As divergências contra a reforma trabalhista patrocinada na gestão Michel Temer, já aprovada na Câmara e à espera de votação no Senado, transpuseram os tapetes dos Salões Verde e Azul que cobrem as Casas legislativas, respectivamente, e entraram em campo. Literalmente. Em outro tipo de “tapete”, o do gramado do Maracanã, o primeiro jogo do Campeonato Brasileiro de Futebol de 2017 – a almejada série A do Brasileirão – ficou marcado com uma manifestação dos jogadores de Flamengo e Atlético Mineiro contra as mudanças que o governo promove no Congresso para alterar as relações entre trabalho e capital.
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No clássico deste sábado, o pontapé inicial do Brasileirão foi precedido no gramado por um ato organizado pela Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol (Fenapaf), que considera a reforma trabalhista de Temer danosa aos profissionais no que diz respeito à Lei Pelé, que regulamenta, entre outras disposições, os vínculos trabalhistas dos desportistas (veja a íntegra da Lei 9615/1998). Os atletas adentraram o gramado com uma faixa preta no braço, em sinal de luto.
“Estão propondo uma alteração na Lei Pelé que é absurda, inaceitável. Protestamos contra essa iniciativa e lutaremos para que ela fracasse. Nós, que temos a chance de jogar nos principais clubes do futebol brasileiro, defenderemos até o fim os direitos dos jogadores que não têm voz, principais prejudicados nessa história”, protesta a Fenapaf, por meio de nota.
A entidade estima que, caso virem lei da forma como foi aprovada na Câmara, as alterações na legislação trabalhista impõem prejuízos a mais de 30 mil profissionais do esporte. “Modificação na estrutura do direito de arena; parcelamento de férias; repouso semanal remunerado em dois períodos de 12 horas; fim do recesso coletivo do calendário; e insegurança contratual estão nas propostas de mudança que tramitam no Congresso Nacional e causam revolta na categoria”, acrescenta a entidade.
Levantamento realizado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em 2016 mostra que dos 28.203 jogadores de futebol profissionais registrados no país no período, só 1.106 deles recebiam salário mensal de R$ 5 mil. A grande maioria (82%), acrescenta o trabalho, ganha até R$ 1 mil ao mês – um pouco mais do que o salário mínimo à época (R$ 880; em 2017, R$ 937).
O levantamento mostra que apenas 226 atletas do futebol – quase a totalidade desse número disputando divisões da elite do Brasileirão – têm salário superior a R$ 50 mil por mês. Isso equivale a 0,8% da categoria.
Leia o manifesto levado a campo neste sábado:
“Fenapaf convoca categoria para Ato de Protesto no Brasileirão
A Fenapaf e os sindicatos estaduais filiados convocam os atletas para o 1º Ato de Protesto contra as modificações no texto da Lei Pelé que trazem prejuízo à quase 30 mil profissionais no País.
Modificação na estrutura do direito de arena, parcelamento de férias, repouso semanal remunerado em 02 períodos de 12 horas, fim do recesso coletivo do calendário e insegurança contratual estão nas propostas de mudança que tramitam no Congresso Nacional e causam revolta na categoria.
O Clube de Capitães da Fenapaf organiza o Ato para a 1. rodada do Brasileirão.”