Descendente da família imperial brasileira, o deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP) provocou revolta em colegas e integrantes do movimento negro durante discurso em sessão solene na Câmara, nesta terça-feira (14), pelos 131 anos da Lei Áurea, completados ontem (13). O deputado disse que a escravidão, abolida pela lei, é “tão antiga quanto a humanidade” e, por isso, “é quase um aspecto da natureza humana”.
Veja a declaração que causou a polêmica:
O discurso dele foi interrompido por gritos de “luta, resistência e sobrevivência” e de “parem de nos matar” por lideranças do movimento negro e deputados aliados da causa. A sessão só foi retomada dez minutos depois. Chamado de “Príncipe”, por ser trineto da Princesa Isabel, que assinou a Lei Áurea, ele citou que a escravidão se repetiu em vários momentos da história, incluindo os povos indígenas e tribos africanas. “Independente de raça, sim, mas entre si. Faz parte do aspecto do ser humano”, afirmou.
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Durante o protesto, os participantes cantaram o samba da Mangueira, vencedora do Carnaval deste ano no Rio de Janeiro, que abordava o racismo e a negritude. O samba homenageia heroínas negras, como Luiza Mahins e Dandara dos Palmares. A memória da vereadora carioca Marielle Franco (Psol), assassinada em março do ano passado, também é reverenciada na canção.
Amiga de Marielle, a deputada Talíria Petrone (Psol-RJ) disse que o 13 de maio não é uma data a ser comemorada, pois a abolição da escravatura e a liberdade da população negra não foram “concedidas pela bondade de uma princesa”. Mas pela resistência negra, a custo de muito sangue.
Talíria disse que, como professora de História, lamentava o “profundo desconhecimento histórico” demonstrado por deputados como Luiz Philippe de Orleans e Bragança. “Nega a nossa história e tenta apagar a memória de tanta dor, de violação, mas também de tanta resistência do nosso povo”, discursou. “Nós nascemos livres”, acrescentou. Deputados do PSL reagiram com vaias e provocações ao discurso da deputada negra.