Na última sexta-feira (31) o presidente Jair Bolsonaro, mais uma vez, foi à público atacar os povos indígenas e uma das mais importantes entidades do setor. As palavras do presidente acenderam o alerta vermelho dentro do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), pois, segundo o secretário executivo do Cimi, Antônio Eduardo Cerqueira de Oliveira a “fala do presidente foi muito desrespeitosa e ao mesmo tempo ela contribui para todo esse processo de violência contra os defensores dos direitos humanos no Brasil”.
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“[Roraima] É um dos estados mais ricos do Brasil, nas questões de reserva. Nós estamos com dificuldades de levar a União para lá por questões indigenistas. O Cimi sempre prestou um desserviço para o Brasil”, disse o mandatário na sexta.
“A gente responsabiliza o governo federal, na pessoa do presidente Jair Bolsonaro, por qualquer dano que venha a ser causado aos missionários do Cimi”, disse em entrevista ao Congresso em Foco.
O pensamento de Eduardo vai de encontro com o que diz uma das maiores lideranças indígenas do país, Sônia Guajajara. Ela responsabilizou o presidente Jair Bolsonaro pelo assassinato a tiros de dois homens de sua comunidade, no início do mês, na BR 226, que corta a terra indígena do povo Guajajara no Maranhão. Firmino Prexede Guajajara e Raimundo Guajajara foram atingidos por ocupantes de um veículo quando voltavam de uma reunião em que discutiam a defesa dos moradores da região. Outros quatro indígenas foram feridos.
“Esses crimes não são casos isolados, são reflexo do ódio que vem sendo disseminado pela autoridade máxima do país contra nós, povos indígenas. O presidente deveria cumprir a Constituição Federal e garantir a proteção às nossas vidas e ao meio ambiente. Infelizmente o que vemos é o contrário, um comportamento que não condiz com o de um presidente. Exigimos justiça. esses crimes não podem continuar impunes”, disse Sonia em um vídeo publicado nas redes sociais.
“É a fala de um presidente da República. Isso tem um peso. Isso coloca os apoiadores dele em uma franca cruzada contra os colaboradores do Cimi”, declarou Eduardo.
O secretário denunciou à reportagem a perseguição sofrida pelos missionários da entidade. Segundo ele, os agentes do Cimi não estão tendo acesso às reservas indígenas, o que nunca havia acontecido. “Já existe algumas áreas em que o Cimi não está conseguindo entrar. Da mesma forma que funcionários da Funai que eram mais ligados às causas indígenas estão sendo exonerados e impedidos de trabalhar”, disse.
“Sempre existiu diálogo, nunca houve problemas de ataques contra os servidores do Cimi. Agora o Cimi está sendo impedido de entrar nos ministérios. O governo nunca fez nenhuma restrição de acesso às áreas indígenas, mas agora nós temos uma política voltada totalmente para a tutela que quer desconsiderar os direitos indígenas. Os indígenas passam a não ter direito sobre o seu território e sobre si mesmos”, declarou.
“O governo caminha na direção do aumento da violência. As falas e as ações do governo fazem com que isso ocorra: as invasões por parte de garimpeiros e madeireiros. As queimadas que aconteceram, isso tudo vem em decorrência da fala do presidente da República”, afirmou.
Eduardo relembrou outra fala recente do presidente Jair Bolsonaro. “Recentemente ele disse que os povos indígenas estão caminhando para virar gente. Ou seja, ele considera índios animais”, declarou Eduardo.
“O índio mudou, tá evoluindo. Cada vez mais o índio é um ser humano igual a nós. Então, [precisamos] fazer com que o índio se integre à sociedade, e que seja verdadeiro de sua terra. É isso que queremos aqui”, disse o mandatário no último dia 23.
Em 11 anos, nunca se matou tantas lideranças indígenas como em 2019. Até o início de dezembro do ano passado foram sete lideranças mortas por fazendeiros e madeireiros ilegais.
Conselho Indigenista Missionário
O Cimi é um organismo vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Criado em 1972, no auge da Ditadura Militar, a instituição visa lutar pelos direitos dos povos indígenas.
A missão do grupo é: “Testemunhar e anunciar profeticamente a Boa-Nova do Reino, a serviço dos projetos de vida dos povos indígenas, denunciando as estruturas de dominação, violência e injustiça, praticando o diálogo intercultural, inter-religioso e ecumênico, apoiando as alianças desses povos entre si e com os setores populares para a construção de um mundo para todos, igualitário, democrático, pluricultural e em harmonia coma natureza, a caminho do Reino definitivo”.
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