O cientista Carlos Nobre declarou ao Congresso em Foco que se for confirmada a revisão da medição do desmatamento pelo governo de Jair Bolsonaro, o Brasil estará no “caminho para o suicídio econômico”.
Nobre é pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP (Universidade de São Paulo) e é considerado um dos maiores especialistas em meio ambiente do mundo.
Por conta dos dados sobre o crescimento do desmatamento, Ricardo Galvão foi demitido na sexta-feira (2) pelo presidente Jair Boslonaro do comando do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
De acordo com Nobre, há uma tendência mundial dos valores dos bens de consumo estarem atrelados à preservação ambiental.
“Os consumidores do mundo inteiro, América do Norte, Europa, Japão e até na China, estão se tornando exigentes, eles estão preocupados com as mudanças climáticas. Se torna um padrão, que nos próximos 10, 20 anos vai se tornar mundial, do consumo não associado com o desmatamento das florestas tropicais”, declarou.
Sobre a demissão de Ricardo Galvão do comando do Inpe, o cientista vê com preocupação e reclama que a ação do governo Bolsonaro “ataca o mensageiro de notícias ruins”.
Leia também
“[Galvão] estava fazendo uma gestão boa em um momento de vacas magras com o orçamento do Inpe sendo reduzido a cada ano”, disse.
No começo de julho, o Inpe apontou que o desmatamento no Brasil foi de 75 quilômetros quadrados e cresceu 8,5% no ano de 2018.
No dia 21 de julho, o presidente Jair Bolsonaro criticou o Inpe e declarou que os dados sobre desmatamento fazem “campanha contra o Brasil”. Em entrevista ao jornal Estado de São Paulo, Ricardo Galvão disse que “Bolsonaro é um covarde”.
Em seguida, o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes convocou Galvão para prestar esclarecimentos sobre as declarações dada a imprensa, por isso, a demissão já era esperada.
> Desmatamento cresceu 8,5% em 2018, aponta Inpe
> Marcos Pontes concorda com Bolsonaro sobre críticas ao Inpe
O pesquisador da USP se mostrou apreensivo e diz esperar que o episódio com o Inpe não se repita em outros órgãos que apresentem resultados não desejados pelo governo federal.
“O IPEA [Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas] faz um levantamento e mostra índices econômicos que dizem que não atingiu os resultados que o governo queria, o diretor do IPEA vai ser demitido? O presidente do IBGE faz uma pesquisa de outros índices econômicos, como o PIB,e diz que não cresceram como queriam, o presidente do IBGE vai ser demitido?”, afirmou.
Carlos Nobre é também membro do Grupo Estratégico da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, membro da Academia Brasileira de Ciências e membro estrangeiro da US National Academy of Sciences.
>Bolsonaro quer mudar medição do desmatamento e ambientalistas criticam