Antônio Osório, e João Henrique Souza.
O MPF, a Polícia Federal, a Controladoria-geral da União e auditores da estatal começaram as investigações depois que uma reportagem de 2005 da revista Veja divulgou vídeo em que Marinho recebia R$ 3 mil de propina. Na gravação, ele disse que trabalhava a serviço do PTB.
Para os procuradores Bruno Acioli, Raquel Branquinho e José Alfredo de Paula, de fevereiro de 2003 a junho de 2005, as verbas alimentaram o caixa do PTB, presidido por Jefferson, com o objetivo claro: “o financiamento de projetos políticos”. Eles dizem que a ECT “foi vítima da ação organizada de quadrilhas compostas basicamente por empregados públicos, políticos, empresários e lobistas”.
De acordo com a denúncia do MPF, o presidente nacional do PTB Jefferson chefiava a quadrilha e foi o responsável por indicar um filiado do partido, Antônio Osório, para a diretoria de Administração dos Correios. Lá, ele cooptou os servidores concursados Fernando Godoy, Maurício Marinho, Eduardo Coutinho e Júlio Imoto. Eles cobravam propinas de empresas que mantinham relações com a ECT.
A quebra de sigilo telefônico de Jefferson mostrou que o ex-deputado se relacionava diretamente com Godoy e Marinho. O presidente nacional do PTB ligou 198 vezes para o primeiro e 50 vezes para o segundo. Era Marinho quem pedia propina às empresas, segundo os procuradores.
Com ele, com Godoy e com Osório, foram encontradas planilhas de pagamento que controlavam “uma detalhada contabilidade da propina” para o PTB. Os recursos beneficiavam não só partido, como também os próprios denunciados, segundo o MPF.
Parte das propinas era solicitada em forma de materiais e apoio financeiro para as campanhas eleitorais municipais de 2004. De acordo com a investigação, os candidatos beneficiados eram apoiados por Osório e pelo então presidente da ECT João Henrique Souza
Estopim
Depois da reportagem com o vídeo de Maurício Marinho, as pressões sobre Roberto Jefferson só aumentaram. Sem apoio do governo, ele concedeu uma entrevista em que dizia que o então chefe da Casa Civil José Dirceu comandava um esquema de pagamento de propinas para deputados votarem com o governo. Os pagamentos eram conhecidos como “mensalão”.
Os meses que se seguiram resultaram na maior crise política do governo Lula, que estendeu até 2006 e quase tirou o projeto de reeleição do presidente da República. Dirceu, um dos principais ministros, renunciou ao cargo do Planalto e, na condição de deputado, foi cassado, assim, como Roberto Jefferson.
A denúncia do MPF foi apresentada à 10ª Vara da Justiça Federal em Brasília, na última segunda-feira (8). A reportagem ainda não obteve retorno de Jefferson e da assessoria do PTB. (Eduardo Militão)
Os denunciados e seus crimes
– Formação de quadrilha: Roberto Jefferson, Julio Takeru Imoto, Eduardo Coutinho Lins, Horacio Cesar Martins Batista e Roberto Garcia Salmeron.
– Formação de quadrilha e corrupção passiva: Antônio Osório Menezes Batista, Fernando Leite Godoy e Maurício Marinho.
– Corrupção passiva: João Henrique de Almeida Souza.
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