O grupo Latam, cuja holding entrou em processo de recuperação judicial nos Estados Unidos nesta terça-feira (26), quer rever as negociações com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para ter acesso ao crédito negociado pelo governo com as três companhias aéreas com atuação no país.
> Latam faz pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos
A empresa pretende usar o processo nos Estados Unidos para rediscutir pontos da proposta de socorro feita pelo BNDES. “Agora que entramos no processo de recuperação judicial vamos falar de novo com o banco para saber as novas possibilidades que o processo vai nos permitir trabalhar”, afirmou o executivo-chefe do Grupo Latam, Roberto Alvo. “Estou confiante de que vamos encontrar uma solução”, acrescentou. A recuperação judicial protege a empresa da ação de cem mil credores e de uma dívida de US$ 18 bilhões.
Leia também
Em parceria com bancos privados, o BNDES está reservando R$ 6 bilhões para auxiliar na recuperação do setor aéreo, considerado um dos mais prejudicados pela pandemia devido à drástica redução de voos. Essa linha de crédito deverá ser repartida entre Latam, Gol e Azul. Desse total, cerca de R$ 4 bilhões deverão sair diretamente dos cofres do BNDES. O valor fica aquém do defendido pelas empresas, algo em torno de R$ 10 bilhões.
O plano previsto pelo banco prevê ofertas públicas de títulos de dívida, parte em bônus conversíveis em ações. Pelo menos 30% devem vir de investidores privados; 60%, do BNDES, e 10%, de bancos privados como Itaú, Santander, Banco do Brasil e Bradesco.
Os recursos captados não poderão ser destinados ao pagamento de dívidas financeiras, mas apenas a gastos operacionais no Brasil. Além disso, as empresas terão de operar na Bolsa de Valores em São Paulo, o que não ocorre hoje com a Latam.
A companhia de origem chilena afirma que opera hoje apenas cerca de 5% de sua malha habitual nos 26 países em que atua. Antes da crise, a Latam tinha média de 1.400 voos por dia. A recuperação judicial envolve os braços da Latam nos Estados Unidos, no Chile, no Peru, na Colômbia e no Equador. Ficaram de fora do processo as filiadas da Argentina, do Brasil e do Paraguai.
Para o presidente da Frente Parlamentar em Defesa do Transporte Aéreo Nacional, deputado Coronel Tadeu (PSL-SP), o agravamento da situação da Latam exige rapidez do governo brasileiro para evitar que a companhia entre em recuperação judicial também no Brasil. O grupo reúne cerca de 250 deputados e senadores.
“Precisaremos de muita ajuda do governo federal. Do contrário, teremos perdas significativas no setor aéreo, que emprega entre 60 mil e 70 mil pessoas no Brasil”, disse o deputado, que é piloto profissional, ao Congresso em Foco Premium. “É importante que o Ministério da Economia tenha olhos mais carinhosos com o setor”, emendou.
Na semana passada o ministro Paulo Guedes disse que a intenção do governo é comprar debêntures conversíveis das companhias aéreas. “Vamos botar o dinheiro lá e vamos comprar um pedaço da empresa. E lá na frente, quando a empresa tiver recuperada e começar a voar de novo, a gente vende isso e ganhamos dinheiro para preservar as companhias brasileiras”, disse o ministro em reunião com empresários.
A situação das companhias aéreas não preocupa apenas o Brasil. Nos Estados Unidos, o governo Donald Trump anunciou, em abril, a liberação de US$ 25 bilhões para ajudar as companhias aéreas do país devido à queda de 80% no número de voos.
A Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês) divulgou nesta terça que a dívida global do setor é de US$ 550 bilhões até o fim do ano – um aumento de US$ 120 bilhões na comparação com o débito registrado no começo de 2020.
> Cadastre-se e acesse de graça, por 30 dias, o melhor conteúdo político premium do país
Queda livre
No Brasil, a demanda por voos domésticos teve queda de 93,09% em abril, em relação a igual mês do ano passado, de acordo com dados compilados pela Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear). Também recuou em 91,35%, na mesma comparação, a oferta de assentos. Esses dois indicadores são os piores resultados mensais da série histórica da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), iniciada em 2000. Os números refletem as operações das associadas da Abear (Gol, Latam, Voepass/MAP).
A taxa de ocupação dos aviões ficou em 65,45% em abril, uma diminuição de 16,42 pontos percentuais na comparação anual, desempenho mais fraco desde junho de 2010. O volume de passageiros transportados em voos nacionais teve retração de 94,55%, para 399.558 pessoas, pior resultado mensal em 20 anos.
O levantamento também mostra que o transporte de passageiros para o mercado internacional, entre as companhias aéreas nacionais, despencou 98,13% em março, diante do mesmo mês de 2019. A oferta recuou 96,42% na mesma base de comparação. O aproveitamento dos aviões teve redução de 40,53% para 44,25%.
Ao todo, foram transportados 9.210 passageiros, queda de 98,70%. Novamente, os piores desempenhos mensais para esses indicadores desde 2000. Também foi detectada queda de 66,86% na demanda por transporte aéreo de cargas em abril, em relação ao mesmo mês do ano passado. Para o mercado internacional, a retração foi de 58,80%.
> Cadastre-se e acesse de graça, por 30 dias, o melhor conteúdo político premium do país