O ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, depõe nesta terça-feira (4) à CPI da Covid no Senado Federal. Ele era o ministro da Saúde do governo Bolsonaro no momento em que a pandemia chegou ao Brasil. Mandetta foi demitido do cargo no dia 16 de abril de 2020, quando o Brasil registrava 1.924 mortes. Hoje, o país tem mais de 400 mil óbitos por covid-19.
Veja a íntegra de como foi:
“O senhor Luiz Henrique Mandetta foi exonerado do cargo de ministro da Saúde justamente por defender as medidas de combate à doença recomendadas pela ciência.”, apontou o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) no requerimento de convocação.
Em depoimento de mais de seis horas, o ex-ministro disse ter a impressão que de que o governo buscava a imunidade de rebanho para vencer a pandemia. “A impressão que eu tenho era que era alguma coisa nesse sentido, o principal convencimento, mas eu não posso afirmar, tem que perguntar a quem de direito”, afirmou o ex-ministro.
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“Todas as recomendações as fiz com base na ciência, a vida e a proteção. Eu as fiz nos conselhos de ministros e diretamente ao presidente”.
Mandetta disse ainda que havia um plano do governo para alterar a bula da cloroquina com a indicação de que o medicamento seria indicado para o tratamento da covid. A senadora Simone Tebet (MDB-MS) fez um discurso inflamado dizendo que por ações como essas, o Brasil é considerado como pária para o mundo.
“Nenhum ministro sabia que Jair Bolsonaro falaria a frase sobre a ‘gripezinha’ às oito horas da noite”, disse Mandetta, que alegou que o presidente tinha um grupo de assessores que o preparava para “o mundo virtual”, e que era muito diferente do “mundo real”, disse.
Ao colegiado, o médico falou ainda sobre a relação com o ministro da Economia, Paulo Guedes, a quem chamou de “desonesto” e “pequeno para o cargo que ocupa”.
O ex-dirigente da pasta também disse ter enviado uma carta ao presidente que alertava sobre a gravidade da crise. No documento, que será entregue à comissão, Mandetta diz que “em que pese todo esforço empreendido por esta pasta para proteção da saúde da população e, via de consequência, preservação de vidas no contexto da resposta à epidemia da covid-19, as orientações e recomendações não receberam apoio deste Governo Federal, embora tenham sido embasadas por especialistas e autoridades em saúde, nacionais e internacionais, quais sejam, o isolamento social e a necessidade de reconhecimento da transmissão comunitária.”
Mandetta disse ainda que nunca pediu para sair da função. “Nunca pedi demissão, médico não abandona seus pacientes”, alegou.
Em resposta ao senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), Mandetta defendeu a compra de vacinas e fez uma crítica direta ao presidente. “A impressão que tenho é de que havia algumas teorias mais simpáticas. “O brasileiro vai se contaminar, mora em aglomerados, mora sem esgoto. Vai atingir o coeficiente de proteção de rebanho”. Essa foi uma das teorias que pode ter servido de inspiração dessas pessoas para levar até o presidente. Basicamente, existia uma outra versão”, afirmou.
Base do governo
Novamente a base do governo tentou blindar o Planalto na CPI e conseguiu atrasar o depoimento de Mandetta em duas horas. Nos questionamentos feitos ao ex-ministro constaram falas e atitudes tomadas por Mandetta no início da pandemia.
O senador Ciro Nogueira (PP-PI) questionou o ex-ministro sobre declarações feitas por ele em 2020. No questionamento, o parlamentar falou sobre uma orientação do ex-chefe da pasta de ter recomendado que as pessoas não procurassem hospitais a partir dos primeiros sintomas, contribuindo assim com a subnotificação dos casos. O ex-ministro disse que havia recebido a mesma pergunta na noite de ontem pelo celular feita pelo ministro das Comunicações Fábio Faria e que quando foi respondê-lo, a mensagem foi apagada.
Parlamentares governistas criticaram a atuação de Mandetta no Ministério da Saúde. Os senadores Eduardo Girão (Podemos-CE), Jorginho Mello (PL-SC), Marcos Rogério (DEM-RO) e Luis Carlos Heinze (PP-RS) questionaram o fato de o ex-ministro ser contra o uso de medicamentos como cloroquina ou ivermectina.
“O senhor não considera que errou ao ser um opositor do tratamento precoce, proporcionando a população pelo menos o direito a esse tipo de tratamento seguro? O senhor vai ter algum remorso de no futuro se confirmar”, questionou Girão.
Depoimentos adiados
Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, informou aos membros da CPI da Covid que não vai ao Senado prestar depoimento nesta quarta-feira (5). Segundo informações do presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), Pazuello disse ter tido contato com dois assessores que estão infectados com o coronavírus. O general será ouvido no próximo dia 19.
Nesta quarta-feira (5), o colegiado ouve o ex-ministro da Saúde Nelson Teich, que seria ouvido hoje.