Fábio Góis
Em artigo publicado neste domingo (13) no jornal O Estado de S. Paulo, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, classificou como “decepcionante” a proposta de redução na emissão de gases de efeito estufa que os Estados Unidos, país mais poluidor da atualidade, levou à Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-15), que começou no último dia 7 e vai até 18 de dezembro em Copenhague, na Dinamarca. Para Dilma, que está à frente de uma delegação de cerca de 600 brasileiros, o Brasil vai à convenção na condição de país que mais reduziu emissão de poluentes.
No artigo, a ministra diz que, em relação aos níveis de emissão de gases de efeito estufa registrados em 1990, “a proposta dos Estados Unidos equivale a cortar meros 4% de suas emissões”. “É decepcionante, para um país que responde por 29% das emissões globais”, lembrou Dilma, para quem a convenção frustrará se apresentar propostas “financeiramente limitadas e institucionalmente incertas”.
O descontentamento da ministra está centrado, entre outros fatores, no anúncio de corte de 17% das emissões feito pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e isso tendo como referência as taxas de emissão registradas no ano de 2005. “Circunstâncias da economia mundial não justificam o abandono do planejamento multilateral adequado, de longo prazo e com respeito à soberania dos países”, reclama Dilma, candidata do governo à sucessão presidencial de 2010.
“O Brasil vai a Copenhague como o país que já promoveu a maior redução em suas emissões de CO2 [gás carbônico] (…). Não podemos nos conformar com números mesquinhos, que não levem em conta o estoque acumulado no tempo nem os índices per capita de emissão de CO2 de cada país”, defende a ministra, acrescentando que a União Européia e os demais países desenvolvidos também devem se comprometer com metas significativas de redução de gases. Autoridades brasileiras consideram insuficiente qualquer meta de diminuição de emissões abaixo de 20%.
Momento crucial
A COP-15 é considerada a reunião mais importante da história recente em torno de questões ambientais. O Brasil tem sido pressionado a assumir uma posição de liderança nas negociações da convenção. O governo brasileiro manterá a posição de não aceitar que as economias emergentes tenham as mesmas responsabilidades dos países ricos.
Na reunião de Copenhague, 192 países-membros da ONU buscarão um acordo global mais efetivo que o Protocolo de Quioto, que deixou de ser assinado pelos Estados Unidos, nação com os maiores índices de poluição do meio ambiente (cerca de 30% das emissões de gases poluentes, praticamente um terço do total). Desde que o ex-presidente dos EUA George W. Bush deixou de assinar o protocolo, as negociações sobre metas ambientais estão paralisadas.
Houve pressão de entidades ambientalistas, setores da sociedade civil e até de grupos empresariais para que o Brasil bancasse uma proposta ambiciosa, com metas de grande redução de impacto ambiental (leia mais sobre a ação de ONGs ambientais http://www.congressoemfoco.com.br/noticia.asp?cod_Canal=1&cod_Publicacao=30063). A postura arrojada, acreditam, acabaria por impor aos países desenvolvidos compromissos igualmente significativos em nome do meio ambiente.
A proposta de medidas voluntárias levada pelo Brasil a Copenhague prevê metas de redução entre 36,1% e 38,9% até 2020. Medidas como a diminuição de 80% e 40% da degradação ambiental nos biomas da Amazônia e do Cerrado, respectivamente, serão responsáveis por um corte de quase 700 milhões na redução de gás carbônico, de acordo com o texto assinado por Dilma.
Movimento verde
Enquanto as autoridades tentam um acordo no plano institucional, ativistas de todo o mundo dão trabalho para a polícia dinamarquesa. Hoje, em mais um ato em defesa do meio ambiente, cerca de 30 mil manifestantes se reuniram na área central de Copenhague para protestar contra os principais países poluidores e pedir um acordo satisfatório entre as nações. Segundo a polícia, tratava-se de uma marcha não autorizada: houve confronto e cerca de 200 pessoas foram detidas.
Ontem (sábado, 12), em outra manifestação com milhares de pessoas de vários países, cerca de 900 manifestantes foram presos depois que um grupo encapuzado lançou pedras e bombas contra os policiais. A maioria foi liberada hoje, e apenas 16 continuam detidos, segundo informações da polícia dinamarquesa.
Nos arredores do local onde é realizada a conferência, dezenas de milhares de pessoas fazem protestos pacíficos em defesa do meio ambiente.
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