O agora ex-ministro Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral da Presidência) já começou sua série de declarações depois de ter sido exonerado do posto depois de uma semana inteira de ofensas, desmentidos e suspeitas de fraude eleitoral. Chamado de mentiroso pelo vereador Carlos Bolsonaro (PSL-RJ), filho de quem o sobrenome sugere, Bebianno declarou à rádio Jovem Pan que foi demitido pelo parlamentar fluminense e que ele, Carlos, “fez macumba psicológica na cabeça do pai”.
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“Minha indignação é ter servido como soldado disposto a matar e morrer e, no fim da linha, ser crucificado e tachado de mentiroso, porque Carlos Bolsonaro fez macumba psicológica na cabeça do pai. Eu fui demitido pelo Carlos Bolsonaro. Simples assim”, queixou-se Bebianno, coordenador da campanha de Jair Bolsonaro e, como presidente interino do PSL durante o pleito, suspeito de ter capitaneado esquema de desvio do fundo partidário por meio de candidaturas laranjas.
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Veja a íntegra da entrevista:
Na entrevista, Bebianno parece querer preservar Bolsonaro e até declara seu “respeito, afeto e amor” pelo presidente, mas diz que ele “comete deslizes” por não ser “perfeito”. Já em relação a Carlos Bolsonaro, o ex-ministro não poupa críticas. Diz que ele tem um temperamento agressivo (“Tem agressividade acima do normal”) e é reconhecido como “destruidor de reputações” no Rio de Janeiro.
“Tenho certeza de que ele [Carlos] é a pessoa que mais sofre com essa agressividade, esse ódio. A impressão que eu tenho é que ele vive dentro dessa grande caixa de teorias da conspiração contra o pai e sua família. Ele tem que entender que não vamos governar com base no ódio”, analisou Bebianno, acrescentando que o vereador “chorou compulsivamente” em seu colo quando soube da facada que o pai tomou em 6 de setembro de 2018, a um mês das eleições.
Desgaste em viva-voz
Como este site mostrou mais cedo, em réplica ao site da revista Veja, mensagens de áudio mostram que Bebianno de fato manteve conversas com o presidente, como vinha sendo negado por ele e seu filho Carlos, sobre a suspeita de fraude eleitoral envolvendo o PSL – e que, noticiada pela Folha de S.Paulo, foi a principal razão da queda de Bebianno. Depois de chamado de mentiroso pelo vereador no Twitter, com aval e retuíte do pai, o ex-aliado não só comenta o assunto com Bolsonaro como lança suspeitas ao presidente nacional do PSL, Luciano Bivar, responsabilizando-o pelo manuseio do fundo partidário.
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O partido é suspeito de criar candidaturas laranjas durante as eleições de 2018, à época sob comando de Bebianno. Segundo a reportagem da Folha, o PSL criou em Pernambuco uma “candidata laranja”, nas eleições de 2018, para ter acesso ao dinheiro público do fundo partidário. Ela recebeu R$ 400 mil do PSL durante o pleito. E apenas 274 votos do eleitorado pernambucano.
Em demonstração de lealdade ao presidente, Bebianno tenta tranquilizar Bolsonaro em uma série de 13 mensagens de áudio (escute a íntegra e veja a transcrição abaixo), levadas a público em primeira mão pelo site de Veja. Dizendo que o presidente foi envenenado, como que a acusar Carlos Bolsonaro por tal “envenenamento”, o ex-ministro nega participação em desvio de dinheiro público por meio das candidaturas laranjas.
Escute a troca de mensagens entre Bolsonaro e Bebianno:
Veja abaixo a transcrição dos áudios, por tópicos (transcrição sem correção de linguagem):
IMPRENSA
Bolsonaro critica Bebianno pela audiência marcada no Palácio do Planalto com o vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, Paulo Tonet Camargo.
Bolsonaro: Gustavo, o que eu acho desse cara da Globo dentro do Palácio do Planalto. Eu não quero ele aí dentro. Qual a mensagem que vai dar para as outras emissoras? Que nós estamos se aproximando da Globo. Então não dá para ter esse tipo de relacionamento. Inimigo passivo, sim. Agora… Trazer o inimigo para dentro de casa é outra história. Pô, cê tem que ter essa visão, pelo amor de Deus, cara. Fica complicado a gente ter um relacionamento legal dessa forma porque cê tá trazendo o maior cara que me ferrou – antes, durante, agora e após a campanha – para dentro de casa. Me desculpa. Como presidente da República: cancela, não quero esse cara aí dentro, ponto final. Um abraço aí.
MISSÃO PARÁ CANCELADA
O presidente ordena que Bebianno cancele a viagem ao estado do Norte com os ministros Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) e Ricardo Salles (Meio Ambiente).
Bolsonaro: Gustavo, uma pergunta: “Jair Bolsonaro decidiu enviar para a Amazônia”? Não tô entendendo. Quem tá patrocinando essa ida para a Amazônia? Quem tá sendo o cabeça dessa viagem à Amazônia? Um abraço aí, Gustavo, até mais.
Bolsonaro: Ô, Bebianno. Essa missão não vai ser realizada. Conversei com o Ricardo Salles. Ele tava chateado que tinha muita coisa para fazer e está entendendo como missão minha. Conversei com a Damares. A mesma coisa. Agora, eu não quero que vocês viajem porque… Vocês criam a expectativa de uma obra. Daí vai ficar o povo todo me cobrando. Isso pode ser feito quando nós acharmos que vai ter recurso. O orçamento é nosso, vai ser aprovado etc. Então essa viagem não se realizará, tá ok? Um abraço aí, Gustavo!
DISSE ME DISSE SOBRE LARANJAL
O presidente culpa a imprensa pelas versões de “fritura” do ex-ministro.
Bolsonaro: O caso incitando a saída é mais uma mentira. Você conhece muito bem a imprensa, melhor do que eu. Agora, você não falou comigo nenhuma vez no dia de ontem [quarta-feira, 13]. Ele [Carlos Bolsonaro] esteve comigo 24 horas por dia. Então não está mentindo nada, nem está perseguindo ninguém.
Bebianno: Capitão, há várias formas de se falar. Nós trocamos mensagens ontem três vezes ao longo do dia, capitão. Falamos da questão do [vice-presidente] institucional do Globo. Falamos da questão da viagem. Falamos por escrito, capitão. Qual a relevância disso, capitão? Capitão, as coisas precisam ser analisadas de outra forma. Tira isso do lado pessoal. Ele [Carlos] não pode atacar um ministro dessa forma. Nem a mim nem a ninguém, capitão. Isso está errado. Por que esse ódio? Qual a relevância disso? Vir a público me chamar de mentiroso? Eu só fiz o bem, capitão. Eu só fiz o bem até aqui. Eu só estive do seu lado, o senhor sabe disso. Será que o senhor vai permitir que eu seja agredido dessa forma? Isso não está certo, não, capitão. Desculpe.
MÁGOA
Bebianno revela mágoa com o filho de Bolsonaro e se defende: “Não sou mentiroso”.
Bebianno: Capitão, eu só prego a paz, o tempo inteiro. O tempo inteiro eu peço para a gente parar de bater nas pessoas. O tempo inteiro eu tento estabelecer uma boa relação com todo mundo. Minha relação é maravilhosa com todos os generais. O senhor se lembra que, no início, eu não podia participar daquelas reuniões de quartas-feiras, porque os generais teriam restrições contra mim? Eu não entendia que restrições eram aquelas se eles nem me conheciam. O senhor hoje pergunte para eles qual o conceito que eles têm a meu respeito. Sabe, capitão, eu sou uma pessoa limpa, correta. Infelizmente não sou eu que faço esse rebuliço, que crio essa crise. Eu não falo nada em público. Muito menos agrido ninguém em público, sabe, capitão? Então quando eu recebo esse tipo de coisa, depois de um post desse, é realmente muito desagradável. Inverta, capitão. Imagine se eu chamasse alguém de mentiroso em público. Eu não sou mentiroso. Ontem eu falei com o senhor três vezes, sim. Falamos pelo WhatsApp. O que é que tem demais? Não falamos nada demais. A relevância disso… Tanto assunto grave para a gente tratar. Tantos problemas. Eu tento proteger o senhor o tempo inteiro. Por que esse tipo de ataque? Por que esse ódio? O que é que eu fiz de errado, meu Deus?
ÁUDIOS x DIÁLOGOS
Bolsonaro discorda de Bebianno e diz que troca de áudios não são a mesma coisa que conversas.
Bolsonaro: Ô, Gustavo, usar da… Que usou do Whatsapp para falar três vezes comigo, aí é demais da tua parte, aí é demais, e eu não vou mais responder a você. Outra coisa, eu sei que você manda lá no [site] Antagonista, a nota [sobre a recusa de Bolsonaro em atender Bebianno] foi pregada lá. Dias antes, você pregou uma nota que tentou falar comigo e não conseguiu no domingo. Eu sabia qual era a intenção. Era exatamente dizer que conversou comigo e que está tudo muito bem. Então faz o favor: ou você restabelece a verdade ou não tem conversa a partir daqui pra frente.
Bebianno: Capitão, a nota do Antagonista que o senhor tá me acusando de ter plantado… Se o senhor olhar bem, eu localizei aqui e mandei pro senhor. Eu não plantei nada. Ela replica o que a Folha falou. Está escrito aqui: “Segundo a Folha; segundo a Folha; o ministro Gustavo Bebianno tentou ligar para Jair Bolsonaro neste domingo para explicar o caso, mas o presidente não atendeu”. Quem mencionou isso não foi o Antagonista, foi a Folha. O Antagonista simplesmente replicou. Então, capitão, eu não plantei nada em lugar nenhum, tá? Abraço.
Bolsonaro: Bebianno, olha como você entra em contradição. Que seja a Folha. Se foi uma tentativa tua pra mim e eu não atendi… Eu não liguei pra Folha, eu não ligo pra imprensa nenhuma. Quem ligou foi você, quem vazou foi você. Dá pra você entender o caminho que você está indo? E você tem que fazer uma reflexão para voltar à normalidade. Deu pra entender? Vou repetir: se você tentou falar comigo, um pra um, se alguém vazou pra Folha, não fui eu. Só pode ser você. Tá ok?
Bebianno: Não, capitão, não é isso não. Eu não tentei ligar pro senhor, eu não falei, não vazei nada pra ninguém. Eu nem tentei ligar pro senhor. O senhor mandou um recado que era pra eu não ir ao hospital. Não fui e não liguei pro senhor nenhuma vez. Deixei o senhor em paz. É… Se eu tentei ligar uma ou duas vezes, também não me lembro pelo motivo que foi. É… Não é isso não, capitão, tá? Eu não vazei nada pra lugar nenhum, muito menos pra Folha, com quem eu praticamente não falo. Abraço, capitão.
BOLSONARO “ENVENENADO”
Bebianno se defende da suspeita de que esteve à frente de fraude eleitoral por meio do PSL.
Bebianno: Em relação a isso, capitão, também acho que a coisa está… Não está clara. A minha tarefa como presidente interino nacional foi cuidar da sua campanha. A prestação de contas que me competia foi aprovada com louvor. É… Agora, cada estado fez a sua chapa. Em nenhum partido, capitão, a nacional é responsável pelas chapas estaduais. O senhor sabe disso melhor do que eu. E, no nosso caso, quando eu assumi o PSL, houve uma grande dificuldade na escolha dos presidentes de cada estado, porque nós não sabíamos quem era quem. É… Cada chapa foi montada pela sua estadual. No caso de Pernambuco, pelo Bivar, logicamente. Se o Bivar escolheu candidata laranja, é um problema dele, político. E é um problema legal dela explicar o que ela fez com o dinheiro. Da minha parte, eu só repassei o dinheiro que me foi solicitado por escrito. Eu tenho tudo registrado por escrito. Então é ótimo que a Polícia Federal esteja [no caso], é ótimo que investigue, é ótimo que apure, é ótimo que puna os responsáveis. Eu não tenho nada a ver com isso. É… Depois a gente conversa pessoalmente, capitão, tá? Eu tô vendo que o senhor está bem envenenado. Mas tudo bem. A minha consciência está tranquila, o meu papel foi limpo, continua sendo. E tomara que a polícia chegue mesmo à constatação do que foi feito. Mas eu não tenho nada a ver com isso. O Luciano Bivar que é responsável lá pela chapa dele. Abraço, capitão.
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