O presidente Jair Bolsonaro divulgou vídeo nesta segunda-feira (18) para dar ares de normalidade à turbulenta demissão do agora ex-ministro Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral da Presidência), um de seus principais coordenadores da campanha eleitoral de 2018. Cinco dias depois de ter sido chamado de mentiroso por Carlos Bolsonaro, o filho vereador do presidente – com o aval do pai, por meio do Twitter –, Bebianno agora ganhou elogios no vídeo (veja abaixo).
“Tenho que reconhecer a dedicação e o comprometimento do senhor Gustavo Bebianno à frente da coordenação da campanha eleitoral em 2018. Seu trabalho foi importante para o nosso êxito Agradeço ao senhor Gustavo pelo esforço e empenho quando exerceu a direção nacional do PSL, e continuo acreditando na sua seriedade e na qualidade de seu trabalho”, discursou Bolsonaro, agradecendo em seguida pela “dedicação e esforço” do agora ex-aliado durante sua curta passagem de 47 dias pelo governo.
“Desejo ao senhor Gustavo Bebianno meus sinceros votos de sucesso em sua nova jornada”, finaliza Bolsonaro, no vídeo de pouco mais de um minuto, sem qualquer menção ao motivo da queda do ministro – denúncias de fraude eleitoral com uso de dinheiro público (leia mais abaixo).
Veja:
Durante o anúncio da demissão, o porta-voz do governo, general Otávio Rêgo Barros, evitou dar detalhes sobre o rompimento da relação entre Bolsonaro e Bebianno. Uma das questões que ficaram sem resposta é a suspeita que recai sobre outro ministro a respeito das práticas eleitorais do PSL.
Ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio (PSL) também é acusado de ter usado candidatas laranjas em benefício próprio em Minas Gerais. Reportagem da Folha publicada em 4 de fevereiro revelou que quatro candidatas do PSL em Minas receberam R$ 279 mil do comando nacional do partido, por indicação do próprio Marcelo, justamente com o objetivo de disputar a eleição.
Marcelo também é presidente do diretório do PSL em Minas Gerais. Daquele total, informa a reportagem, R$ 85 mil foram destinados oficialmente a empresas de assessores, parentes ou sócios de assessores do ministro. Bolsonaro não apresentou qualquer explicação sobre a razão de não dar tratamento isonômico aos casos, protegendo o ministro do Turismo.
Laranja suspeita
Advogado por formação, Bebianno passou a ser alvo de suspeitas de fraude eleitoral envolvendo o PSL, partido do presidente, depois de reportagem do jornal Folha de S.Paulo. Sob o comando do agora ex-ministro, o partido criou em Pernambuco uma “candidata laranja”, nas eleições de 2018, para ter acesso a dinheiro público. Ela recebeu R$ 400 mil do PSL durante o pleito. E apenas 274 votos do eleitorado pernambucano.
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Aos 68 anos, Maria de Lourdes Paixão concorreu ao posto de deputada federal. Desconhecida do público, inclusive regionalmente, ela foi a terceira mais contemplada em todo o país com verba do PSL – nem a famosa “digital influencer” Joice Hasselmann (PSL-SP), a deputada federal recém-eleita na condição de mais votada da história (1,079 milhão de votos), ou mesmo o presidente Jair Bolsonaro foram tão beneficiados quanto Maria de Lourdes.
Segundo a reportagem assinada por Camila Mattoso, Ranier Bragon e Joana Suarez, a direção nacional do partido enviou os R$ 400 mil do fundo partidário para a conta da candidata em 3 de outubro, a quatro dias da eleição do ano passado. Naquela ocasião, Gustavo Bebianno coordenava a campanha de Bolsonaro e reverberava as falas do presidenciável a respeito de luta contra a corrupção, honestidade e nova política.
Irreversível
A exoneração era dada como certa desde a última sexta-feira (15), quando veículos de imprensa começaram a noticiar a irreversibilidade da situação e o acirramento dos ânimos entre os ex-aliados. Enquanto o noticiário fervia, Bolsonaro ouvia aliados sobre o assunto em reuniões fechadas, muitos deles em defesa de Bebianno.
A possibilidade de demissão do ministro ganhou força durante o fim de semana, quando ele passou a se queixar a aliados sobre a “traição” do chefe. Segundo os jornalistas Lauro Jardim (O Globo) e Gerson Camarotti (GloboNews), Bebianno disse a interlocutores que se arrependeu de ter viabilizado a eleição de Bolsonaro e que o presidente é “um louco” e “um perigo para o Brasil”.
Mais cedo, o próprio vice-presidente da República, Hamilton Mourão, demonstrou a insustentabilidade de Bebianno no cargo. “De hoje [a demissão] não passa”, garantiu Mourão.
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