Mário Coelho
Com a sucessiva divulgação de denúncias envolvendo o Senado, os senadores usaram hoje (23) novamente a tribuna do plenário para cobrar do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), a divulgação dos atos secretos. Na tentativa de forçar a Mesa Diretora a publicar todos os documentos, o senador Augusto Botelho (PT-RR) apresentou um requerimento para que eles sejam divulgados imediatamente.
Botelho fez o anúncio da tribuna do Senado. Ele pediu, em discurso, que os senadores apóiem a iniciativa. “Deve ser tudo publicado. Palavra por palavra, vírgula por vírgula, ponto por ponto”, afirmou o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), que presidiu a Casa até 1º de fevereiro.
O apelo para a publicação dos atos secretos foi uma reação à reportagem publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo nesta terça-feira (23). De acordo com o periódico, a edição de atos secretos beneficiou ou obteve a chancela de pelo menos 37 senadores e 24 ex-parlamentares desde 1995, sem distinção partidária.
De acordo com o jornal, o corregedor Romeu Tuma (PTB-SP) aparece na relação. O atual primeiro-secretário, Heráclito Fortes (DEM-PI), responsável pela comissão que levantou os atos, também está no grupo dos parlamentares com cargo na Mesa que referendaram parte dos atos secretos.
Por causa da reportagem, o senador Tião Viana (PT-AC) ocupa a tribuna do plenário desde as 15h – ele também aparece na relação do jornal paulista. Tião, que tem concedido vários apartes aos colegas de Casa, assumiu total responsabilidade por todos os atos administrativos que assinou durante o período que presidiu o Senado, em 2007. “Não pedi para que qualquer desses atos não fosse publicado”, afirmou.
“Precisamos de um novo diretor, que pode ser até de fora do Senado Federal”, opinou o senador Flávio Arns. Para ele, é preciso uma “ruptura imediata” para recuperar a imagem do Senado com a opinião pública. Ele propôs que a Mesa Diretora se reúna diariamente até chegar a uma solução para os problemas enfrentados pelo colegiado. “Para encontrar soluções de imediato para que a instituição possa contribuir de fato com a sociedade”, comentou.
Imprensa
Ao pleitear a divulgação dos atos secretos, os senadores acabaram também disparando contra a imprensa. O senador Geraldo Mesquita Júnior (PMDB-AC) criticou a forma como os veículos de comunicação têm tratado o caso dos atos secretos do Senado. Ele reclamou da divulgação de que haveria um ato secreto envolvendo seu nome. “Isso aqui é um massacre e é indevido”, afirmou. Para ele, o cidadão que toma conhecimento das matérias publicadas pela imprensa pode julgar mal os senadores.
O senador Jefferson Praia (PDT-AM) fez o contraponto. Para ele, não é a imprensa que quer manchar a instituição. “Quem quer manchar é quem pratica atos de corrupção, quem quer colocar a culpa nos 81 senadores”, disse. Durante aparte no discurso de Tião Viana, ele minimizou a assinatura de atos secretos pelo colega de bancada. “Quantos documentos nós assinamos na Mesa sem ler? Já fizemos isso várias vezes para fazer o plenário funcionar”, comentou.
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