Mário Coelho
Por conta de prisão de policiais civis de Goiás acusados de instalar aparelhos de escuta ambiental na Câmara Legislativa, a Polícia Civil do Distrito Federal entrou em uma profunda crise. Isso porque o então chefe da PCDF, delegado Cléber Monteiro, recusou-se a abafar o caso, já que o mandante, de acordo com fontes do Congresso em Foco, foi Fábio Simão, ex-chefe de gabinete do governador José Roberto Arruda.
Inicialmente, a informação obtida pelo site era de que quatro policiais civis goianos haviam sido detidos na Câmara Legislativa na quarta-feira (3). Na verdade, foram dois policiais civis goianos e um servidor comissionado da Câmara. Eles foram presos por policiais da Divisão Especial de Combate ao Crime Organizado (DECO) da Polícia Civil brasiliense. Eles tentavam instalar escutas ambientais nos corredores e nas janelas do prédio da Câmara.
Os alvos eram deputados da oposição. As salas da liderança do PT na Casa, os gabinetes dos petistas Erika Kokay e Cabo Patrício, além da distrital Jaqueline Roriz (PMN), filha do ex-governador Joaquim Roriz, seriam monitoradas. O site apurou que não foram somente oposicionistas os alvos dos grampos ordenados por Fábio Simão. Eliana Pedrosa (DEM), ex-secretária de Desenvolvimento Social do GDF, também foi alvo dos arapongas.
Eles foram presos pelos agentes da DECO no fim da tarde de quarta e imediatamente levados para a sede da divisão, no Setor de Indústria e Abastecimento de Brasília. Foram interrogados e depois liberados. Com eles, os policiais encontraram um relatório de atividades dos deputados grampeados. Nas anotações, inclusive, estavam detalhes de uma reunião feita por Eliana Pedrosa com colegas da Câmara.
Ordem para abafar
Porém, a prisão dos policiais goianos chegou aos ouvidos do Executivo. Imediatamente, foi dada a ordem para que o caso fosse abafado. Como os arapongas respondiam ao ex-chefe de gabinete de Arruda, a divulgação dos grampos se transformaria em mais uma pedra na vidraça do governador. O diretor-geral da Polícia Civil não aceitou esconder a história. Por isso, acabou pedindo demissão do cargo. “A Polícia Civil está em crise com o desdobramento deste caso”, disse um policial ao Congresso em Foco.
Oficialmente, a saída de Cléber Monteiro deve-se a problemas pessoais. Filiado ao PPS, ele tem planos de se candidatar a deputado distrital, tendo como base o trabalho feito em duas décadas de Polícia Civil. Ele usaria os próximos meses, até abril, quando deveria se desincompatibilizar do cargo. No entanto, o site apurou que, enfurecido pela descoberta dos grampos e pelo pedido de encobrir o caso, o delegado preferiu pedir exoneração do cargo.
Para o lugar de Cléber Monteiro, dificilmente outro delegado da direção da Polícia Civil aceitaria a indicação do governador. Arruda, então, lembrou de Antônio Coelho, que chefiou a 2ª Delegacia de Polícia, no bairro da Asa Norte, por oito anos. A unidade é responsável pelo maior número de atendimentos e registros de ocorrências de todo o DF. Em 2007, Coelho já tinha sido cogitado para o cargo. Mas, como ainda não tinha experiência em cargos na direção, foi preterido por Cléber Monteiro.
Ao Congresso em Foco, Coelho disse que não conversou com o governador sobre assumir o cargo. Atualmente, é diretor adjunto do Departamento de Trânsito do DF (Detran-DF). De acordo com interlocutores, ele foi sondado, mas preferiu ficar no cargo atual. “Me deixem tranquilo no meu canto”, disse, segundo pessoas ouvidas pela reportagem. O delegado passa férias em Fortaleza desde terça-feira (2). Sobrou então uma escolha caseira: o delegado Pedro Cardoso, que era secretário adjunto de Segurança Pública.
Indústria do grampo
A mudança no comando da Polícia Civil é apenas um dos elementos que reforçam a verdadeira indústria do grampo que existe entre os políticos brasilienses. Nos meios policiais, já era conhecido o monitoramento de deputados da oposição. Tanto que os policiais da DECO agiram e prenderam os agentes goianos. “Tenho certeza que policiais do DF não encobertariam um caso desses”, disse o delegado Mauro Cezar Lima, presidente do Sindicato dos Delegados do Distrito Federal (Sindepo).
O governo, até o momento, mantém silêncio sobre o caso. O líder do PT na Câmara, Paulo Tadeu, conversou na quinta-feira (4) com o secretário de Segurança do DF, Valmir Lemos. Ele pediu explicações e mais informações sobre o que foi investigado e exigiu providências. De acordo com o petista, nenhuma resposta foi dada até o momento.
Por isso, a bancada do partido decidiu entrar com um requerimento pedindo todas os detalhes da prisão e dos depoimentos dos envolvidos. “Queremos informações sobre o inquérito e sobre as prisões. Os quatro deputados do PT assinarão o requerimento, e buscaremos outras assinaturas”, afirmou o líder do PT. “Isso não pode ficar sem explicação”, concluiu.
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