“Awire” (pronuncia-se al-í-ri) é uma palavra-coringa do idioma Karajá que pode dizer “tudo bem”, “tudo certo”, “bom”, ou até mesmo servir de sinônimo para “paz”. Uma palavra tão rica de sentidos que terminou sendo adotada por vários outros povos nativos do país. E foi esse o termo que abraçamos para batizar uma nova seção do Congresso em Foco, dedicada à cobertura de assuntos ligados à segurança pública.
Escolhemos essa palavra, em parte, para homenagear as tradições linguísticas deste pedaço do planeta. Mas, sobretudo, nós o fazemos movidos pelo mesmo espírito que nos guia desde 12 de fevereiro de 2004, dia em que lançamos este site: produzir e distribuir informações relevantes e confiáveis na pretensão de que, processadas por cidadãs e cidadãos mais bem informados, elas possam contribuir para construir uma sociedade melhor, no rumo da democracia, da paz e da justiça social.
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Pois é. O projeto Awire, que é apoiado pela Open Society, ganha vida no momento em que completamos 20 anos de existência! Nesse período, acumulamos inúmeros lances de pioneirismo. O primeiro veículo digital especializado no Congresso Nacional. O primeiro órgão de imprensa a: listar os políticos acusados criminalmente; divulgar rotineiramente o voto individual dos congressistas; e a radiografar o Parlamento em cortes até então raros ou inteiramente inéditos (porcentagem de parlamentares parentes de outros políticos, composição de gênero ou étnico-racial, vínculos com doadores eleitorais, e um longuíssimo etecétera).
O primeiro também, que ousadia, a premiar políticos! E o único meio de comunicação privado a manter uma base de dados pública e gratuita sobre os congressistas, o Radar do Congresso. Ou a monitorar de modo sistemático e cientificamente fundamentado as ideias e percepções dos deputados e senadores, através do Painel do Poder e de outros tipos de pesquisas.
Com o Awire, temos certeza, mais uma vez inauguramos uma forma criativa e necessária de fazer jornalismo. Vamos acompanhar de perto a chamada “bancada da bala”, suas propostas legislativas e suas ações. Também estaremos de olho na produção acadêmica sobre segurança pública, buscando conciliar ciência e jornalismo “chão de fábrica”. Isto é, traduzindo de forma acessível o que há de mais contemporâneo no conhecimento científico e apostando em jornalismo investigativo e em todos os seus numerosos recursos: seja gastando sola de sapato, seja mergulhando em dados, seja alternando conteúdos escritos e audiovisuais.
Não vamos estragar a surpresa antecipando tudo o que faremos, mas o fato é que o Awire estreia nesta segunda-feira (5), data em que o Congresso retoma suas atividades, mostrando vários aspectos desconhecidos sobre a “bancada da bala“. Vem muito mais por aí, em diferentes formatos e linguagens.
PublicidadeDuas premissas nos guiam ao abrir essa nova frente de atuação. A primeira vem da relevância da temática da segurança pública, confirmada pelos altos índices de criminalidade (somos, para ficar em só um exemplo, campeões mundiais em número de homicídios) e por várias pesquisas de opinião. Poucas questões preocupam tanto hoje brasileiras e brasileiros. A segunda premissa vem da convicção de que podemos contribuir de verdade para melhorar a qualidade dos debates sobre o assunto.
Infelizmente, a paixão tem tomado o lugar da razão quando se trata de discutir segurança nestes trópicos. Que o diga a adesão de vasto contingente da população à crença na possibilidade de reduzir a violência com mais violência. Ou seja: pela via do sequestro dos direitos humanos e do conceito de justiça, dando vazão aos sentimentos da raiva e da vingança. A história ensina que apenas boas políticas públicas, tecnicamente bem concebidas e executadas por gente devidamente treinada, são capazes de reduzir a criminalidade. Todo o resto – incluindo as soluções simples e idiotas defendidas por certos políticos ou a desastrosa ideia de que um cidadão armado está menos sujeito à violência – não passa de demagogia.
Também repudiamos aqueles que se referem em termos depreciativos aos cerca de 700 mil policiais militares, civis e federais na ativa. Bons e maus profissionais há em todos os setores, é verdade. Mas, sem fechar os olhos para problemas como o aparelhamento político da Polícia e a violência policial, não temos dúvidas de que o sucesso de qualquer plano consequente nessa área virá do engajamento das pessoas que arriscam sua vida para dar segurança às demais. Identificar e destacar as experiências policiais positivas, no Brasil ou em outras nações, é um dos caminhos possíveis nesse percurso.
Queremos, enfim, preencher uma lacuna na cobertura jornalística do Congresso, evitando que temas legislativos essenciais sejam aprovados à margem da sociedade ou sem que sejam prévia e profundamente debatidos.
Fica o convite para você embarcar com a gente nessa viagem, com a qual renovamos nossa fé não apenas no jornalismo e na democracia, dois bichos indissociáveis e com poucas chances de sobrevivência quando são privados da convivência comum. Mas, também, em um país complicado, contraditório e difícil que, mesmo quando nos decepciona na véspera, nos faz acordar diariamente cheios de vontade de mover uma pequena pedrinha, por menor que seja, no caminho da felicidade e da justiça.
Regiões Centro-Oeste e Norte lideram índices de deputados pró-armas