Futuro “superministro” em estrutura que reunirá Justiça e Segurança Pública, o agora ex-juiz Sérgio Moro disse nesta segunda-feira (3) que trocou o Judiciário pelo governo Jair Bolsonaro (PSL) porque cansou de “levar bola nas costas”. Ex-símbolo da Operação Lava Jato, Moro quis dizer que suas sentenças como juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba (PR), onde condenou diversos políticos no âmbito do petrolão, tinham efeito limitado e não eram suficientes, isoladamente, para o combate à corrupção.
“Como gostamos de futebol, temos no Brasil uma expressão segundo a qual alguém diz estar cansado de levar bola nas costas”, declarou o ex-juiz, segundo registro do site do jornal Folha de S.Paulo.
Moro é um dos convidados do seminário internacional “Grandes Desafios da Ibero-América”, realizado na Espanha pela Fundação Internacional para a Liberdade. Em sua exposição – feita ao lado do escritor peruano Mario Vargas Llosa (foto), que preside a instituição e media o debate –, o futuro ministro disse que investigadores, procuradores e juízes não dão conta da tarefa anticorrupção.
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“Meu trabalho no Judiciário era relevante, mas tudo aquilo poderia se perder se não impulsionasse reformas maiores, que eu não poderia fazer como juiz”, alegou o ex-juiz, para quem são essenciais as providências complementares dos demais Poderes (Executivo e Legislativo).
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Moro disse ainda que não foi seduzido pelo poder ao aceitar o convite de Bolsonaro para sua equipe ministerial. “Durante estes quatro anos [de atuação na Lava Jato], me perguntei se não tinha ido longe demais na aplicação da lei, se o sistema político não iria revidar. Esse caso ia chegar ao fim, e era preciso que gerasse mudanças institucionais. Me senti tentado pela possibilidade de fazer algo mais significativo, não pela posição de poder”, completou o ex-magistrado, que também é cogitado, mais adiante, para postos como o Supremo Tribunal Federal e para própria disputa presidencial – algo que, por ora, ele não discute.
Veja o pronunciamento de Moro:
Ainda segunda a Folha, Moro foi apresentado por Vargas Llosa na abertura do evento como “juiz desconhecido que, com grande coragem e conhecimento das leis brasileiras, iniciou uma campanha eficiente de combate à corrupção respaldada pela população”. O prêmio Nobel de literatura disse ainda que Bolsonaro é recorrentemente classificado pela imprensa internacional como “líder de extrema direita, inimigo das conquistas democráticas e liberais, em suma, um fascista” – nesse ponto da intervenção, a plateia riu quando o escritor disse não acreditar que mais de 50 milhões de brasileiros, referência aos eleitores de Bolsonaro, tenham se tornado fascistas.
Moro aproveitou e defendeu seu futuro chefe dos “equívocos” relativos a imagem. “Não vislumbro no presidente traço de autoritarismo. O próprio reiteradamente afirmou seu compromisso com a democracia e com o Estado de Direito. Era o principal candidato opositor [o petista Fernando Haddad] que, a rigor, tinha propostas de controle social da imprensa e do Judiciário”, afirmou.
A partir de 2019, Moro terá à sua disposição o maior orçamento do Ministério da Justiça nesta década. Além disso, estará à frente de uma superestrutura que, além das pastas da Justiça e da Segurança Pública, reunirá órgãos como o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que hoje é vinculado ao Ministério da Fazenda. Ao falar sobre seu escolhido para encabeçar a luta anticorrupção, Bolsonaro se dirigiu a “corruptos” e disse que Moro, que antes “pescava com uma varinha”, passaria a fazê-lo “com rede de arrastão.
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