Após dez anos de hegemonia absoluta, o Campo Majoritário do PT, corrente dominante do partido que elegeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não conseguiu vencer a disputa no primeiro turno e deve enfrentar, na segunda etapa de votação, uma aliança das esquerdas da legenda. Com 74% dos votos apurados, o segundo boletim parcial da eleição para presidente do partido, divulgado na noite de ontem, mostrava o candidato do Campo, deputado Ricardo Berzoini (SP), na frente da disputa, com 42,8% dos votos (80.750). Mesmo sem a confirmação oficial, o candidato da Articulação de Esquerda, Valter Pomar, que tinha com 17% das intenções (32.160 votos), deve ser o concorrente de Berzoini.
Na contagem dos votos da eleição realizada no domingo, Valter Pomar é seguido por Plínio de Arruda Sampaio, com 13,4% (25.269), apoiado pela corrente radical Ação Popular Socialista. Em quarto lugar, estava Raul Pont, da Democracia Socialista, com 12,7% dos votos, e em quinto, Maria do Rosário, do Movimento PT, com 12%.
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Apoio decisivo
O apoio de última hora de aliados da ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy a Pomar – e não a Berzoini – foi decisivo no resultado positivo do candidato da Articulação de Esquerda, que deve vencer as eleições no estado de São Paulo, reduto da corrente dominante do partido. “O Campo Majoritário vai ter de mudar de nome”, disse Pomar. “Pelo menos 55% dos petistas votaram nos candidatos e chapas de oposição e quem for ao segundo turno tem chance real de vitória.”
Antes da eleição para a presidência do PT, havia um pacto entre as cinco correntes de esquerda de não-agressão. Contudo, denúncias de irregularidades na votação de anteontem devem dificultar uma união contra o Campo Majoritário. Plínio de Arruda Sampaio, da Ação Popular Socialista, não deve apoiar Valter Pomar num eventual segundo turno, por conta de acusações de voto de cabresto em São Paulo. Raul Pont, que despontava em quarto, também prepara recursos semelhantes contra a corrente de Pomar.
PublicidadeMesmo com a indefinição das esquerdas, pelo menos o Movimento de PT, corrente de centro, decidiu não apoiar ao Campo Majoritário no segundo turno. “Pela primeira vez, o Movimento PT estará numa situação de oposição ao Campo Majoritário, caso não cheguemos ao segundo turno”, disse a candidata, deputada Maria do Rosário (PT-RS). A tendência do Movimento do PT é apoiar ou o deputado estadual gaúcho Raul Pont ou Valter Pomar.
O presidente do interino do PT, Tarso Genro, afirmou que o resultado enterraria o Campo Majoritário de vez. “Está absolutamente claro que nenhuma chapa ou nenhum campo a ser formado terá maioria absoluta. Como não haverá maioria absoluta, as decisões que o partido vai tomar não serão decisões automáticas por maioria quantitativa, serão decisões mais dialogadas, mais fundamentadas", disse.
Mesmo não havendo ainda resultados parciais sobre a eleição da chapa para o Diretório Nacional – que é independente da disputa para presidente -, a tendência é que o resultado de Berzoini se repita, ou seja, que o Campo Majoritário deixe de ser predominante no partido.
O comparecimento às urnas na eleição do PT foi de quase 40%, superior ao dobro do quórum mínimo e bem acima do esperado pela atual direção. O resultado final do primeiro turno das eleições internas do PT só deve ser divulgado no fim da semana. A atual direção petista decidiu dar posse à nova diretoria dias após a proclamação do resultado final – o segundo turno está marcado para 9 de outubro.
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