O exercício do mandato de legislador coloca o indivíduo em uma situação de receber inúmeras mensagens por dia, principalmente via internet. Acredito que por meio dos mecanismos eletrônicos recebo mais de mil mensagens diariamente. Dependendo do que se está votando na Câmara dos Deputados, chego a receber cerca de duas mil mensagens em 24 horas. Não há como responder a todas.
A maioria das mensagens é educada e solicitando apoio para um ou outro projeto de leis. Muitas pedem esclarecimentos sobre a minha posição política em relação à determinada proposição. Outros fazem sugestões.
No geral, respondo a todas que merecem resposta. Não merece resposta e deixo de responder algumas: as agressivas, grosseiras, caluniosas, mentirosas e mal educadas. Aliás, gostaria que estas mensagens não viessem acompanhadas do anonimato. Gostaria que viessem com nome e endereços verdadeiros e corretos. Se assim fosse, facilitaria a minha vida e a do autor ou autora da mensagem: daria a essa pessoa a oportunidade de na justiça provar o que está afirmando. A essas pessoas, repito o pedido: sejam honestas e enviem a mensagem com nome e endereço correto para facilitar a vida do delegado e do oficial de justiça.
Na semana passada, eu e provavelmente outros deputados também receberam a seguinte mensagem (reproduzo como chegou): “senhores deputados. peço encarecidamente que não aprovem o projeto de lei do senhor deputado Jean Wyllys que visa legalizar as casas de prostituição no Brasil. Peço-lhes também encarecidamente que continuem a manter como crime, pela lei, as casas e boates de prostituição, pois na época em que eu ia nesses lugares, por 3 vezes as prostitutas me deram boa noite cinderela e me roubaram e roubaram vários de meus amigos também que já foram em casas e boates de prostituição. elas fazem isso também por ordem dos cafetões delas. então peço-vos que não aprovem esse projeto de lei do deputado Jean Wyllys de legalizar as casa de prostituição. Obrigado!”.
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Por questão ética, não revelo o endereço eletrônico do autor da mensagem, mas por achá-la sui generis é que a reproduzo. Li-a, achei-a engraçada e me pus a perguntar: será que o “missivista” é um gozador, um otário ou é um autêntico preocupado. Na dúvida, prefiro ficar com a primeira interpretação: é um gozador.
É um gozador até porque aprovar ou não tal lei não vai influenciar em nada o funcionamento dessas casas. Hoje, elas já funcionam dentro da legalidade: é só tirar o alvará e pagar os impostos e está tudo legal. O PL diz respeito a regulamentar a profissão de prostituta, e não as casas.
É um gozador porque a regulamentação das casas e da profissão de prostituta não vai deixar de uns e outros caírem no “boa noite, cinderela”. E, muitos caem, não por gozação, mas por serem otários. Se imaginam “cinderelos”. Explico: se olham no espelho, se acham lindos e maravilhosos e se imaginam grandes conquistadores. A partir daí, saem para conquistar, na concepção dele, as mais belas mulheres. Às vezes, uma dessas “mais belas” é uma golpista e “boa noite, cinderelo”.
Se não é gozador e nem otário, o que posso pensar de um sujeito que confessa que por três vezes caiu no golpe do “boa noite, cinderela”? É o cinderelo que se deu mal? Ou é um inocente na vida.
Pode ser esta última alternativa a verdade. Esse inocente que me enviou a mensagem está verdadeiramente preocupado em evitar outras vítimas. Como posso ajudá-lo?
Difícil, né? Mas creio que, se sempre caiu no “boa noite, cinderela” dentro de casas de prostituição, o melhor é não frequentar essas casas. Boa noite, cinderelo.
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