Há exatos 30 dias, o presidente Michel Temer (MDB) assinava – em meio a denúncias de corrupção, às voltas com inquéritos e sem conseguir aprovar a reforma da Previdência – o decreto de intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro. Sem orçamento definido, o que resultará em julgamento de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF), a ação militar assim continua, enquanto os casos de barbárie se multiplicam diariamente, entre eles a execução da vereadora do Psol Marielle Franco, na última quarta-feira (14), e de seu motorista, Anderson Pedro Gomes.
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Enquanto isso, até o ministro do novíssimo Ministério da Segurança Pública, Raul Jungmann, queixa-se de falta de dinheiro para cumprir sua função institucional. Um ministro “sem equipe, sem dinheiro e sem teto”, como o próprio Jungmann disse ao repórter do jornal O Globo Rodrigo Taves. Deputado federal do PPS licenciado, Jungmann diz ainda não saber de quanto precisa, mas prometeu análises pertinentes ao financiamento da pasta na próxima semana.
Segundo a coluna Painel, da Folha de S.Paulo, além de não detalhar o custeio das ações dos interventores, o governo sequer sabe como ou onde obter os recursos. Mesmo assim, informa o jornal, a equipe econômica de Temer não recebeu qualquer pedido dos militares nesse sentido.
“Na área econômica, a avaliação é de que, quanto mais tempo passar sem uma definição, mais difícil será para o governo remanejar os recursos de outros setores do governo para a segurança pública”, diz a coluna assinada por Daniela Lima.
Levantamento da organização não governamental Fogo Cruzado, trabalho feito a pedido do portal UOL, foram 678 os registros de tiroteio e disparos de arma de fogo na região metropolitana do Rio de Janeiro, entre 16 de fevereiro, quando teve início a intervenção, e 16 de março. O número é 4% inferior em relação aos 30 dias anteriores, informa o balanço. Já na cidade do Rio, a diminuição dos incidentes foi de 449 para 385 casos, uma redução de 14%.
Preço da morte
Na esteira do duplo assassinato, tanto o ministro da Secretaria de Governo, o também emedebista Carlos Marun, quanto o comandante geral do Exército, Eduardo Villas Bôas, afirmaram que a morte da socióloga negra de 39 anos, quinta vereadora mais votada do Rio nas eleições de 2016, demonstra – e até “aumenta”, segundo o militar – a importância das Forças Armadas no estado.
“O assassinato aumenta a importância da intervenção. Este crime é mais um de tantos milhares que afetam o dia-a-dia da população”, declarou Villas Bôas nesta sexta-feira (17), acrescentando que o trabalho de combate ao crime no Rio precisa ser “amplo, profundo e de longo tempo” para devolver à sociedade a “percepção de segurança”.
Na quinta-feira (15), Marun já havia dito que a execução de Marielle é “mais uma evidência” de que a gestão Temer está “no caminho certo”. Espécie de porta-voz do Palácio do Planalto –tarefa que deveria caber ao discreto diplomata Alexandre Parola –, Marun deu um recado aos bandidos: o governo não se intimidará com o contundente assassinato de Marielle e Anderson.
“É um crime bárbaro, que atinge uma representante do povo, e nós temos a mais absoluta certeza de que em breves dias, em função até da atuação da intervenção, nós teremos esse crime solucionado”, declarou o ministro.
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