O alagoano Aldo Rebelo foi durante boa parte da sua vida integrante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Foi como comunista que ele presidiu a Câmara dos Deputados, entre 2005 e 2007. E, no seu gabinete, atrás de sua mesa, Aldo pendurou um retrato de Duque de Caxias, patrono do Exército Brasileiro. Por mais que possa parecer inusitado para quem se acostumou aos discursos dos militares de direita ligados ao governo Jair Bolsonaro, que atacam o comunismo a todo momento, Aldo sempre teve grande aproximação do meio militar e admiração pelas Forças Armadas brasileiras. Uma situação que o levou a ser ministro da Defesa entre 2015 e 2016.
A proximidade com o meio militar não diminuiu depois desse período e prossegue até hoje. E é baseado nessa proximidade que o ex-ministro da Defesa afirma com convicção ao Congresso em Foco: “Não tenho nenhum motivo para acreditar que as Forças Armadas brasileiras embarcariam em qualquer tipo de aventura antidemocrática”.
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“Quando a sociedade enfrenta dificuldades, sempre vejo as Forças Armadas como parte da solução, não do problema”, afirma ele. “Infelizmente, os últimos episódios colocaram as Forças Armadas no limite entre ser a solução e o problema”, continua.
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Ele enumera os episódios. Os seguidos atos do presidente em frente a quartéis procurando estimular a quebra da disciplina e da hierarquia. A demissão do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, dos comandantes das Forças Armadas sem que houvesse qualquer motivo aparente ou problema de disciplina. A presença de um general da ativa, Eduardo Pazuello, em um palanque político eleitoral sem que, por pressão do presidente, houvesse qualquer punição a ele. E agora a nota do Ministério da Defesa, também aparentemente estimulada pelo presidente, em reação a uma suposta ofensa do presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM) às Forças Armadas. Seguida da ameaça do comandante da Aeronáutica, Carlos Almeida Baptista Junior, em entrevista ao jornal O Globo, de que a nota é “um alerta” de que as Forças Armadas não vão aceitar a ultrapassagem de certos limites.
“Tudo isso é muito ruim para o país”, conclui Aldo. “Cava um fosso entre a expectativa das Forças Armadas como parte da solução dos nossos dilemas e parte do conflito”, considera. Para o ex-ministro da Defesa, tudo isso vai gerando um aumento do clima de tensão. Ataques provocam reações que também soam como ataques, que levam a outras reações. “Por outro lado, faz com que alguns reajam também ofendendo e agredindo as Forças Armadas, levando a um risco de fragilização. Ruim para as Forças Armadas, ruim para o Brasil. Evidentemente, ninguém pode achar que esse seja um caminho construtivo”.
PublicidadeNo acompanhamento que segue fazendo, porém, da temperatura no meio militar, Aldo não acredita que esse clima leve ao risco de fazer com que os militares se associem a algum movimento de quebra da ordem institucional e democrática do país. A nova geração militar não teria o mesmo espírito golpista do grupo que tomou o poder em 1964. Trabalhou para alcançar maior relevância política pela via democrática. E muitos no meio militar mesmo consideram que não seguir nesse caminho poderia mesmo parecer uma demonstração de fracasso.
Há, porém, um outro risco. O de um embarque não institucional, mas vindo de baixo para cima, a partir do oficialato de baixa patente e das Polícias Militares. Algo que Bolsonaro parece estimular. Sua base política sempre foi esse baixo oficialato. Ele poderia conseguir produzir algum tipo de insurreição nas Forças Armadas? Aldo também não acredita nessa hipótese. “Não há nenhuma hipótese disso acontecer”, diz, taxativo.
“Bolsonaro sempre atuou como uma espécie de sindicalista das Forças Armadas. E as pessoas ligadas ao baixo oficialato de fato sempre demonstraram apreço a ele por essa atuação sindical. Mas não acredito que isso tenha força para fazer com que o sentimento de disciplina muito forte nas Forças Armadas seja ultrapassado pelo sentimento político”, diz ele.
De fato, apesar da nota do Ministério da Defesa e das declarações do comandante da Aeronáutica, o Congresso em Foco apurou que não é um consenso no meio militar que as declarações de Omar Aziz na CPI tenham sido uma agressão às Forças Armadas como instituição. Ele somente apontou para o surgimento, nas investigações, de militares supostamente envolvidos. E isso, na verdade, deveria provocar nas Forças Armadas indignação e reforço no sentido de que tudo seja esclarecido e eventuais responsáveis punidos.
O aparecimento de militares nas denúncias, menções que vão do general Eduardo Pazuello ao cabo da PM Luiz Paulo Dominguetti passando pelo coronel Elcio Franco provocam constrangimento. Em grupo de militares no WhatsApp e outras redes sociais, alguns militares comentam que a nota do Ministério da Defesa soou como uma espécie de defesa dos mal feitos.
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