Veja o vídeo de 2017 com a declaração de Jair Bolsonaro sobre feminicídio:
No dia Internacional da Mulher, comemorado nesta sexta-feira (8), o presidente Jair Bolsonaro não deu grandes declarações a respeito do tema, limitando-se em boa parte a dizer que seu ministério, formado por 20 homens e 2 mulheres, é equilibrado – cada uma das duas ministras vale “por dez homens”, afirmou. Mas em 2017, ainda como deputado, causou polêmica ao defender o fim do “mimimi” do feminicídio (vídeo acima). O Brasil é o quinto país do mundo que mais mata mulheres de formas violenta, aponta a Organização das Nações Unidas (ONU). Nesse mesmo discurso de ontem, porém, o capitão não mencionou nada sobre violência.
Na gravação, o presidente fala em combater o feminicídio com homicídios a partir da garantia a todos da posse de armas. “Parabéns a todas as mulheres do Brasil porque eu defendo a posse de armas de fogo para todos, né? Inclusive vocês, obviamente, as mulheres. Nós temos de acabar com o mi-mi-mi. Acabar com essa história de feminicídio, que, daí, com arma na cintura, vai ter é homicídio, tá ok? Valeu, felicidades!”, disse na gravação feita em março daquele ano, ao lado da hoje deputada Carla Zambelli (PSL-SP).
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“Parabéns a todas as mulheres do Brasil porque eu defendo a posse de armas de fogo para todos, né? Inclusive vocês, obviamente, as mulheres. Nós temos de acabar com o mi-mi-mi. Acabar com essa história de feminicídio, que, daí, com arma na cintura, vai ter é homicídio, tá ok? Valeu, felicidades!”
Facilitar o acesso a armas é umas das principais bandeiras de Bolsonaro. Ele, inclusive, assinou em janeiro um decreto facilitando a posse de armas de fogo no país, prometendo, na ocasião, novas medidas para ampliar ainda mais essa permissão à população.
Procurada pelo Congresso em Foco para esclarecer as circunstâncias do vídeo, Carla explicou que ele ocorreu após Bolsonaro gravar de uma entrevista e ela lhe dar uma carona para o hotel, em São Paulo. À época, a parlamentar era umas das líderes do movimento “Nas Ruas” que apoiava o impeachment de Dilma Rousseff. A gravação foi postada nas redes sociais do movimento pró-impeachment e recebeu comentários de todos os tipos, críticos e favoráveis. Nesta sexta (8), dia Internacional da Mulher, o vídeo voltou a circular nas redes sociais.
“Se metade das mulheres tiverem porte de arma, os estupradores pensarão cinco vezes antes de atacar uma de nós, e se soubermos manejar uma arma, poderemos sim, nos defender” defendeu a deputada Carla Zambelli à reportagem, por mensagem de WhatsApp.
Para a deputada Maria do Rosário (PT-RS), uma das mais engajadas na causa feminina no Congresso Nacional, a fala de Bolsonaro, mesmo dita antes de ele assumir a Presidência, é “absurda”. “São declarações trágicas para qualquer pessoa, ainda mais para uma autoridade pública, porque incitam a violência. A primeira parte da declaração considera o feminicídio ‘mimimi’, ou seja, que as mulheres se fazem de vítima. Mas as mulheres estão sendo assassinadas. Ele desconsidera a gravidade do que significa a morte de mulheres”, afirmou ao Congresso em Foco.
Maria do Rosário, além de defensora das mulheres, é também uma das maiores rivais de Bolsonaro na Câmara, autora de duas ações contra ele no Supremo Tribunal Federal (STF), por apologia ao estupro e injúria. Os casos se referem ao episódio de 2014, quando o capitão, então deputado, afirmou que Maria do Rosário não merecia ser estuprada porque a considerava “muito feia” e não fazer “o seu tipo”.
No início de fevereiro, o ministro da Suprema Corte Luiz Fux suspendeu as ações alegando que, como presidente, Bolsonaro não poderia ser processado por atos alheios ao exercício do mandato – os processos podem ser retomados quando o capitão deixar a Presidência.
Dados
O Brasil é o quinto país do mundo que mais mata mulheres de formas violenta, aponta a Organização das Nações Unidas (ONU) em classificação feita em 2016, quando houve, ainda de acordo com a entidade, mais de 1,1 mil feminicídios – crimes praticados só pelo fato de a vítima ser mulher.
Segundo o Anuário de Segurança Pública também da ONU, de 2017, por dia, aconteceram 606 casos de violência doméstica com lesão corporal dolosa, quando há intenção de lesionar a vítima. Ao todo, foram mais de 221 mil registros de violência doméstica, só em naquele ano.
A Lei Maria da Penha está em vigor desde 2006 e tornou mais rigorosa a punição para crimes de agressão contra a mulher. “A violência com a mulher funciona como uma espiral. Inicia com a desvalorização, violências psicológicas, palavrões, empurrões, sentimentos de posse. Há na nossa cultura a ideia de que o ciúme, a posse, possa revelar cuidado, mas não, é violência. Até chegar à violência física”, disse Maria do Rosário.
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Ela destaca, porém, que em muitos casos as vítimas ainda têm medo de denunciar. Seja pela impunidade, seja por medo do agressor não ser punido. “A vítima quer se proteger do agressor, avalia que o sistema não vai protegê-la e não está mesmo protegendo. As delegacias não estão preparadas”, concluiu a deputada.
Campanha
Dos 22 ministros do governo Bolsonaro, duas são mulheres: Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) e Tereza Cristina (Agricultura). “Pela primeira vez na vida o número de ministros e ministras está equilibrado em nosso governo. Temos 22 ministérios, 20 homens e duas mulheres. Somente um pequeno detalhe: cada uma dessas mulheres que estão aqui equivale por dez homens. A garra dessas duas transmite energia para os demais”, afirmou o presidente.
Antes da cerimônia no Palácio do Planalto em que as ministras foram citadas pelo presidente, Damares lançou a campanha “Salve uma mulher”. A ideia é treinar os profissionais da área de beleza para identificar sinais de violência e ajudar as mulheres a denunciar crimes.
No discurso, ela relacionou ideologia de igualdade de gênero com violência contra a mulher: “Enquanto nossos meninos acharem que menino é igual a menina, como se pregou no passado algumas ideologias, já que a menina é igual, ela aguenta apanhar. Nós vamos dizer para eles que elas são iguais em oportunidades e direitos, mas diferentes fisicamente e precisam ser amadas”.
Acrescentou ainda: “Nós vamos ensinar aos nossos meninos nas escolas a levar flores para as meninas. Por que não? Abrir porta do carro para mulher, por que não? A se reverenciar para uma mulher, por que não? Nós não vamos estar, dessa forma, colocando a mulher em situação de fragilidade, não. Mas nós vamos elevar a mulher para o patamar de um ser especial, pleno, de um ser extraordinário. E é isso que a gente quer fazer lá na escola”.
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