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Os evangélicos estavam desde meio dia em frente à maternidade, esperando a criança chegar, não permitindo que pessoas entrassem. Eles criaram uma confusão ao tentar entrar no hospital e xingaram a criança de “assassina”.
Os deputados estaduais Clarissa Tércio (PSC) e Joel da Harpa (PP), ambos da bancada evangélica, estavam desde cedo com o grupo de fundamentalistas. Eles gravaram vídeos com os apoiadores e também criaram confusão ao tentar entrar no hospital.
Já no fim da tarde, chegaram também o deputado estadual e pastor Clayton Collins e a vereadora do Recife Michele Collins.
“Quando a menina entrou, chamaram a menina de assassina e estão fazendo a maior pressão. Não deixaram Olimpio entrar, que é o diretor médico da maternidade, está a maior confusão. Eles se ajoelharam na frente da maternidade, ficaram orando, fazendo barulho. A gente teve que intervir”, relatou Elisa Aníbal, advogada e integrante da organização Grupo Curumim. A criança está sendo acompanhada pelo Grupo Curumim e pela Frente Nacional Contra Criminalização das Mulheres e pela Legalização do Aborto.
“Eles já estavam aqui desde meio dia, ficaram sabendo porque o pessoal do Espírito Santo, da igreja, conseguiram a informação e passaram. Ela estava no vôo ainda”, conta a ativista. Um grupo de mulheres também se organizou para protestar contra a ação dos evangélicos.
De acordo com Olímpio Moraes, diretor médico do Cisam, a menina já realizou a interrupção e passa bem. Ela segue internada para a finalização do procedimento de expulsão do feto. A criança veio por meio do encaminhamento da Secretaria de Saúde do Espírito Santo para o Cisam, que é um centro de referência no atendimento ao aborto legal.
“Acho que o pessoal do Espírito Santo comunicou que a menina estava sendo transferida. E a gente mantém sigilo para evitar esses problemas. Essa é uma maternidade que atende muitos casos graves, de alto risco, de paciente graves. Essa aglomeração prejudica até a entrada, o acesso à maternidade daquelas mulheres que estão chegando para parir com risco de morte e causa um problema”, criticou o diretor.
Ele teve que chamar o reforço policial para entrar na maternidade e garantir que pacientes não fossem constrangidos pelo grupo religioso. “Eu mesmo fui impedido de entrar na maternidade. Quando cheguei, a deputada Clarissa Tércio, que eu nem conhecia, queria falar comigo. Ela estava até calma, tranquila, mas o problema são a pessoas em torno. Fizeram um cordão de isolamento na entrada da maternidade e quando acabei de explicar o que estaca acontecendo não me deixaram entrar. Com palavra de ordem, de assassino, e outras palavras mais. Eu não consegui entrar, só quando chegou a viatura policial”, conta.
“Nós trabalhamos atendendo a população pernambucana e nordestina há mais de 20 anos e nunca presenciei isso. Eu acho que o ódio, a intolerância estão sendo impulsionadas nesse momento que estamos vivendo de negacionismo, de fundamentalismo religioso”, avalia Olímpio.
É inacreditável! Cenas da vida real: para impedir a interrupção da gravidez, os fundamentalistas ainda tentam invadir hospital onde está internada a criança vítima de estupro. Por que vida eles reclamam?pic.twitter.com/9twTId0sTk
— Mídia NINJA (@MidiaNINJA) August 16, 2020