O ex-presidente diz que, ao retornar ao Brasil, chegou a denunciar a Golbery do Couto e Silva – à época ministro-chefe da Casa Civil na gestão do general Ernesto Geisel (1974-1979) e um dos criadores do Serviço Nacional de Informações (SNI) – que intelectuais em poder dos militares estavam sofrendo tortura. Ele diz ainda que, comparado ao que aconteceu com outras vítimas da ditadura, “nada” sofreu com o golpe.
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“Eu não fui torturado, mas vi gente torturada. Disse isso para ele [Golbery]”, declara FHC, lembrando que criticava a tortura “publicamente”. “O que se passou comigo não foi nada comparado ao que outras pessoas passaram. Mas, naquele tempo, era muito difícil ser democrata. Hoje todo mundo é, mas naquele tempo era ato de coragem.”
Em longo resgate de suas memórias, FHC lembra passagens como a repressão à imprensa e a atmosfera na Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais, onde lecionava Sociologia. “Eles tocavam a Internacional Comunista dia e noite”, recorda o ex-presidente, referindo-se ao famoso hino socialista e lembrando alguns de seus percalços durante os “anos de chumbo”. “Eu fui para o Chile com a expectativa de voltar logo, mas fomos vendo que, voltar, não voltava. O reitor não renovou meu contrato. Eu perdi o lugar”, emendou o ex-presidente, antes de narrar como começou a ser investigado pelos militares.
“O fato é que decretaram a minha prisão. Havia várias alegações, algumas bastante ridículas. Uma é a de que eu havia sido – e fui – tesoureiro do Centro de Estudos de Defesa do Petróleo, que era a favor de criar a Petrobras. Meu pai era presidente desse centro em São Paulo. Isso, naquela época, era subversão”, lembra FHC.
No fim do depoimento, ele diz que era especialmente difícil passar pelo arbítrio militar em razão de suas ligações com as Forças Armadas. A começar pelo pai, o general de brigada Leônidas Cardoso. “Dentro de mim não podia ter um sentimento muito anti”, observa.
Confira a íntegra do depoimento em vídeo: