O diretor-presidente da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, disse que foi técnica a decisão do órgão de suspender os testes com a vacina Coronavac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, após a comunicação da morte de um dos voluntários.
Em entrevista coletiva, Torres afirmou que o comunicado recebido pela Anvisa sobre a ocorrência de um “evento grave adverso” estava incompleto e não reunia informações suficientes para garantir a continuidade dos testes.
Segundo ele, a agência decidiu suspender o estudo até que os fatos sejam esclarecidos. A decisão, ressaltou o diretor-presidente, foi tomada pela Gerência Geral de Medicamentos (GGMED), órgão técnico do órgão, e não passou pela diretoria. O Butantan contesta a suspensão dos testes, alegando que não há conexão entre a causa da morte do voluntário e o imunizante testado.
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De acordo com Torres, a ação foi regida por protocolos de segurança. O diretor lembrou que atitude semelhante foi tomada em relação aos testes da vacina produzida pela Universidade de Oxford, em setembro. Ele ressaltou que a Anvisa não é parceira de nenhuma instituição desenvolvedora. O diretor disse que apenas um comitê isento pode avaliar a relação entre a vacina e a morte do voluntário, e não os cientistas e pesquisadores envolvidos nos testes.
Os representantes da agência na coletiva evitaram comentar a comemoração do presidente Jair Bolsonaro sobre a suspensão dos testes pelo Instituto Butantan. “O que o cidadão brasileiro não precisa, agora, é de uma Anvisa contaminada por guerra política”, afirmou o diretor do órgão.
Bolsonaro escreveu no Facebook, em resposta a um seguidor, que ele havia vencido o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), com a confirmação da morte do voluntário e a suspensão dos testes.
O gerente-geral de Medicamentos e Produtos Biológicos, Gustavo Mendes Santos, disse que, em razão das incertezas, a Anvisa tomou a medida correta. De acordo com ele, por causa de problemas técnicos relacionados ao ataque de hackers sofrido por órgãos do governo na última semana, a Anvisa não teve acesso à informação enviada pelo Instituto Butantan, na sexta-feira (6), notificando um efeito adverso grave não esperado, ocorrido no dia 29 de outubro.
A agência afirmou ter tido acesso à informação apenas na segunda-feira (9). Em seguida, enviou um e-mail e um ofício ao Butantan, solicitando mais informações e orientando a suspensão da pesquisa.
Sem confirmar as causas de um suposto óbito ou revelar informações sobre o caso, o diretor-presidente teceu críticas à imprensa e afirmou que ainda não recebeu por meio de documentos oficiais informações sobre as causas do efeito adverso notificado. Os integrantes da Anvisa ressaltaram que para a instituição essas informações e a avaliação sobre a possibilidade de continuação das pesquisas deve partir do comitê internacional, e não da imprensa ou do desenvolvedor, parte interessada da pesquisa.
Santos apontou que, no caso das pesquisas sobre coronavírus, a morte por covid-19 é um caso considerado um “efeito adverso grave esperado”, e que mortes não relacionadas à covid-19 são consideradas “efeito adverso grave não esperado”. Neste segundo caso, o protocolo exige a suspensão dos estudos para que o comitê avalie as informações e se há relação com o imunizante testado. O gerente da Anvisa afirmou que a reunião de hoje com Instituto Butantan foi de “alinhamento de expectativas” sobre os próximos passos.
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