A fachada do Museu Nacional da República, no Eixo Monumental de Brasília, era usada para projetar fotos de algumas das mais de 520 mil vítimas da covid-19 enquanto, logo ao lado, o Congresso em Foco conversou, na noite deste sábado (3), com a deputada federal Erika Kokay (PT-DF).
Na borda do espelho d’água em frente ao museu, velas foram acessas em memória das milhares de vidas perdidas na pandemia. A homenagem marcou o encerramento das manifestações deste sábado contra o governo de Jair Bolsonaro e pelo impeachment do presidente.
A parlamentar afirma ter sido a maior manifestação até agora e prevê que, com os escândalos de corrupção envolvendo o governo federal cada dia mais escancarados, a adesão aos protestos só cresça. Com o avanço da vacinação – ainda que lento – o aumento do número de pessoas nos atos em todo o país é nítido.
Entre os parlamentares a adesão ainda é majoritariamente dos partidos de oposição ao governo. Porém, na avaliação da petista, “qualquer parlamentar, de qualquer partido, não poderia estar agindo como se nós estivéssemos numa normalidade democrática. Isso é uma coisa suprapartidária”.
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A deputada cita a gravidade das denúncias de corrupção envolvendo o Ministério da Saúde e o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), e ressalta que o presidente em nenhum momento negou as irregularidades.
Publicidade“Como é possível um parlamentar, que diz que iria respeitar a Constituição quando tomou posse, que seguramente não fez campanha dizendo que seria omisso ou cúmplice na omissão, cúmplice de corrupção na sua campanha, não se posicionar contra?”, questiona.
Ao Congresso em Foco, Erika Kokay alerta parlamentares que ainda não se posicionaram contra ou que seguem na defesa do governo. “Existem muitos cúmplices na Câmara que, talvez quando decidirem – por não conseguirem mais se beneficiar com a sua cumplicidade, decidam romper e talvez seja tarde demais. E para a democracia sempre a gente tem muita pressa […] Não dá para esperar e a história vai cobrar desses que se calam e atuam como cúmplices de Bolsonaro”, diz.
O custo-Centrão
Nos protestos deste sábado em Brasília, cartazes citavam o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), como cúmplice do atual governo. A eleição de Lira ao comando da Casa selou o acordo de Bolsonaro com o Centrão e consolidou uma base de apoio entre os deputados, que têm garantido a aprovação de medidas duramente criticadas como a privatização da Eletrobras, mudanças no licenciamento ambiental e a liberação da mineração em terras indígenas.
Para reduzir ainda mais os entraves no avanço da pauta governista, em maio, Lira – em ato visto como autoritário e censor – mudou o regimento interno da Câmara, reduzindo os mecanismos de obstrução dos debates e do tempo de fala dos parlamentares.
“Eles sabem que, ainda que tenham uma maioria, o processo de obstrução serve para ampliar a discussão, democratizar e dialogar com a sociedade. Então, nós estamos vivenciando um momento muito duro porque você tem um regime de exceção na Câmara, Lira é responsável por um regime de exceção”, critica a deputada.
Nas próximas duas semanas, Lira pretende fazer um esforço concentrado e pautar uma série de projetos delicados e que enfrentam resistências na Casa, como os que tratam da regularização fundiária e de mudanças na legislação eleitoral. Caso haja acordo, ainda segundo o presidente da Câmara, os projetos relacionados à reforma tributária também podem ser votados no período.Na avaliação da deputada Erika Kokay, ainda que a grande base do governo seja a Câmara, deputados do Centrão já trabalham com a possibilidade de Bolsonaro não se reeleger. Assim, trabalham para aprovar o quanto antes projetos de seus interesses.
“Isso constrói um movimento de insegurança, mas também de dar celeridade às negociatas. Então tanto de celeridade à pauta, porque não se sabe quanto tempo ele [Bolsonaro] terá as condições de sustentáculo institucional que ele tem na Câmara. Então, ele [o Centrão] acelera a pauta e, ao mesmo tempo, cobra caro por isso”, avalia.
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