Em entrevista coletiva, o procurador do Ministério Público Federal Diogo Castro, integrante da força-tarefa da Lava Jato, disse que há semelhança entre os dois esquemas. “Há similaridades com metodologia adotada no mensalão, pelo uso de instituição financeira para pagamento de empréstimos fraudulentos, tendo como retorno favores do governo federal. Neste caso, o pagamento foi a utilização de contrato com a Petrobras”.
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Marcos Valério, que deve ser denunciado por lavagem de dinheiro na Lava Jato, foi considerado o principal operador do mensalão. Ele acabou condenado a 37 anos de prisão. Desta vez, ele sequer foi ouvido pelos investigadores. A força-tarefa analisou um depoimento prestado por Valério em 2012 à Procuradoria-Geral da República em que ele não contou que utilizou sua empresa, a 2S Participações, para intermediar um empréstimo de R$ 6 milhões ao empresário Ronan Maria Pinto, preso preventivamente nesta sexta-feira.
Outro personagem do mensalão que aparece na 27ª fase da Lava Jato é Silvio Pereira, ex-secretário-geral do PT. À época, ele fez acordo para prestar serviços comunitários para escapar do julgamento no Supremo Tribunal Federal. Segundo o procurador Diogo Castro, Sílvio foi “o principal articulador do PT com Marcos Valério e há indícios de que ele arquitetou o esquema de empréstimo fraudulento junto ao banco Schahim”.
Segundo os procuradores, investigados que assinaram acordos de delação premiada revelaram que o empréstimo do banco Schahim no valor de R$ 12 milhões se destinava ao PT. O pagamento, de acordo com eles, foi feito mediante a contratação da Construtora Schahin como operadora do navio-sonda Vitória 10.000, da Petrobras, em 2009.
O terceiro envolvido no mensalão que aparece nesta etapa da Lava Jato é Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT e condenado na Ação Penal 470. Nesta sexta-feira, Delúbio foi levado coercitivamente para depor.
O juiz Sérgio Moro, responsável pela condução da Lava Jato na Justiça Federal, também atuou na ação do mensalão. Moro trabalhou como assistente da ministra do STF Rosa Weber no julgamento dos réus.
Celso Daniel
Outro caso levantado pela Carbono 14 é a morte do ex-prefeito de Santo André (SP) Celso Daniel. Em depoimento prestado em 2012, Marcos Valério afirmou ter pedido para ao pecuarista José Carlos Bumlai que providenciasse R$ 6 milhões para repassar a Ronan Maria Pinto, dono do jornal Diário do Grande ABC. Segundo Valério, o empresário estava chantageando o ex-presidente Lula, o então secretário da Presidência Gilberto Carvalho e o ex-ministro José Dirceu, por ter informações comprometedoras a revelar sobre a morte de Celso Daniel.
O próprio nome da operação, ‘Carbono 14’, refere-se a procedimentos usados pela ciência para a datação de itens e a investigação de fatos antigos.
Repostas
Sílvio Pereira e Ronan Maria Pinto estão presos. A defesa de Sílvio José Pereira, até o momento, não se posicionou sobre o caso. Por meio de nota, Ronan Maria Pinto disse “não ter relação com os fatos mencionados e estar sendo vítima de uma situação que com certeza agora poderá ser esclarecida de uma vez por todas”. O empresário acrescentou que sempre esteve à disposição para esclarecer as dúvidas dos investigadores sobre o caso. Marcos Valério e Delúbio Soares não foram encontrados até o fechamento desta reportagem.