1 – Nunca vi entrevista de ministro sobre uma crise sanitária grave começar com com fotos de sua “família feliz”. Muitas câmeras. Planos bem escolhidos. Pareceu mais inicio de campanha eleitoral, aquele famoso primeiro programa onde a biografia do candidato é apresentada.
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2 – Luiz Henrique Mandetta não sabe que Jair Bolsonaro e a Globo são inimigos mortais? Pouco provável. Deu um pito público no presidente ao dizer que espera que o discurso do governo seja um só. Não citou concentrações indesejadas em padarias por acaso. Sabe das consequências.
3 – Bolsonaro vai demitir Mandetta? Talvez não. O Capitão está fazendo conta. O ministro será demitido. Quando é a questão. Deixá-lo sangrar durante a crise e demiti-lo depois como incompetente ou radicalizar e trocar o comando desde já? Manter uma porta aberta e um ministro trabalhando para reduzir a tragédia humanitária pode interessar ao presidente.
4 – A estratégia de Bolsonaro já está definida. Vão morrer quantos? 100 mil? 50 mil? 20 mil? Quantos ficarão desempregados? Ele está entregando uma ajuda emergencial a cerca de 60 milhões de pessoas. Em qualquer hipótese vai minimizar as perdas, dizer que na guerra sempre morrem pessoas, e que a histeria afundou a economia nacional. Seu foco são os que permanecerão vivos, e votando.
5 – Este jogo interessa a Mandetta? Não, para o ministro é muito melhor ser demitido agora do que depois. Sai como injustiçado, com a popularidade no teto, com poucos cadáveres no colo e colocando a culpa da tragédia em Bolsonaro. Será absorvido por um governo onde continuará a ter visibilidade e a chance de provar que estava certo. Num universo menor, a possibilidade das coisas funcionarem é maior. Não deu a entrevista na sede do governo de Goiás por acaso.
Publicidade6 – Se o jogo de Bolsonaro vai dar certo é outro papo. O mundo inteiro caminha em outra direção. O povo vai ficar mais sensível às mortes ou ao desemprego? É uma aposta macabra, só o futuro dirá se vai funcionar politicamente.
7 – A guerra fria entre Bolsonaro e Mandetta escalou mais um degrau. Ao presidente pode interessar manter a ambiguidade. Mas o projeto político dos dois é cada vez mais contraditório.
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