A COP 25 terminou neste domingo (15) sem conseguir construir um consenso em relação à preservação ambiental nas potências mundiais que estavam reunidas em Madrid. De um lado, ambientalistas reclamam que o compromisso de evitar que a temperatura do planeta suba em 1,5º neste século é pequeno. Do outro, há quem diga que o protecionismo venceu em detrimento do desenvolvimento econômico. E o Brasil está neste segundo grupo de países. Nas redes sociais, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, reclamou que o Brasil não conseguiu angariar aportes financeiros para a Amazônia na COP e atacou: “Protecionismo e hipocrisia andaram de mãos dadas”.
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Representante do governo na COP25, Salles foi a Madrid com o objetivo de fazer cumprir o artigo 6º do Acordo de Paris – artigo que prevê o pagamento de créditos de carbono aos países que contribuem com a redução da emissão dos gases de efeito estufa. Ele argumenta que, nos últimos anos, o Brasil foi fundamental nesse processo por conta da Amazônia e, por isso, deve ser recompensado financeiramente. O discurso de Salles foi contestado antes mesmo de ele chegar em Madrid, por ambientalistas que lembravam que, para ter direito a esse crédito, o Brasil deveria continuar contribuindo com a temperatura global, o que não vem mais acontecendo por conta da alta do desmatamento na Amazônia. O ministro, porém, continuou com esse discurso e, como não obteve esses créditos, disse que a COP25 não deu em nada.
“Infelizmente, apesar de todo o esforço do Brasil em ajudar na consecução do Acordo de Paris, na regulemantação do artigo 6º, não foi possível encontrar um texto de comum acordo. Prevaleceu, infelizmente, uma visão protecionista de fechamento do mercado. O Brasil e outros países que poderiam fornecer créditos de carbono em razão de suas florestas e boas práticas ambientais saíram perdendo”, afirmou o ministro no Twitter assim que a COP25 chegou ao fim, na madrugada deste domingo (15). Veja o vídeo gravado por Salles no final da Conferência das Partes:
COP 25 não deu em nada. Países ricos não querem abrir seus mercados de créditos de carbono. Exigem medidas e apontam o dedo para o resto do mundo, sem cerimônia, mas na hora de colocar a mão no bolso, eles não querem. Protecionismo e hipocrisia andaram de mãos dadas, o tempo todo pic.twitter.com/jZ0bBej9dl
— Ricardo Salles MMA (@rsallesmma) December 15, 2019
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Dizendo que vai continuar buscando esses créditos mesmo depois da COP25, o ministro brasileiro ainda aproveitou a ocasião para criticar o posicionamento adotado por países como França e Alemanha na Conferência das Partes da ONU. “Países ricos não querem abrir seus mercados de créditos de carbono. Exigem medidas e apontam o dedo para o resto do mundo, sem cerimônia, mas na hora de colocar a mão no bolso, eles não querem. Protecionismo e hipocrisia andaram de mãos dadas, o tempo todo”, reclamou.
Durante a negociação do acordo final da COP25, que deveria ter encerrado na sexta-feira (13) mas acabou entrando pelo fim de semana por conta dessa falta de consenso entre os países, Salles já havia criticado esses países. Ele usou as redes sociais para dizer, entre outras coisas, que “dar pitaco todos querem, pagar que é bom …”. “Cedemos demais e recebemos de menos. Tipicamente cortesia com o chapéu dos outros”, acrescentou.
Além de não ter obtido o que desejava, o Brasil recebeu um dos piores reconhecimentos da COP25: o prêmio Fóssil do Ano, entregue por organizações não governamentais que acusam o Brasil de ter desmontado a sua política de preservação ambiental. Parlamentares e organizações da sociedade civil também reclamaram dessa situação e apresentaram dados sobre o avanço do desmatamento na Amazônia. O Senado chegou a apresentar um dossiê sobre o desmanche das estruturas do Ministério do Meio Ambiente e 110 organizações da sociedade civil fizeram um apelo para que a comunidade internacional ajudasse na preservação da floresta amazônica, o que, na avaliação dos ambientalistas, prejudicou ainda mais a imagem da política ambiental brasileira no exterior.
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