Como diz a sabedoria popular, todo mundo gosta de puxar a brasa para sua sardinha. Mas, mesmo como secretário estadual de Saúde, sempre falava em todas as oportunidades públicas que a saúde e a segurança defendem a vida, mas a única coisa que transforma a vida é a educação.
Para muito além da retórica vazia de muitos discursos populistas, a educação de qualidade das crianças e dos jovens é decisiva e com múltiplos impactos na vida da sociedade. Educação de qualidade tem a ver com cidadania plena, bom convívio social, autocuidados na saúde, produtividade da economia, níveis de segurança, capacidade de desenvolvimento e absorção de tecnologias avançadas, boas escolhas políticas, preservação ambiental, nível cultural. Um país educado é um país com horizontes abertos para o futuro.
Esta semana, foram publicados os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). Foram provas de leitura, matemática e ciência aplicadas a 600 mil estudantes de 15 anos em 79 países. No Brasil, foram 10.691 estudantes a participar do Pisa de 638 escolas. A posição brasileira não é nada confortável. Ficamos na 59ª posição geral entre os 79 países envolvidos e na 57ª em leitura, na 65ª em ciência e na 70ª em matemática. Ficamos bem abaixo da média dos países da OCDE e atrás de países como Chile, México e Uruguai. Não temos motivos para comemorar.
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No caso brasileiro cabe registrar algumas peculiaridades. Estudos demonstram que não é só uma questão de conhecimento, mas também de atitude e valores. Boa parte dos estudantes brasileiros não respondem todas as questões por falta de estímulo, garra, resiliência ou valorização.
A extrema desigualdade social brasileira é registrada de forma contundente. A diferença entre os alunos brasileiros de maior renda e os de menor subiu de 84 pontos, em 2009, para 97 pontos, em 2018. As escolas brasileiras particulares de elite, se consideradas isoladamente, ficariam em 5º lugar em leitura, ao lado da Estônia, 30º lugar em matemática, ao lado da Rússia, e em 12º lugar em ciências, ao lado da Nova Zelândia.
Mesmo entre as escolas públicas é possível enxergar a desigualdade de oportunidades. As escolas públicas federais ficariam em 17º lugar, ao lado da Austrália, enquanto as estaduais ficariam em 63º lugar, ao lado da Bósnia e atrás da Albânia.
É hora de agir. Não há que se inventar a roda. Primeiro, faz-se necessário desarmar a luta ideológica aguda que se instalou em torno da educação. Menos fraseologia ideológica e mais ações competentes de qualificação do ensino. Em sequência, garantir alto grau de profissionalização e prestígio à carreira de professor. Em contrapartida, é fundamental desarmar o corporativismo e o excesso de “sindicalização” das escolas. Qualificar a gestão escolar prestigiando a liderança das diretoras, passo essencial para mobilizar a comunidade e as famílias em torno do aprendizado das crianças e dos jovens. Uma ação focalizada nas famílias mais vulneráveis é imprescindível. E tornar a escola um ambiente atraente e prazeroso para os estudantes com a modernização dos métodos pedagógicos.
Governantes, pais, professores, cidadãos: não há tempo a perder. Há boas experiências exitosas Brasil afora. Vamos potencializá-las e universalizá-las. Sem isso, o futuro se assemelhará a uma viela estreita.
> Apenas 2% dos alunos brasileiros têm nota máxima em avaliação internacional