Guillermo Rivera
Em depoimento às CPIs do Mensalão e dos Correios, o banqueiro Daniel Dantas negou veementemente que as empresas de telecomunicações controladas pelo Grupo Opportunity, presidido por ele, tenha financiado o mensalão. “Não somos a fonte do mensalão”, declarou. As duas CPIs suspeitam que pagamentos feitos pelas empresas Telemig Celular e Amazônia Celular, ambas sob o controle do Opportunity, às empresas do empresário mineiro Marcos Valério financiaram o esquema de pagamento de propinas mensais a deputados.
Dantas informou que os valores pagos pelas duas empresas de telefonia foram destinados estritamente para publicidade, dentro dos padrões de mercado. Os parlamentares investigam, no entanto, se os valores dos contratos foram superfaturados para beneficiar as empresas de Valério e, por tabela, partidos políticos da base aliada.
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No depoimento, o banqueiro leu um comunicado da Telemig Celular e da Amazônia Celular sobre os contratos de publicidade dessas empresas com as agências de Marcos Valério. As duas operadoras de telefonia informaram que não têm como checar a contabilidade das agências de publicidade SMPB e da DNA a fim de saber como elas haviam sido contratadas. E como seus fornecedores prestaram contas dos valores pagos.
No caso da Telemig, segundo Dantas, se comparada os investimentos de publicidade com as demais empresas do setor, a empresa está entre as menores na relação gastos com publicidade e faturamento. O banqueiro argumentou que as despesas com publicidade da empresa são regulares, cerca de R$ 20 milhões. O relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), rebateu os dados de Dantas ao revelar que, a partir de 2003, os pagamentos à Telemig para as agências de Valério dobraram para R$ 40 milhões. “Ele (o pagamento) sobe um pouco quando a Telemig faz a migração teconlógica”, respondeu o banqueiro.
Sobre as ligações telefônicas que a SMPB fez para a sede do Opportunity, no Rio, Dantas justificou: “É possível que algum executivo da Telemig tenha ligado para a agência de publicidade que atende a Telemig e tratado de algum assunto”.
Campanhas políticas
O presidente do Opportunity afirmou também que o grupo não fez contribuições a campanhas políticas, em 2002, fossem elas por meio do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares ou de Marcos Valério. Dantas disse ainda que conheceu Marcos Valério apenas superficialmente, num único encontro em São Paulo, ocorrido nos corredores do escritório que o Opportunity divide com várias empresas, entre elas a Telemig Celular. Dantas acrescentou que nunca foi apresentado a Delúbio Soares.
O banqueiro tampouco confirmou que o empresário Marcos Valério tivesse atuado como um emissário para negociar a venda da Telemig Celular – companhia na qual o Opportunity tem participação – para a Portugal Telecom. “Marcos Valério nunca teve uma conversa conosco sobre Portugal Telecom”, afirmou. “Nunca tive a necessidade de contar com intermediário nessa transação”, completou Dantas. A suspeita inicial era de que Marcos Valério tivesse ido a Portugal para tentar obter R$ 24 milhões para o PT e o PTB e intermediar a venda da Telemig Celular.
Fundos de pensão
Dantas aproveitou o depoimento conjunto às CPIs para criticar as supostas interferências políticas no investimento de recursos dos fundos de pensão. Uma delas data do início do governo Luiz Inácio Lula da Silva. O empresário declarou que foi procurado pelo então presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, que o teria pressionado para abrir mão dos direitos do grupo com os fundos de pensão.
Considerado no mercado como investidor brilhante, Dantas é um controverso personagem do mercado financeiro nacional. Em 1997, o Citibank, um dos maiores conglomerados financeiros do mundo, delegou ao Opportunity de Dantas a gestão de fundos de pensão brasileiros. Mas, tanto o City como os fundos de pensão brigam na justiça para destituir Dantas da gestão desses negócios. Ambos argumentam que a gestão do banqueiro causou prejuízos milionários.
Em outubro de 2003, os fundos de pensão retiraram o Opportunity e o banqueiro do Fundo Nacional, órgão gestor criado para arrematar as telecomunicações em leilão, no ano de 1998, por quebra do direito fiduciário (confiança). O mesmo aconteceu, no início deste ano, com o acerto do City com o Opportunity. O conglomerado financeiro cobra na justiça US$ 300 milhões (R$ 750 milhões) do Oportunity por ter agido de acordo com interesses próprios.
O presidente do Opportunity depõe beneficiado por um habeas corpus preventivo, concedido ontem à noite pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que garante a ele o direito de não ser preso caso se recuse a dar respostas que o incrimem.
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