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Desde a instalação da CPI do Cachoeira, em 25 de abril, a tal mulher de pouca conversa passou a circular em uma área maior àquela contígua ao gabinete de Ciro Nogueira, quarto-secretário do Senado e membro da comissão de inquérito. Sem a sua autorização, a publicação de um vídeo de sexo, no qual Denise é protagonista, fez com que ruíssem todas precauções que a advogada de 28 anos usava para ter controle de sua vida íntima. Assistido por parlamentares e jornalistas que acompanham a CPI do Cachoeira, o vídeo fez com que Denise ganhasse a alcunha de “furacão” ou “musa da CPI” – com esta última, comparada à também loira Andressa Mendonça, namorada do contraventor que dá nome à comissão de inquérito, Carlos Cachoeira.
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Exposta de forma vil, Denise nada ganhou com isso, a não ser a companhia de fortes calmantes, sem os quais já não consegue mais dormir, e a sensação de que, aos olhos de todos, está sempre despida. Para completar, vítima de um moralismo que não compreende, Denise foi demitida, perdeu o emprego que tinha como assessora de Ciro Nogueira. O senador encarregou assessores de comunicar a Denise sua exoneração.
Sensação de nudez
Desde o vazamento do vídeo, que Denise diz ter sido feito há cerca de seis anos – dois antes de ser contratada por Ciro Nogueira –, a advogada tem a vida revirada, exposta em telas, páginas e ondas sonoras Brasil afora. Fotos que ela postava no Facebook, de biquíni, tomaram ares de catálogo erótico. Telejornais chegaram a veicular cenas do tal filme de sexo, blogs e sites idem, imagens da advogada foram usadas à exaustão em reportagens ora mal intencionadas, ora eivadas de erros e falhas de apuração. Passando os dias dopada, em decorrência do estado de depressão a que chegou, Denise tem evitado dar declarações mais demoradas à imprensa.
Mas, por telefone, Denise aceitou falar ao Congresso em Foco mais detidamente, por duas vezes no transcorrer da última semana. Em outra ocasião, respondeu perguntas por e-mail. E, alternando momentos de desalento e saudosismo (ela diz que sua vida era o trabalho no Senado e os cuidados com a saúde), tentou definir como será, daqui para frente, sua relação com o universo parlamentar que a acolheu nos últimos quatro anos.
“Totalmente prejudicada. Eu vou passar, vão olhar… Eu vou cumprimentar os senadores, deputados, e vou achar que eles estão me vendo pelada. A impressão vai ser essa. Por isso estou indo ao psicólogo, ao psiquiatra. Estou tomando remédio e tudo…”, relata Denise, praticante de musculação e outras atividades físicas. O ex-namorado, as cenas de sexo, o falso moralismo de alguns colegas, o olhar enviesado de quem sabe quem ela é. E é com essa combinação deletéria, que pôs fim à sua incipiente trajetória no Parlamento, que Denise terá de lidar daqui em diante.
“Isso me desmoralizou, está acabando com a minha vida”, desabafa. Denise, porém, tem um alento: a esperança de que a sua história torne mais dura a legislação para quem divulga imagens íntimas de outras pessoas à sua revelia. “Do dia para a noite, vários deputados e senadores levantaram a bandeira. Mais de 70 projetos estão sendo discutidos por causa disso [divulgação de material particular em meio virtual]”. Logo, em seguida, porém, ela volta à sensação de profundo desconforto que a acompanha nos últimos dias. “Mas, no final das contas, quem é a exonerada? Isso vai continuar sendo discutido, a legislação sobre crimes cibernéticos vai continuar a ser discutida, mas eu sou a exonerada.”
Geni
Sobre a demissão, Denise lembra que recebeu apoio de parlamentares, amigos, servidores e até de gente desconhecida, por meio de mensagens na internet. Ela diz não entender por que Ciro Nogueira decidiu exonerá-la. “Não sei o que se passou na cabeça da pessoa, vendo que a opinião pública toda estava contra a demissão. Mesmo assim exonerou. Mas não posso dar um juízo de valor sobre ele”, lamenta a advogada, lembrando que, em um primeiro momento, o senador se disse “constrangido”, para depois mudar o posicionamento e dizer que Denise era “uma profissional excelente”.
Já sobre uma cirurgia recente da qual ainda convalesce, Denise diz que “não foi nada estético”, como se chegou a cogitar nas dependências do Senado. A ex-assessora disse ainda que aproveitou o início do recesso (17 a 31 de julho) para realizar a intervenção – a informação foi deturpada por alguns veículos de imprensa, diz Denise, que associaram seu afastamento ao vídeo de sexo. Por esse raciocínio, ela teria obtido com o vídeo notoriedade, e estaria fazendo uma reparação estética para posar para uma revista masculina. “Não se brinca assim com a saúde dos outros”, ela protesta. “Porque se fosse de mãe, filho etc, ninguém, brincaria.”
Com a saúde abalada mental e fisicamente, Denise sente-se apedrejada como a Geni da canção de Chico Buarque, “Geni e o Zepelim”. Ajuizou ação para responsabilizar quem vazou o vídeo, diz ter perdido cinco quilos, evita o pior tipo das aparições públicas – aquele sob o olhar condenatório de quem nada tem a ver com a sua vida. Caseira, como ela mesma se define, vai buscar na família e nos amigos de fato o amparo que não teve no gabinete do Senado.
Enquanto isso, a CPI do Cachoeira não avança, deputados envolvidos com o caso não deverão ser punidos, e o julgamento do mensalão acontece no Supremo Tribunal Federal sem merecer maiores atenções por parte da maioria da população. “Criticam [o ato sexual]. Mas como é que todo mundo veio ao mundo? Tem coisa muito pior que acontece na Casa legislativa…”, comenta Denise. É como na canção de Chico Buarque: “Ela se virou de lado, e tentou até sorrir / Mas logo raiou o dia, e a cidade em cantoria não deixou ela dormir”.