Os servidores públicos do Ministério do Meio Ambiente publicaram na noite desta quarta-feira carta pública à sociedade criticando o ministro Ricardo Salles. No documento eles afirmam que Salles “vem, reiteradamente, atacando e difamando o corpo de servidores do ICMBio através de publicações em redes sociais”. Os servidores também criticam as declarações que o ministro do Meio Ambiente tem dado à imprensa, segundo eles, baseadas “em impressões superficiais após visitas fortuitas a unidades de conservação”. Os servidores dizem na carta que estão “preocupados” e “indignados” com a postura de Ricardo Salles.
Nas últimas semanas, o ministro visitou o Parque dos Lençóis Maranhenses, no Maranhão, a Floresta Nacional de Ipanema, em São Paulo, os Parques de Aparado da Serra e Serra Geral e outras áreas similares no Rio Grande do Sul. Durante as visitas, Ricardo Salles declarou a intenção de conhecer melhor o patrimônio para poder encaminhar a concessão dos parques para a iniciativa privada.
Leia também
O estopim para a carta divulgada pelos servidores, representados pela sua associação, a Ascema Nacional, foi um evento ocorrido no dia 13 de abril no Parque Nacional de Lagoa dos Peixes, RS, quando o ministro ameaçou abrir processo disciplinar administrativo contra todos os funcionários do ICMbio por não terem comparecido a uma reunião com entre ele, políticos locais e a comunidade. “No último sábado, no Rio Grande do Sul, [o ministro] foi ardiloso, falacioso e grosseiro com os servidores do Parque Nacional da Lagoa do Peixe, repreendendo [os servidores] em público pela ausência em um evento que não constava na agenda e para o qual não os convidara”, mencionam os servidores na carta. O ministro comentou o evento nas redes sociais.
Hoje estivemos na Lagoa do Peixe (RS) onde vive uma antiga comunidade tradicional de pescadores que vem sendo “convidada a se retirar” de suas casas, impedida de produzir e de pescar, ignorando o secular equilíbrio entre eles e a natureza. Vamos rever isso. pic.twitter.com/jMGJ2RUqZt
Publicidade— Ricardo Salles MMA (@rsallesmma) 13 de abril de 2019
A situação gerou o pedido de demissão do então presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Adalberto Eberhard, que estava no evento. Ele foi substituído pelo atual comandante da Polícia Militar Ambiental de São Paulo, coronel Homero de Giorge de Cerqueira.
Defesa do ICMbio
No documento, os servidores também apresentam dados sobre o ICMBio e pedem que a sociedade se engaje na defesa do órgão, que é responsável pela gestão de 334 unidades de conservação e 15 centros de pesquisa e conservação de espécies no território brasileiro, totalizando 173 milhões de hectares. “O ICMBio conta com apenas 1.593 servidores, aproximadamente um para cada 100 mil hectares de área protegida. A título de comparação, o serviço de parques norte-americano tem 1 servidor para cada 2 mil hectares (50 vezes mais do que o Brasil)”, argumentam. Na carta, os servidores mencionam que enfrentaram dificuldades “impostas por governos de todos os matizes ideológicos, em termos de orçamento e pessoal insuficientes” para o cumprimento sua função constitucional.
Uma das prioridades que têm sido colocadas por Ricardo Salles à frente da pasta de Meio Ambiente é a promoção do ecoturismo. O documento aproveita o tema e afirma que a visitação nas unidades de conservação ambiental no Brasil cresceu quase 300% entre 2007, quando o órgão foi criador, e 2018, de 3,1 milhões para 12,4 milhões de visitantes, “gerando renda para a sociedade local, regional e ainda incrementando o orçamento da União” e citam estudo do próprio ICMBio destacando que o crescimento possibilitou que mais de 2 bilhões de reais e 80 mil empregos fossem gerados. “Manifestamos nosso repúdio às declarações que vêm sendo feitas pelo atual Ministro de Meio Ambiente, Sr. Ricardo Salles, acerca da gestão ambiental brasileira”, encerra o documento.
Nossa reportagem entrou em contato com o Ministério do Meio Ambiente e aguarda posicionamento do ministro sobre o caso.
Ibama exonera servidor que multou Bolsonaro por crime ambiental
A mais nova ameaça do governo Bolsonaro à política ambiental