Brasil, 1980. Naqueles dias – quando ainda frequentava os bancos escolares – recebi como ‘dever de casa’ a preparação de um breve estudo sobre o fornecimento de energia elétrica no Brasil.
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Decidi escrever algo fundamentado – e solicitei ao meu saudoso pai, então deputado federal, que me conseguisse algum material junto ao Ministério das Minas e Energia.
Chegou o dia da apresentação dos trabalhos. O meu começava pela reprodução de um gráfico preparado pelo governo federal contendo duas curvas – uma referente ao consumo e outra à produção de energia elétrica.
Observei que aquelas duas curvas se encontrariam no ano 2000 – vinte anos depois. E registrei, então, ser aquela a advertência de que naquele ano o Brasil sofreria uma séria crise no fornecimento de energia elétrica caso não fossem adotadas medidas, digamos, enérgicas.
Encerrada minha apresentação fui alvo de duros ataques. Falou-se que estudos mais sérios provavam que apenas Itaipu seria suficiente para atender todo o consumo brasileiro pelos dois séculos seguintes – uma “obra faraônica”, pois. Ouvi, com infinita tristeza, que todo aquele “besteirol” que havia exposto era simples propaganda governamental.
Vinte anos se passaram. Chegamos ao ano 2000 e seu respectivo “apagão”. Nossa economia foi duramente atingida. Segundo o Tribunal de Contas da União o Brasil teve um prejuízo de R$ 45,2 bilhões. 60% deste valor foram repassados aos consumidores através de robusto aumento nas contas, e os demais 40% saíram diretamente do Tesouro Nacional – sustentado pelos nossos impostos, registro.
Naqueles dias colocou-se a culpa em São Pedro. Sim, faltou chuva. Como trata-se de alguém há milênios no paraíso, que não concede entrevistas nem pode defender-se, foi eleito o culpado ideal. Simplesmente ‘esqueceu-se’ que tudo aquilo havia sido previsto há décadas.
Era para o Brasil ter aprendido que a ideologização de um problema dificulta sua solução. Que o estudo sereno dos problemas nacionais é algo sério demais para ficar por conta de ‘achismos’ e pronunciamentos mais ‘pirotécnicos’ que técnicos.
Mais vinte anos se passaram. Chegamos a 2020 – e ao prenúncio de nova crise no fornecimento de energia elétrica.
Adivinhe quem está sendo, uma vez mais, apontado como culpado pelo problema! Sim, é ele de novo! São Pedro!
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