Mário Coelho
Os dois requerimentos apresentados pelo ex-secretário de Relações Institucionais do governo do Distrito Federal Durval Barbosa para adiar seu depoimento na CPI da Corrupção não foram apresentados por acaso. O adiamento do depoimento sem data marcada reflete o jogo pesado dos governistas, na última tática possível depois que a Justiça manteve a CPI do Mensalão do Arruda e, consequentemente, o depoimento do autor das denúncias que revelaram o esquema de corrupção montado pelo governador José Roberto Arruda (ex-DEM, hoje sem partido) e que envolveu membros do Executivo e do Legislativo local.
Desde sexta-feira, quando a Justiça confirmou que a CPI não foi cancelada, emissários iniciaram uma intensa distribuição de recados a Durval. Deixaram claro que ele não teria o palco da maneira que queria. Os governistas desistiram da ideia inicial de negar quorum ao depoimento de Durval. Isso poderia abrir espaço para que ele reinasse no meio apenas de oposicionistas. Mesmo sem quorum, com a presença da imprensa, poderia ser montado um depoimento informal, que comprometeria ainda mais Arruda. Assim, os governistas mandaram a Durval recados de que, compareceriam, sim, ao depoimento, e de que não deixariam que ele se concentrasse em fazer novas denúncias contra o governador. fizesse novas denúncias contra Arruda. Caso ele não desistisse, fariam valer o nome oficial da CPI, que batizaram de comissão da Companhia de Desenvolvimento do Distrito Federal (Codeplan). E quem comandou a Codeplan no governo Joaquim Roriz foi Durval Barbosa. Enfim, os governistas transformariam a CPI do Mensalão do Arruda na “CPI do Durval”.
Apesar do ponto de partida da CPI ser o inquérito 650DF, da Operação Caixa de Pandora, que investigou o esquema montado por Arruda, o requerimento de criação da CPI deixa claro que os deputados pretendem investigar os últimos 18 anos de denúncias de corrupção no GDF. Nesse espectro ampliado, Durval deixa de ser mera testemunha para ser, sim, um investigado que pediu o benefício da delação premiada.
“Quem disse que ele vai depor como testemunha?”, questionou ontem o deputado Alírio Neto (PPS), que preside a CPI da Corrupção. Ele respondeu a uma colocação feita por jornalistas sobre a possibilidade de os distritais usarem o poder de polícia para fazer Durval depor. E que, na qualidade de testemunha, ele poderia se comportar de maneira diferente da de um acusado. “Não temos como fazer isso. Não sabemos nem onde ele está”, completou o distrital.
O Congresso em Foco perguntou a Alírio se ele foi pego de surpresa pelo anúncio de Durval. Ele disse apenas que estava envolvido em outras atividades, e que chegou na Câmara direto para a sessão plenária de ontem, que iniciou às 15h. Porém, o site apurou que, desde sexta à noite, Durval já tinha tomado sua decisão de não depor, pelo menos neste momento. E a razão foram justamente as pressões e ameaças que chegaram aos seus ouvidos. Seu requerimento pedindo o adiamento, entregue ontem, tinha a data de sábado (23).
Os governistas já chegaram na Câmara ontem com a certeza que o depoimento não aconteceria. O primeiro secretário Wilson Lima (PR) chegou a cometer um deslize. Ao ser questionado por jornalistas se iria ao depoimento, respondeu que não, “pois a informação que tinha é que seria cancelado”. Depois, retificou-se, dizendo: “este é o boato que corre pela cidade”.
Com a ajuda do irmão
Os recados chegaram aos ouvidos de Durval, inclusive por meio de seu irmão, o distrital Milton Barbosa (PSDB). Caso depusesse, o ex-governador Joaquim Roriz, que não foi atingido até agora pelas denúncias, seria o alvo. Todas as perguntas dos quatro deputados aliados a Arruda seriam sobre o tempo que o ex-secretário comandou a Codeplan, órgão que centralizava os contratos de informática de todo o GDF.
O ataque não ia parar em Roriz. Os distritais também garantiram munição contra o tucano Milton Barbosa. Apesar de não ter uma relação muito próxima com o irmão, Durval preferiu recuar.
Ontem à noite, Durval rompeu o silêncio. Em nota redigida ao blog da jornalista brasiliense Paola Lima, afirmou que concorda em depor em breve. Mas pede que os deputados se organizem. “Os requerimentos de alteração de data serviram somente para isso. Pedir respeito ao povo. Jamais iria para um ringue, onde serão distribuídos vários safanões, com a ausência de organização e seriedade”, afirmou Durval.
Durval é conhecido por seu temperamento explosivo. Quando provocado, é capaz de retrucar com violência contra adversários. Nisso, ele poderia fazer novas denúncias aos distritais que já estão em apuração pela Polícia Federal, fato que poderia comprometer o trabalho de investigação realizado desde setembro. O que Durval não conta é que a oposição gastou todas as fichas para aprovar o requerimento da sua convocação.
Com uma intensa troca de manobras no jogo de xadrez, o fato é que nem governistas e oposicionistas têm conseguido manter a vitória por mais de 24 horas. É preciso esperar o próximo lance, mas o adiamento do depoimento de Durval pareceu ter deixado os membros da oposição na Câmara Legislativa sem ação. Nos bastidores, eles consideram mínima a probabilidade de o ex-secretário do GDF vir a ser ouvido pelos parlamentares em outra oportunidade.
“Nós temos o interesse de ouvi-lo, mas não nesse momento, que não é o mais apropriado” disse o vice-presidente da CPI, Batista das Cooperativas. Após reunião informal ontem à noite entre Batista, Alírio e o relator Raimundo Ribeiro (PSDB), ficou definido que a nova data “será construída” com o MPF e a Polícia Federal. Cogitou-se um encontro com membros do Ministério Público nas investigações, que acabou não confirmado.
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