O ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento, senador pelo PR do Amazonas, subiu nesta terça-feira (2) à tribuna do Senado para falar pela primeira vez, publicamente, sobre a crise que abala a pasta nos últimos meses. Depois de três semanas de licença da Casa, Nascimento fez um discurso de quase uma hora para rebater denúncias de corrupção veiculadas pela imprensa. Em seguida, passou a se defender de apartes oposicionistas e receber apoio de membros do PR. Em um momento de exaltação, Nascimento disse que ele e seu partido, acusado de montar um esquema de desvio de dinheiro público do ministério, não são “lixo”.
“Quero reafirmar que o Partido da República, cuja Presidência Nacional eu reassumi, não é lixo para ser varrido da administração. Nosso partido carrega tanto as qualidades quanto alguns dos defeitos de todos os partidos, não somos melhores, nem piores do que ninguém. Ao contrário, temos como prática, diante de denúncias, garantir que eventuais deslizes cometidos por nossos filiados sejam investigados e, se comprovados, punidos”, protestou Nascimento, antes de ser aparteado pelos líderes de bancada Alvaro Dias (PSDB-PR) e Demóstenes Torres (DEM-GO) e defendido por correligionários como Magno Malta (PR-ES), líder do PR no Senado, e Blairo Maggi (PR-MT).
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A certa altura do discurso, Nascimento lembrou de quando teve de se licenciar do Ministério dos Transportes, na equipe ministerial de Lula, para tentar a reeleição ao Senado. Dilma estava em campanha à Presidência, e foi nominalmente citada quando o senador falou do volume de investimentos destinado para a pasta à época – “um dos maiores” entre os ministérios.
“Quando saí, junto com a presidenta Dilma, então ministra [da Casa Civil], o PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] do Ministério dos Transportes significava um pacote de investimentos da ordem de R$ 58 bilhões; quando retornei, já estava em R$ 72 bilhões. Dediquei os primeiros 90 dias de gestão a uma imersão em todos os projetos e ações programadas em andamento [na pasta]”, destacou o ex-ministro, dizendo-se o primeiro do governo a detectar “a disparada dos gastos previstos”. Ele disse ainda ter comunicado a detecção do aumento orçamentário tanto à presidenta Dilma quanto à ministra Miriam Belchior (Planejamento). “Determinei um pente-fino para conhecer a origem de tal movimentação.”
A crise no Ministério dos Transportes começou há cerca de um mês, com matéria da revista Veja que informava sobre o descontentamento da presidenta Dilma Rousseff com superfaturamentos e aditivos desnecessários em obras do Ministério dos Transportes. A reportagem acrescentava que esses superfaturamentos se deviam à existência de um esquema de cobrança de propina por parte do PR, o que levou a uma devassa nos indicados pela legenda ao ministério.
“Eu não sou lixo! O meu partido não é lixo! Nossos sete senadores não são lixo! Nós somos homens honrados e queremos que seja apurada pelo menos a minha participação como senador da república no Ministério dos Transportes. Para isso, eu me antecipei. Fui acusado, julgado e condenado sem apresentação de uma prova sequer que pudesse sustentar as ilações que me foram lançadas”, acrescentou, em menção ao fato de que foi à Procuradoria Geral da República (PGR), em 7 de julho, pedir investigação sobre a própria atuação, em seguida ao seu pedido de demissão.
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“É assim que procede um homem que tem vergonha na cara. Não mereço isso! Tenho 30 anos de vida pública!”, bradou, reclamando que os anos de “dedicação à vida pública” foram ignorados no calor das denúncias. Ele protestou ainda sobre o tratamento que recebeu do Executivo tão logo ganharam repercussão as notícias negativas sobre o Ministério dos Transportes.
“Renunciei ao cargo de ministro no momento em que, diante dos ataques violentos contra a mim deferidos, não recebi do governo o apoio que me havia sido prometido pela presidenta Dilma Rousseff”, declarou Nascimento, para quem as notícias veiculadas guardam “profundo distanciamento da verdade”.
Nascimento discursou por cerca de 30 minutos, e depois passou a falar sem recorrer a textos. Visivelmente emocionado, disse que não usaria dos mesmos expedientes da imprensa para se defender. “Eu vou à Justiça, e vou restaurar a verdade. Tenho certeza de que vou reparar a injustiça que cometeram comigo e com meu filho”, avisou, em menção à reportagem do jornal O Globo sobre Gustavo Morais Pereira, dono de empresa que teve o espetacular crescimento de 86.500% nos últimos anos, e que indiretamente negociava com empresas beneficiárias de verbas do ministério.
Pesa sobre Nascimento outra reportagem, originalmente publicada pelo jornal Correio Braziliense em setembro de 2009 e republicada em julho pela revista IstoÉ , em que ele aparece em um vídeo negociando com o presidente de honra do PR, Valdemar Costa Neto, a liberação de verbas públicas. A negociata visava levar para o partido o deputado Davi Alves da Silva Júnior (MA), que então integrava o PDT.
Durante o discurso, Nascimento fez um breve relato acerca de sua trajetória e das iniciativas que tomou à frente do ministério. Disse que teve a vida privada injustamente invadida, bem como foi a de seus familiares. Sobre a presidenta Dilma, ressaltou a boa “relação pessoal” e acrescentou ter aceitado seu convite para o ministério para “dividir com ela as responsabilidades e desafios de construir um novo Brasil”.
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