Fábio Góis
Com mais quatro anos garantidos pela frente no Senado, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) é uma das figuras mais respeitadas do atual Congresso. Conhecido pelo comportamento comedido e pela fala pausada, o autor do projeto que estabelece renda mensal mínima para todo e qualquer cidadão brasileiro por vezes surpreende em situações inusitadas, algumas delas hilárias.
Depois de ter usado sunga de Super-Homem na frente das câmeras e ter dado cartão vermelho para o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), durante a crise mais aguda da história da instituição, Suplicy retorna em grande estilo às luzes da ribalta.
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A “performance” desta vez aconteceu em seu reduto eleitoral. Ex-boxeador de qualidade, temido pelos adversários, Suplicy faz cara de mau no meio de manos e minas embevecidos pelos versos enfurecidos de Mano Brown, vocalista e líder do grupo do hip-hop Racionais MCs. Espremido em uma rua da periferia, o respeitável público era formado, em sua maioria, por negros. De maneira que Suplicy, alto e alvo, se destaca no meio da multidão – a câmera que registrou o filmete, de 3 minutos e 7 segundos, chega a passar por Suplicy sem detectar sua presença destoante, mas logo em seguida um close desfaz a displicência.
A legitimidade da aparição foi atestada com admiração por alguns que viram o vídeo, com comentários registrados no Youtube. “Suplicy é muito sinistro. É de uma das famílias mais ricas de São Paulo e é o único que vai às ruas ver de perto a realidade. E mais: acho que ele não faz pra aparecer, ele se amarra mesmo, sempre fala dos racionais”, diz o internauta de codinome “kubaah”. “Kkkkk! Inacreditável! Ele curte mesmo!”, reforça “tinhodrunsk” em bom internetês.
“Muito respeito pra trutas e quebradas”, saúda Mano Brown, com a presença de palco de sempre. “O dia de amanhã quem sabe é Deus / Eu não sei, não vi, não vou; morro cadeado / ‘Firmão’, deixa eu ir, quem não é visto não é lembrado / Hoje eu sou ladrão, artigo 157 / A polícia bola um plano, sou herói dos pivete [sic]”, continua o artista, em trecho da música “Eu sou 157”, referência ao artigo do Código Penal. Ao final do clipe, o entardecer se contrapõe às caixas-d’água da periferia.
Lá no meio do povo que o elegeu, Suplicy ouve os versos com séria reverência, “disfarçado” com seu óculos e seu bem-passado pullover. De fato, o senador parece bem à vontade no show, admirando o grupo que já mencionou em plena Comissão de Constituição e Justiça – na ocasião, levou inclusive o já falecido ex-senador Antônio Carlos Magalhães às gargalhadas ao cantar outra música do Racionais MCs, com direito à reprodução do som de uma metralhadora.
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Sem mais delongas, confira o vídeo (caso o leitor prefira ou esteja com pressa, vá direto ao instante 3:05 para ver a silente reverência de Suplicy):
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