A aurora de 2020 trouxe consigo um novo – e letal – vírus. Partindo de uma cidade chinesa, em poucas semanas alcançou praticamente os quatro cantos do mundo, colocando em xeque a humanidade.
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Em diversos países os chineses passaram a ser vítimas dos mais brutais atos de discriminação e agressão – ao fim e ao cabo, o vírus assassino teria saído da China. Realço que o termo “agressão” não deve ser tomado de forma leve: estamos a falar de violentas surras, repletas de chutes, socos e pontapés.
Como seria de se esperar, a chegada de alguns místicos a este cenário não tardou. Anunciou-se, para horror geral, a chegada do apocalipse. E houve até quem receitasse a cura: o uso de um supositório embebido em óleo de folhas de violeta. Pânico instalado, ateou-se fogo a um hospital.
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Surgiram os aproveitadores mais vis. Foi assim, por exemplo, que na Espanha descobriram gente vendendo singelas máscaras de proteção pela espantosa quantia de mil euros – sim, mil euros por uma única máscara! Pelo mundo afora aumentam os relatos de “sumiço” de mercadorias para fins especulativos.
PublicidadeNo outro extremo, porém, a raça humana mostrou o que tem de mais sublime: profissionais da medicina sacrificando-se voluntariamente em prol de seus semelhantes. Lutando contra o cansaço em intermináveis turnos pelos hospitais, muitas vezes contraindo a doença que buscam combater e perecendo, nos legaram a mensagem de que nem tudo está perdido na alma da humanidade. A eles nosso aplauso e nossas orações.
Pois é. Lá pelo século 14 instalou-se na Ásia e na Europa a denominada “peste negra”, causa da morte de milhões de pessoas. Houve quem atribuísse a culpa aos judeus, muitos dos quais foram discriminados, perseguidos e até mortos.
Não faltou, também lá, quem buscasse lucrar com a peste. Acredite: até vestimentas produzidas com o couro de animais infectados foram comercializadas – tudo em nome do lucro fácil.
Naqueles dias, segundo escreveu o papa Clemente VI, “a caridade desaparecera por completo”. Porém, equivocou-se Sua Santidade: lá estiveram, também, os profissionais da saúde a suavizar a dor dos enfermos, ainda que sob sério risco de contaminação e de morte.
De lá para cá quase 700 anos se passaram. Fico a contemplar o noticiário e a me perguntar: substancialmente, o que mudou no seio da humanidade?
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