O presidente Jair Bolsonaro fez 245 ataques contra o jornalismo no primeiro semestre de 2020. O monitoramento foi feito pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e divulgado na quinta-feira (2/7). Segundo a entidade, aconteceram 211 casos de descredibilização da imprensa, 32 ataques pessoais a jornalistas e 2 ataques contra a Fenaj. “São quase dez ataques ao trabalho jornalístico por semana, neste ano”, aponta o levantamento.
“Para além dos números, os dados mostram que as notícias sobre as ações do governo ou a postura do presidente sobre diversos assuntos transformam a imprensa em sua ‘inimiga’, com a construção de uma narrativa de ataques com o objetivo de promover a descredibilização do trabalho jornalístico e da credibilidade da produção de notícias. Algumas vezes o presidente coloca a imprensa e os jornalistas como ‘inimigos do País’, por conta de coberturas que o desagradam”, afirma a entidade.
Esse monitoramento abarca as declarações públicas de Bolsonaro durante lives, conteúdo publicado no Twitter, vídeos de entrevistas coletivas em frente ao Palácio do Alvorada e os discursos e entrevistas disponibilizadas no portal do Planalto.
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A entidade fez um extenso levantamento das agressões do presidente à imprensa, abaixo selecionamos alguns dos principais episódios.
6 de janeiro
No dia seis de janeiro, o presidente fez um longo discurso contra a imprensa aos jornalistas que o abordaram nas porta do Palácio da Alvorada. Nesse dia, Bolsonaro afirmou que os jornalistas são uma raça em extinção.
“Eu quero que vocês mudem (…) Quem não lê jornal, não está informado, e quem lê está desinformado. Tem que mudar isso! Vocês são uma espécie em extinção. Eu acho que vou botar os jornalistas do Ibama… os jornalistas do Brasil vinculados ao Ibama. Vocês são uma raça em extinção”, afirmou
No mesmo dia, ele disse que a indisposição do seu era porque ele tinha reduzido os pagamentos aos veículos de comunicação.
“Nunca vocês tiveram um presidente que conversasse tanto com vocês, nunca, nunca. E quando conversava era só… ensaboar. E vocês aceitavam, por que? Vocês recebiam mais de R$ 1 bilhão por ano a título de propaganda. Aí pode ficar quieto. Vai dizer que… papai e mamãe, vai dizer que tá tudo bem, e não tava, Brasil tava afundando”, afirmou.
12 de janeiro
Bolsonaro informou, via Twitter, que determinou o cancelamento de assinaturas de jornais na Presidência da República. Essa publicação foi categorizada pela Fenaj como descredibilização da imprensa.
– QUE NOTÍCIA FANTÁSTICA! Por isso cancelei TODAS as assinaturas de jornais e revistas da Presidência. pic.twitter.com/VyOZDw3YaL
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) January 12, 2020
16 de janeiro
Questionado sobre as denúncias envolvendo Fabio Wajngarten, chefe da Secom, responde a repórter da Folha: “Você tá falando da tua mãe?”
6 de fevereiro
Em outro episódio categorizado como descredibilização da imprensa, mais uma vez em frente ao Alvorada, Bolsonaro disse que os jornalistas “querem bagunçar o tempo todo”.
“Muitas vezes nem deturpam mais, mentem descaradamente. Nós queremos a verdade. Eu sei que não depende de vocês o final da matéria, passa por um editor. O cara vai lá e, ‘pô, tenho que ferrar esse presidente aí porque… cortou a verba de publicidade pra nossa televisão”, disse o presidente.
26 de fevereiro
Da série João 8:32/O q leva parte da imprensa a mentir, deturpar, caluniar…enfim, atentar contra o Brasil 24h/dia? Abstinência de verba ou medo da verdade? -Jeremias 1:19/E pelejarão contra ti, mas não prevalecerão contra ti, porque eu sou contigo, para ti livrar, diz o Senhor.
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) February 26, 2020
27 de fevereiro
Na edição de suas lives semanais, Jair Bolsonaro atacou diretamente a jornalista Vera Magalhães por ter revelado que o presidente estava incentivando a participação de aliados em atos contra as instituições democráticas.
“Agora, um trabalho porco, mais um trabalho porco, que a mídia toda repercutiu isso daí, em cima da Vera Magalhães, que eu nunca vi, uns 2 anos pra cá que o pessoal fala sobre ela pra mim, tem na Rádio Jovem Pan, nunca vi, nunca ninguém me falou que ela falou uma palavra positiva sobre a minha pessoa, sobre nosso governo, nada, é só pancada o tempo todo. Afinal de contas né, a imprensa que não atrapalha recebe dinheiro do governo do estado”, afirmou.
4 de março
Em veículo da presidência, um humorista que faz uma paródia do presidente, ofereceu bananas à imprensa, e exaltou apoiadores a ofenderem os jornalistas. Vídeo foi divulgado na conta oficial de Bolsonaro no Youtube.
10 de março
O presidente inaugurou uma série de ataques à imprensa pela cobertura à pandemia de covid-19. Desde o primeiro momento que se manifestou sobre o tema, o presidente tenta minimizar o problema.
“Muito mais fantasia, a questão do coronavírus, que não é isso tudo que a grande mídia propala, ou propaga, pelo mundo todo, (…) ou outra, alguns da imprensa conseguiram fazer de uma crise a queda do preço do petróleo”.
17 de março
Em mais um ataque pessoal à jornalista Vera Magalhães, Bolsonaro reforçou a divulgação de atos antidemicráticos.
– Vá procurar o que fazer, senhora! https://t.co/37Pgm3vQLI
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) March 17, 2020
26 de março
O presidente volta a usar a crise do coronavírus para atacar o trabalho jornalístico – mais uma vez em frente ao Palácio da Alvorada.“Atenção povo do Brasil, esse pessoal diz que eu estou errado e vocês têm que ficar em casa, agora eu pergunto: O que vocês tão fazendo aqui? O que vocês tão fazendo aqui? Imprensa brasileira, o que vocês tão fazendo aqui? O que tão fazendo aqui? Não estão com medo do coronavírus? Vão para casa!”.
19 de Abril
– Essa mesma imprensa diz que todos devem FICAR EM CASA.
– A continuar com o FECHA GERAL não está difícil de saber o que nos espera. pic.twitter.com/Y5xJnGrslg
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) April 19, 2020
29 de Abril
Mais um ataque feito a partir do tema do coronavírus.“As medidas restritivas estão a cargo dos governadores e prefeitos. A imprensa tem que
perguntar para o Doria porque mais gente tá perdendo a vida em São Paulo. Perguntar pra
ele, que tomou todas as medidas restritivas que ele achava que devia tomar. Não adianta a
imprensa querer botar na minha conta essas questões, que não cabem a mim. Não adianta
a Folha de S. Paulo, a Globo aí, que fez uma manchete mentirosa, tendenciosa, querer
colocar a culpa em mim (…) A Globo não tem moral! A Globo não tem moral! Você é um mentiroso, a Globo é mentirosa! (…) Eu não vou pagar pra vocês falar a verdade e falar bem de mim!”.
9 de maio
No dia que o Brasil chegava a 10 mil mortes por covid-19, Bolsonaro anunciou que faria um churrasco com apoiadores no Palácio da Alvorada. Depois da repercusão negativa da fala, voltou atrás.
– Alguns jornalistas idiotas criticaram o churrasco FAKE, mas o MBL se superou, entrou com AÇÃO NA JUSTIÇA.
. Link no YouTube: https://t.co/pQdJJurngy
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) May 9, 2020
15 de maio
Mais um episódio em frente ao Alvorada.
26 de maio
Após seguidos ataques, diversos veículos de imprensa pararam de cobrir as passagens do presidente pela portaria do Alvorada. Assim Bolsoanro reagiu em seu Twitter:
– Globo, Folha e semelhantes decidiram não ir mais ao Alvorada para, em seguida, distorcer o que falo. Que pena! 👍
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) May 27, 2020
9 de junho
Em ocasiões formais, como na reunião do Conselho de Governo, o presidente também criticou a imprensa.
“E com toda a certeza, esse pânico que foi pregado lá atrás, por parte da grande mídia no tocante ao vírus, começa talvez a se dissipar a partir desse dia de hoje”.
“Nós não temos medo da verdade e a gente lamenta sim as especulações, as mentiras que um órgão de imprensa em especial teima em rotular este governo. Ao vivo eles fogem de nós, eles querem sempre é gravar para editar e fazer as suas especulações.
No ano passado, segundo dados da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), a mídia profissional sofreu 11 mil ataques por dia via redes sociais. A média é de sete agressões por minuto. Os dados estão no relatório anual sobre Violações à Liberdade de Expressão.