De 30 de julho a 3 de agosto, os candidatos ao Planalto mais bem colocados nas pesquisas participaram de uma série de entrevistas promovidas pelo canal de TV por assinatura GloboNews.
Foi o primeiro grande evento das disputas presidenciais da eleição de 2018. Alvaro Dias (Podemos), Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB) e Jair Bolsonaro (PSL) foram sabatinados pelos jornalistas Gerson Camarotti, Roberto D’Avila, Andréia Sadi, Merval Pereira, Miriam Leitão, Cristiana Lôbo, Fernando Gabeira, Mario Sergio Conti e Valdo Cruz.
O cientista político Ricardo de João Braga analisou não apenas o desempenho dos presidenciáveis, mas também o comportamento dos jornalistas durante as sabatinas da GloboNews. Leia aqui a íntegra do artigo publicado nesta 5ª feira (9) no Congresso em Foco.
Para Ricardo, os pontos mais característicos de cada candidato conduziram o teor das entrevistas. O comportamento dos jornalistas refletia a postura do presidenciável entrevistado.
Em princípio, prevaleceu a atitude inquiridora dos jornalistas, que se flexibilizava conforme a reação de cada entrevistado. A banca de jornalistas da GloboNews foi dura por mais tempo com o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, que passou 50 minutos tendo que se defender.
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Ciro Gomes passou 40 minutos sendo questionado pelo seu temperamento. Teve que pedir para falar sobre outro tema, como políticas públicas. Na avaliação do cientista político, o candidato venceu o desafio.
PublicidadeA “blitz” contra Jair Bolsonaro teve fôlego menor, com duração de apenas sete minutos. Marina Silva ficou na defensiva por cinco minutos e Alvaro Dias quase não passou por constrangimentos.
O articulista também explora o discurso dos candidatos sobre como enfrentarão o desafio da governabilidade. Alvaro Dias fala em um governo suprapartidário sustentado pelo apoio da população, enquanto Marina Silva enfatiza a necessidade de uma negociação programática entre os partidos.
Bolsonaro pouco falou sobre o tema. Apenas apresentou nomes de futuros ministros do seu eventual governo. Por sua vez, Ciro Gomes defendeu um novo pacto federativo como forma de controle do fisiologismo.
O tucano Geraldo Alckmin, que precisou justificar sua aliança com o Centrão, foi o único que se posicionou sem confrontar o modelo atual de governabilidade.
A economia foi um tema predominante nas sabatinas da GloboNews com os candidatos. Em sua análise, Ricardo de João compara os diferentes discursos, como o de Ciro, com uma proposta de governo mais nacionalista e intervencionista, e o de Alckmin, reformista, com uma postura favorável ao capital estrangeiro.
Bolsonaro fugiu da discussão e chegou a se queixar das perguntas sobre o tema, as quais chamou de “pegadinhas”. Já Marina abordou a relação entre o desenvolvimento econômico e a agenda ambiental.
O cientista político também observa que os jornalistas trataram do tema da segurança pública com todos os candidatos entrevistados, exceto Jair Bolsonaro, o que pareceu ao articulista uma decisão deliberada, uma vez que o tema é uma importante bandeira do candidato.
Segundo Ricardo de João, os jornalistas questionaram mais duramente – com um “tom adversarial” – os candidatos Ciro Gomes e Jair Bolsonaro.
Fernando Gabeira destacou-se por apresentar questões mais elaboradas, “para além das frases feitas e fórmulas prontas”.
O jornalista, conforme escreve Ricardo, “aguardava pacientemente a resposta e sobre ela refletia e produzia réplicas”, o que destoava da atitude dos outros entrevistadores, que “procuravam a todo tempo levantar de ‘bate pronto’ uma incoerência ou inconsistência da resposta do entrevistado, produzindo diversas vezes um diálogo entrecortado e pouco produtivo”.
O diferente tratamento dos jornalistas sobre alguns temas também é alvo da crítica do cientista político. “Quando os candidatos tocaram na questão da dívida pública e dos ganhos dos bancos, os jornalistas foram ágeis em ‘sustar’ o debate”, escreve Ricardo.
Outro ponto crítico é o “excesso de enfrentamentos que produz diálogos entrecortados e muitas vezes de baixo conteúdo”.
Apesar dessas ressalvas, o articulista afirma que foi possível aprender muito com as sabatinas da GloboNews.