Um dos líderes da bancada evangélica na Câmara, o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) diz que a frente parlamentar não aceitará, em hipótese alguma, a indicação do professor Mozart Neves Ramos para o Ministério da Educação no governo Jair Bolsonaro. Segundo ele, caso isso ocorra, a resposta dos evangélicos no Congresso será imediata: “Vamos virar todos talibãs”.
Ao lado de outros deputados evangélicos, Sóstenes esteve três vezes no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) nessa quarta-feira (21) para se encontrar com integrantes da equipe de transição. Eles se queixaram da possível indicação do diretor do Instituto Ayrton Senna para o cargo. Segundo ele, o futuro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, prometeu que o novo ministro da Educação só será anunciado depois do encontro de lideranças da bancada evangélica com Bolsonaro, marcado para a próxima terça-feira (27).
Na manhã desta quinta-feira (22), Bolsonaro afirmou, em entrevista coletiva, que o nome de Mozart Neves Ramos foi ventilado para tentar fazer a bancada evangélica “se voltar contra” ele. O presidente eleito negou que tenha cogitado o nome do diretor do Instituto Ayrton Senna.
“Nós não vamos indicar qualquer nome, mas nos sentimos no direito de vetar quem for de outro campo ideológico porque ajudamos a construir a candidatura de Bolsonaro”, disse o deputado ao Congresso em Foco. “Queremos que o governo dê certo na economia, isso é importante. Mas demoramos para chegar a um governo ideologicamente afinado conosco, não vamos deixar que o cérebro dele, que é o Ministério da Educação, fique com a esquerda”, acrescentou.
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PublicidadePara Sóstenes, o atual diretor do Instituto Ayrton Senna é um intelectual sem identificação ideológica com Bolsonaro e os segmentos que o ajudaram a se eleger, como os evangélicos. “Aceitamos nome de centro e de direita; de esquerda, não”, ressaltou o deputado, pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, igreja liderada por Silas Malafaia.
Bolsonaro se encontra nesta quinta-feira com Mozart. Ontem o nome do educador chegou a ser dado como certo para comandar a Educação. Mas a reação da bancada evangélica, importante grupo de sustentação do presidente eleito no Congresso, foi imediata. Logo em seguida, Bolsonaro foi ao Twitter dizer que não havia qualquer decisão sobre o futuro ministro da pasta.
Afronta
Segundo relato publicado por vários veículos, o diretor do Instituto Ayrton Senna foi convidado na semana passada pelo presidente eleito para o cargo e aceitou o convite. Em nota, porém, o instituto negou que tenha havido qualquer acerto. Ex-reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e ex-secretário estadual de Educação, Mozart é considerado um nome moderado. Também presidiu o movimento Todos Pela Educação.
O perfil do pernambucano, porém, desagrada aos evangélicos que apoiaram Bolsonaro. Eles defendem um ministro que se posicione claramente a favor do projeto Escola Sem Partido, proposta encampada por aliados do futuro presidente contra o que chamam de “doutrinação partidária” por professores, e a discussão sobre questões de gênero em sala de aula.
A defesa desses dois pontos foi fundamental para que o deputado conquistasse o apoio desse segmento. “Vamos interpretar a escolha do nome dele [Mozart] como uma afronta. Para nós, o futuro governo pode errar no que quiser, menos no Ministério da Educação”, disse Sóstenes Cavalcante.
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