Mário Coelho
O ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz desmentiu, em depoimento por escrito enviado à Comissão de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara Legislativa, a versão dada pela deputada distrital Eurides Brito (PMDB) para o recebimento de dinheiro das mãos do ex-secretário de Relações Institucionais do DF Durval Barbosa. A peemedebista argumentou que o valor recebido na época, R$ 30 mil, era para ressarcir suas despesa com eventos realizados para a pré-campanha de Roriz ao Senado. “Nunca assumi compromisso de ressarcimento de despesas da então candidata Eurides Brito”, disse o ex-governador no documento entregue à Comissão.Em um dos vídeos gravados por Durval, Eurides aparece colocando maços de dinheiro em uma bolsa.
Veja o vídeo em que Eurides Brito guarda o dinheiro da propina na bolsa:
Para prestar esclarecimentos na Comissão de Ética, Roriz negociou com a relatora do caso, Erika Kokay (PT), enviar as respostas por escrito. A petista, então, listou sete perguntas ao ex-governador, todas relacionadas com o momento que vivia o PMDB nos meses anteriores à campanha de 2006. Com a decisão de apoiar a então vice-governadora Maria de Lourdes Abadia (PSDB) ao governo, o partido rachou. Parte dos peemedebistas seguiu Roriz e Abadia, enquanto outra parte – incluindo Eurides – resolveu apoiar a chapa pura do então PFL (hoje DEM), formada por José Roberto Arruda e Paulo Octávio.
“Houve, naturalmente, resistências no PMDB, que ficou dividido politicamente. Por conta disso, participei de reuniões partidárias que contaram com a presença de distritais do partido, inclusive a deputada distrital Eurides Brito. No entanto, não chegamos a um acordo, o que inclusive levou a uma intervenção da direção nacional do partido”, disse Roriz. Ele disse também que, durante a campanha, participou de “inúmeras reuniões públicas” para pedir votos a Abadia. Mas negou que Eurides tenha participado de qualquer uma delas. Questionado se havia o compromisso de reembolsar Eurides, novamente negou.
O ex-governador, que foi obrigado a renunciar ao mandato de Senador em 2007, disse também que a peemedebista nunca apresentou planilhas ou orçamento das despesas realizadas com as reuniões políticas. “Só tomei conhecimento desses fatos recentemente, pela imprensa. Soube desses fatos pela televisão, rádios, blogs e jornais”, afirmou. Roriz renunciou ao mandato após ser acusado de quebra de decoro parlamentar. Na época, investigação da Polícia Federal mostrou conversas telefônicas que o implicavam. Os diálogos mostravam o negócio da partilha de R$ 2,2 milhões com o ex-presidente do BRB (Banco de Brasília) Tarcísio Franklin de Moura. A partilha seria feita no escritório do empresário Nenê Constantino, presidente do Conselho de Administração da Gol. O ex-governador negou as acusações e disse que pediu um empréstimo de R$ 300 mil a Nenê – quantia descontada de um cheque de R$ 2,2 milhões do empresário. O dinheiro, segundo ele, teria sido utilizado para comprar uma bezerra e ajudar um primo.
A versão dada por Eurides, na defesa entregue à Comissão de Ética, diz que ela recebeu um reembolso por ter pago a organização de reuniões políticas antes da campanha. No documento, a defesa da peemedebista argumenta que o dinheiro não precisava ser declarado à Justiça Eleitoral por estar fora do período de campanha. Nesta sexta-feira (7), após a divulgação do conteúdo do depoimento de Roriz, ela voltou a negar as acusações. Afirmou que o ex-governador está mentindo e que o dinheiro recebido era para pagar as reuniões políticas. Em depoimento à deputada Erika Kokay, Durval Barbosa, operador do esquema de propina no GDF e principal delator do caso, disse que ela recebeu R$ 30 mil por mês entre janeiro de 2003 e dezembro de 2006.
A peemedebista, conhecida nacionalmente por colocar o dinheiro de propina dentro da bolsa, é a única entre os deputados denunciados a responder processo por quebra de decoro parlamentar. Leonardo Prudente (sem partido, ex-DEM), que guardou cerca de R$ 50 mil nos bolsos do paletó e na meia, e Junior Brunelli (PSC), flagrado em vídeo na oração da propina, preferiram não arriscar a perda dos direitos políticos por oito anos e renunciaram ao mandato. Prudente deixou a Câmara em 26 de fevereiro, e Brunelli em 2 de março.