Nesta segunda-feira (26), o delegado da Polícia Federal Alexandre Saraiva, participou de uma audiência pública promovido pelas Comissões de Legislação Participativa e de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados. Ele foi exonerado da superintendência da PF no Amazonas após apresentar notícia-crime ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Segundo Saraiva, o ministro é conivente com a grilagem de terras feita em áreas de proteção permanente no Pará.
Logo no início da audiência, deputados bateram boca e o clima tenso seguiu até o fim da reunião. Vitor Hugo (PSL-GO), aliado de Jair Bolsonaro, tentou impedir o depoimento de Saraiva. O parlamentar disse que o delegado deveria falar à Comissão de Meio Ambiente ou à CCJ.
O deputado federal Sanderson (PSL-RS) afirmou que o delegado deveria se ater às suas funções administrativas e não “extrapolar para as instâncias políticas”. Segundo ele, o policial está em “maus lençóis” ao “conduzir um inquérito de forma totalmente apaixonada”.
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Alexandre Saraiva disse que ao entrar na polícia sabia que estava correndo risco de morte, por isso, não tinha “medo de perder o emprego”. “O senhor estava me ameaçando. Não tenho medo nem de perder a vida”, disse o policial que afirmou não defender nenhuma ideologia política ou partidária. “Quero defender o meio ambiente pensando no Brasil”.
Confira a discussão que iniciou a sessão:
Notícia-crime
Segundo Saraiva, Salles deveria ser investigado por sua reação à operação de embargo de uma quantidade histórica de madeira ilegal: cerca de duzentos mil metros cúbicos. A notícia-crime aponta alguns possíveis delitos, dentre eles, dificultar a ação fiscalizadora do poder público no meio ambiente, exercer advocacia administrativa e integrar organização criminosa.
Saraiva foi substituído pelo delegado Leandro Almada. Segundo Saraiva, as atividades do Ibama estão sendo desviadas no combate ao desflorestamento.
O delegado fez uma apresentação em PowerPoint onde mostrou uma série de provas contra o Executivo. Nesse momento, foi ironizado por deputados ao ser comparado com o procurador Dalton Dallagnol, conhecido pela apresentação feita contra o ex-presidente Lula na Lava-Jato.
Veja as provas apresentadas:
Incongruência em documentações, na localização da área explorada, na reivindicação da madeira, além de histórico de descumprimento da lei pelas madeireiras participantes do caso foram algumas das evidências mostradas por Saraiva.”Apenas 10 pessoas reivindicaram seu carregamento de madeira. Não apareceu dono para 70% da madeira, o ministério recebeu todos os laudos necessários e fez vistas grossas para isso”, disse Saraiva.
Alguns deputados participantes afirmam que a atitude de exonerar o superintendente da PF no Amazonas foi uma forma de punição ao comportamento do delegado, configurando abuso de poder. Mas também há aqueles que desconfiam das atitudes de Saraiva, indicando parcialidade no caso.
Os deputados bolsonaristas Éder Mauro, Victor Hugo e Carla Zambelli disseram que as provas não eram suficientes. Mauro, inclusive, utilizou de palavras de baixo calão para defender seu posicionamento: “Se fosse uma ação do MST, a esquerdalha não ia falar porra nenhuma”, disse.
Acompanhe a sessão ao vivo:
> >PF no Amazonas apresenta notícia-crime contra Ricardo Salles e senador
Thaís Rodrigues é repórter do Programa de Diversidade nas Redações realizado pela Énois – Laboratório de Jornalismo, com o apoio do Google News Initiative.