Na semana que passou houve dois grandes eventos na “locomotiva” do Brasil, a cidade de São Paulo. Dois eventos com objetivos aparentemente díspares, porém convergentes. Como gay ativista, eu não poderia deixar de expressar minhas observações. A Marcha para Jesus orou contra a corrupção e pediu liberdade de expressão. A Parada LGBT teve como lema”independente de nossas crenças, nenhuma religião é lei. Todas e todos por um Estado Laico”.
Alguns aspectos da Parada LGBT me chamaram a atenção, em especial o número expressivo de mães e pais que “saíram do armário”. Que bom! É na família que precisamos amar e ser respeitados. Também, a participação expressiva de pessoas com deficiência manifestando sua orientação sexual e identidade de gênero, além do número considerável de artistas, Fernanda Lima, maravilhosa diva, Anita, Daniela Mercury, Leandra Leal, Naiara Azevedo e muito mais.
Mas estou muito feliz mesmo é com a pesquisa feita na Marcha para Jesus e coordenada pela profa. Esther Solano (Unifesp), pelo prof. Márcio Moretto Ribeiro (USP) e pelo prof. Pablo Ortellado (USP), com margem de erro máxima de 4,5%. Entre muitos outros dados interessantes, a pesquisa mostrou que 33,5% consideram que a união de pessoas do mesmo sexo constitui uma família. Aumentou 8% em relação a pesquisas anteriores. 34,7% concordam que dois homens devem poder se beijar na rua sem serem importunados e 18,6% concordam que as pessoas travestis devem poder usar o banheiro feminino.
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Jesus, que acolheu a prostituta, abraçou o ladrão, curou o “leproso”, estava presente na Marcha para Jesus deste ano. Vamos dialogar! Não precisamos de guerra santa. Não queremos que uma pessoa jogue ácido na cara de uma pessoa evangélica e fale “tome aí crente”, como aconteceu com um gay que está internado em um hospital em Curitiba. Não queremos a segregação, fazendo campanha para que determinadas pessoas não venham a morar na nossa rua, agora vamos ter evangélicos como vizinhos no bairro de Água Verde em Curitiba.
Queremos estar juntos e misturados, respeitando o direito inalienável a professar a fé de cada um, e o respeito à orientação sexual e à identidade de gênero de cada um. Vamos nos encontrar para nos amar mais e odiar menos.
PublicidadeAmbos os eventos tinham um mar de gente e, independente do número de participantes, as duas manifestações são legítimas. Para fazer uma sociedade plural precisamos ter pessoas LGBT, pessoas evangélicas, héteros, corintianos e tudo mais… Tudo isso é garantido na Constituição Federal e nas convenções internacionais. Mas uma palavrinha poderia resumir tudo: respeito. Ame ao seu próximo como a si mesmo.
Temos que construir mais pontes e derrubar mais muros. Precisamos ter mais competência cultura, mais alteridade e mais altruísmo. Afinal, todas e todos queremos a dignidade humana.
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