Entrevista concedida por Dilma ao Jornal da Record, da Rede Record de Televisão, em 27 de outubro de 2014:
Adriana Araújo, da TV Record – Boa noite, presidente.
Boa noite, Adriana. Boa noite, Record. Boa noite a todos que estão aqui nos acompanhando.
Parabéns pela vitória.
Obrigada, Adriana.
Vamos começar a nossa entrevista. Presidente, a eleição que terminou ontem foi a mais acirrada dos últimos 25 anos, com a menor diferença de votos para a oposição. Qual foi o recado que a senhora ouviu das urnas e o que a senhora tem a dizer aos 51 milhões de eleitores que votaram no seu adversário?
Olha, eu acredito que uma eleição é sempre um recado de mudança, sabe, Adriana? Acho que a eleição na democracia é o momento em que as pessoas, mesmo com posições diferentes, elas defendem uma mudança, uma melhoria para o país. Eu acho que é isso que é o sentimento que em uma democracia une as pessoas, apesar de terem posições distintas. E é isso que é a base da minha conclamação que eu fiz ontem, que é pedir às pessoas que agora é a hora de todos nós nos unirmos para garantir um futuro melhor para o Brasil. O recado das urnas é esse. A palavra mais dita e pronunciada durante toda a campanha foi “mudança” e “reforma”. Eu tenho a certeza que é esse sentimento comum, mesmo com posições diferentes – e é bom lembrar que em todas as democracias maduras do mundo, quando você fala em união, você não está falando em unidade perfeita de ideias, nem tampouco em ação monolítica conjunta, você está falando na possibilidade de abrir-se um amplo diálogo, um diálogo em que as diferentes posições serão avaliadas, cotejadas e vão desaguar num consenso e numa ponte. Ponte para quê? Para garantir que o nosso país cresça, que o nosso país mantenha esse nível baixo de desemprego, que o nosso país combata efetivamente a inflação, que o nosso país abra um diálogo amplo com todas as forças produtivas e com todas as forças sociais, e com todo o setor financeiro também. Ou seja, a partir de agora o clima é de construção de pontes e não de buscar a diferença entre as pessoas.
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Agora, presidente, a senhora falou aí do sistema financeiro. Hoje, um dia depois da sua reeleição, foi um dia de muito alvoroço no mercado financeiro. A bolsa despencou, o dólar subiu, as ações da Petrobras caíram muito. A grande expectativa nesse momento é em relação às primeiras medidas econômicas que a senhora vai adotar, as novas medidas econômicas. Quais serão essas medidas? Qual a mensagem que a senhora passa para o mercado financeiro, depois de um dia de tanto alvoroço?
Adriana, as bolsas americanas caíram, as bolsas europeias caíram e o mundo está enfrentando muitas dificuldades. É verdade que aqui no Brasil caíram mais. Agora, as medidas vão ser justamente essas, objeto de um amplo diálogo, de uma discussão com todos os setores. Você vai me desculpar, Adriana, mas não se trata aqui de fazer uma lista de medidas e sair dizendo, como se eu chegasse e fizesse uma proposta. Eu não acho que é esse o caminho correto. O caminho correto é justamente da abertura de um diálogo. E temos de esperar o mercado acalmar, ele vai acalmar.
A senhora está confiante nisso. Agora, eu queria só citar um exemplo para a senhora, para a gente entender melhor o que a senhora está pensando: em 2002, quando o PT chegou no poder, fez um ajuste econômico com o então presidente Lula, que até foi chamado à época de um choque de credibilidade. Cortou gastos, contingenciou o orçamento, fez uma economia maior para pagar juros da dívida, para ganhar uma credibilidade. Esse é o momento em que o Brasil precisa disso de novo? De um choque de credibilidade?
Adriana, a situação é completamente diferente. Quando o presidente Lula, em 2002, foi eleito e tomou posse em 2003, nós tínhamos, Adriana, uma taxa de desemprego no Brasil de 11,4 milhões de pessoas. O salário vinha de uma trajetória de queda. Hoje, nós temos uma situação de elevado emprego e os salários estão, eu diria assim, com ganhos reais. O que eu acredito é o seguinte: nós temos de tomar, sim, algumas medidas. Agora, não são daquele tipo. A situação conjuntural, econômica e política é outra, completamente diferente.
Não é necessário um esforço de credibilidade?
Nós temos US$ 376 bilhões de reserva. Naquela época, a nossa situação de fragilidade era muito grande, extremamente elevada a fragilidade, por quê? Porque a gente tinha US$ 37 bilhões de reserva, qualquer flutuação do dólar, nós não teríamos como honrar nossos compromissos porque a nossa dívida era maior do que a quantidade de reservas que possuíamos. Hoje, nós temos US$ 77 bilhões além do necessário, ou seja, somos credores. Além disso, Adriana, uma outra situação também caracteriza o Brasil. Ao mesmo tempo em que está havendo este processo que você descreveu hoje, nós temos uma das maiores entradas de investimento direto externo. Uma das maiores. Em torno de 65 bilhões [de dólares] e, se você computar não só investimento interno, investimento direto externo, mas entrada de capitais, nós chegamos a US$ 77 bilhões. Então, eu acredito, Adriana, que a situação permite que a gente abra um espaço de diálogo, converse com todos os setores, veja quais são as propostas de mudanças que estão na pauta, que cada setor quer, que acha que é importante, vamos cotejar isso com calma e vamos proceder as mudanças. O que estou te dizendo é o seguinte: mudanças serão feitas. Agora, eu não vou achar que nós devemos copiar o que aconteceu em 2002 e 2003. Eu só estou querendo te dizer que a situação é diferente.
Sim. Agora, presidente, a gente fala muito de macroeconomia. Então, falando para o brasileiro comum, o assalariado, que depende do salário dele no final do mês, do emprego, qual é a mensagem para esse brasileiro. 2015 é um ano mais difícil? É um ano de reduzir um pouco o consumo? É um ano que o juro pode aumentar? O que a senhora diria para esse brasileiro?
Adriana, você me desculpa, mas eu não vou falar para o brasileiro diminuir o seu consumo. Ele está empregado e ganhando o seu salário, ele teve, inclusive, ganhos reais de salário. Você me desculpa…
Mas a sua mensagem é de tranquilidade?
A minha mensagem é de calma e tranquilidade. O Brasil vai estar melhor do que está hoje, isso eu asseguro e eu farei todo o possível para que isso ocorra.
Agora, presidente, para a gente terminar essa conversa de economia e mudar de assunto, eu não posso deixar de perguntar para a senhora hoje sobre as especulações que existem em relação a nomes de ministros da Fazenda. Quando a senhora pretende fazer a mudança? E o perfil, vai ser de um nome como o do presidente do Bradesco, do Luiz Trabuco, um nome de Mercado, que tem a confiança do mercado…
Você está lançando um nome, Adriana?
Eu não, a imprensa hoje lançou, presidenta. Eu, como jornalista…
E você não é da imprensa?
Eu sou, mas não fui eu quem publiquei, e eu como jornalista tenho a obrigação de perguntar para a senhora.
Ela está lançando um nome, telespectador.
Não, não. Não, saiu no jornal hoje, na Folha de S.Paulo, eu não posso deixar de perguntar, presidente.
Eu gosto muito do Trabuco, eu gosto muito do Trabuco. Agora, você me desculpa, Adriana, eu não acho que seja o momento nem a hora de discutir nomes do próximo governo. No tempo exato eu darei o nome e o perfil de todos os meus ministros. Eu não vou só discutir um ministro, eu vou discutir o meu ministério. Eu disse nesse segundo turno das eleições: governo novo, ideias novas. Eu vou com muita tranquilidade, Adriana. Não tenho o menor interesse, nem acho que isso é importante para o país, de fazer uma discussão desse tipo agora.
Agora, é só para ver se eu entendi corretamente. A senhora pode fazer as mudanças de uma vez só então. Não seria uma mudança só na área econômica?
Não tenta especular, Adriana, porque eu não direi como eu farei. Eu estou no segundo dia depois da minha reeleição, você há de convir que agora é hora de a gente arregaçar as mangas, trabalhar, ver como é que melhora e conduz o país a uma situação de maior crescimento, discutindo com todos os setores. Eu não quero segregar ninguém. Agora, isso eu entendo que a imprensa tenha essa curiosidade, mas está cedo ainda.
Está certo. Presidente, mudando de assunto agora então, eu queria saber se a senhora teme que o seu próximo mandato seja de alguma forma uma espécie de um terceiro turno. Isso porque foi uma eleição muito acirrada e a gente sabe que nos próximos meses as investigações da Operação Lava Jato, operação que investiga o escândalo de corrupção na Petrobras, vão avançar. A senhora teme um terceiro turno, com uma relação muito acirrada com a oposição caçando escândalos, querendo, de alguma forma, desgastar a senhora a todo instante?
Olha, Adriana, eu não acredito em um terceiro turno porque quem tentar um terceiro turno está fazendo um desserviço ao Brasil. Uma eleição, num país democrático, é uma eleição, ganha quem conquista a maioria. E foi isso que aconteceu, eu conquistei a maioria. Agora, no que se refere ao escândalo da Petrobras, eu vou repetir o que eu disse durante toda esta campanha: eu vou investigar, eu vou me empenhar, doa a quem doer, não vai ficar pedra sobre pedra. Eu quero todas as questões relativas a esse e a todas as outras investigações sobre corrupção às claras. Eu tenho uma indignação com o que fizeram nesta última semana da campanha. Eu sou uma pessoa com uma trajetória política e uma integral dedicação à coisa pública. Jamais, na minha vida, houve uma única acusação. Eu não vou deixar esta acusação ser… “passada a eleição, se esquece as acusações de corrupção”. Eu não. Eu vou me empenhar ainda mais para que isso seja revelado, entendido e que fique claro quem são os responsáveis, doa a quem doer. Não terá o menor problema porque, antes de quererem investigar, eu quero investigar, eu quero saber.
Presidente, vamos falar de São Paulo agora, a maior economia do país, o maior colégio eleitoral e, também, a economia mais industrializada. Em São Paulo, a senhora ficou em segundo lugar, com uma diferença grande para o candidato Aécio Neves, 7 milhões de votos aproximadamente. Faltou uma atenção ao maior e mais importante estado do país? Como que a senhora vai reconquistar os paulistas?
Adriana, você sabe que eu fico pensando: como é possível a gente ficar olhando só detalhes desta eleição? Você podia ter me perguntado também por que é que eu tive 11 milhões de votos de diferença no Nordeste.
Eu te pergunto. Vamos falar de São Paulo e vamos falar do Nordeste também.
Sabe por quê? Eu vou te dizer por quê. Eu acredito que essa eleição, ela mostra algumas características do Brasil muito instigantes. Eu acho que houve uma grande transformação no Brasil nos últimos 12 anos. Eu não atribuo a minha eleição só ao fato de que pessoas melhoraram de vida, pessoas cresceram, pessoas tiveram pela primeira vez chance, igual o motorista que subiu em cima do teto do ônibus e gritava: “Eu consegui fazer o ProUni”. E ele estava no último ano – ele gritava – de Direito, ia virar um advogado, de motorista a advogado. Eu acho que isso explica uma parte. Mas, por exemplo, Adriana, em São Paulo nós estamos enfrentando a maior crise de água do Brasil. Até as vésperas do primeiro turno, ninguém tocava nesse assunto, com exceção dos candidatos de oposição. Se fosse com qualquer, eu diria assim, governo da situação, nós seríamos criticados diuturna e noturnamente. Me explica como e por que uma crise daquela proporção não se reflete numa campanha eleitoral.
A senhora não compreende?
Eu não compreendo, tenho muita dificuldade de compreender. Só posso atribuir ao fato dela não ter sido iluminada, ou seja, os refletores não foram colocados na crise. Então, essa…
Pela mídia, por quem?
Por mim é que não foi. Eu não vou aqui chegar a… mas acho que não houve uma informação correta para a população de São Paulo.
Agora, presidente qual é a Dilma Rousseff que sai das urnas? A senhora ontem, no seu pronunciamento, disse que a senhora ouviu o recado, que a senhora vai ser uma presidente melhor, qual a Dilma Rousseff que sai dessas urnas?
Olha, Adriana, eu acho que, como eu te disse, acho que na base da democracia… E eu acho que a gente tem de acreditar na democracia no Brasil, porque nós, nós já temos uma democracia razoavelmente sólida e madura. Nós temos de entender que toda democracia, ela manda um recado de mudança numa eleição. A eleição é um momento de mudança, e uma reeleição ainda é mais um momento de mudança. Por que, qual o recado que o eleitor está mandando para você? “Olha, eu acho que você acertou numas coisas, mas você tem de melhorar, você tem de fazer mais”. Ninguém quer que as pessoas façam o mesmo que fizeram. O recado que eles mandam para mim, eu acho que foram dois recados muito claros: mudança e reforma.
E qual é o recado que a senhora manda?
O recado para mim é esse. Eu vou buscar fazer as mudanças e as reformas que o Brasil exige. Todas elas.
Essa é a sua principal mensagem, para a gente terminar, a sua mensagem para o povo brasileiro?
Essa é a minha principal mensagem. Eu acredito que o Brasil vai ser um país mais moderno, mais inclusivo, mais produtivo, com mais solidariedade e mais oportunidades. Mas vai ser, também, um país que valoriza o trabalho e a energia empreendedora. Um país que cuida de todos, em especial dos pobres, das mulheres, dos negros e dos jovens, que foram os grandes segmentos da população que emergiram nesses 12 anos. Agora, com foco fundamental na educação, na cultura, na ciência e na inovação. Porque é um país que nós queremos moderno. Agora, para isso ocorrer nós temos de nos dar as mãos. É preciso que todo o país se dê as mãos e faça isso de forma conjunta. Isso não significa que eu estou querendo que as pessoas abandonem aquilo que acreditam. O que eu estou dizendo é que tem uma ponte para nós fazermos isso. Qual é a ponte? É que todos nós queremos o melhor para o futuro do Brasil.
Presidente, nosso tempo está acabando. Se a senhora pudesse resumir em uma palavra a sua nova postura no segundo mandato, qual seria essa palavra?
Diálogo.
Está certo. Muito obrigada. Eu quero, em nome do jornalismo da TV Record, agradecer mais uma vez por esta primeira entrevista exclusiva depois da reeleição e desejar para a senhora, como jornalista e como brasileira, bom trabalho, sucesso no seu segundo mandato.
Muito obrigada, Adriana. Muito obrigada.
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