O presidente Jair Bolsonaro visitou o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, nesta quinta-feira (22). O general está isolado após ter sido diagnosticado com covid-19 na tarde de ontem. Nenhum dos dois usava máscara, o que contraria as recomendações de infectologistas. No encontro, Bolsonaro e Pazuello posaram para fotos, em tentativa de minimizar as divergências entre eles em relação à compra de uma vacina de origem chinesa desenvolvida em parceria com o governo de São Paulo contra a covid-19.
> Bolsonaro chama Doria de “nanico projeto de ditador” e “irresponsável”
Em vídeo publicado nas redes sociais, Pazuello disse ter sentido cansaço, dores de cabeça e febre. O ministro também afirmou que foi ao Hospital das Forças Armadas (HFA) para fazer os exames relativos à covid-19 e que, após o resultado, passou a fazer uso de hidroxicloroquina, Anitta e azitromicina, medicamentos sem eficácia científica para a doença.
Cientistas que estudam o vírus orientam pacientes curados da covid-19, como Bolsonaro, a utilizarem máscara para evitar a transmissão do vírus. O argumento é de que não há comprovação definitiva de que quem contraiu a doença não possa se contaminar novamente. Além disso, os efeitos do vírus a médio e longo prazo não são completamente conhecidos.
No encontro, Bolsonaro buscou minimizar os desencontros com Pazuello. Ontem (21), o presidente desautorizou o ministro ao dizer que não comprará a vacina chinesa CoronaVac, desenvolvida pelo laboratório Sinovac Biotech, da China, em parceira com o Instituto Butantan, em São Paulo.
“Semana que vem você volta ao batente?”, questionou Bolsonaro. “Pois é, estão dizendo que não”, respondeu Pazuello. Sem entrar no mérito do assunto, o presidente disse que é comum haver divergência entre integrantes do governo. “É comum acontecer isto aqui, é um choque. Não teve problema nenhum”, afirmou, em alusão à divergência dessa quarta-feira. “É simples assim, um manda e o outro obedece”, amenizou Pazuello. “A gente tem um carinho”, completou.
Bolsonaro se irritou após Pazuello ter anunciado na terça-feira que seria publicada uma medida provisória para garantir R$ 1,9 bilhão para a compra da vacina chinesa. O presidente, que defende o uso da cloroquina e outros remédios sem eficácia comprovada contra a covid-19, afirmou que não permitirá que brasileiros sejam “cobaias” de testes chineses. A decisão dele repercutiu mal dentro e fora do país. Governadores discutem a possibilidade de questionar na Justiça a ação do presidente, que também é contrário à obrigatoriedade da vacinação.
> Recusa de Bolsonaro à vacina chinesa repercute no mundo
Este é mais um dos episódios de conflito entre Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), pré-candidato à Presidência em 2022. Na manhã desta quinta-feira, o presidente atacou o tucano, chamando-o de “nanico projeto de ditador” e “irresponsável”. O protagonismo que Doria assumiria com a vacina desenvolvida pelo governo de São Paulo é vista, nos bastidores, como um dos motivos para a irritação de Bolsonaro.
O diretor-geral do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou nesta quinta-feira, conforme informa a colunista Monica Bergamo, que a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) está retardando a autorização para a importação da matéria-prima da farmacêutica Sinovac, o que dificulta a fabricação da vacina chinesa no Brasil. O plano do instituto era receber em outubro 6 milhões de doses do imunizante CoronaVac já prontos. E fabricar no Brasil, até dezembro, mais 40 milhões de doses a partir da matéria-prima que chegaria da China.
A Anvisa alega que a autorização deverá ser decidida em até cinco dias. Veja a nota:
“Anvisa informa que devido o período de transição da composição da diretoria colegiada da Agência, a decisão sobre o pedido de importação foi colocada em Circuito Deliberativo.
Este tipo de votação deve apresentar decisão em no máximo 5 dias úteis. Desta forma, a decisão não depende da realização de reunião presencial de Diretoria Colegiada.
Ainda que o pedido de importação seja autorizado, a vacina não pode ser aplicada na população, tendo em vista que a Coronavac não possui registro sanitário no Brasil.
A Anvisa reafirma o compromisso de trabalhar de forma técnica e com a missão de proteger a saúde da população brasileira.”