A crise desencadeada pelas denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) já derrubaram dois dos mais poderosos ministros do governo Lula, a cúpula do PT e diretores de várias estatais. O escândalo provocou outras baixas, como a renúncia do deputado Valdemar Costa Neto (PL-SP) e o afastamento de dois líderes partidários de suas funções na Câmara, e obrigou o presidente a fazer acomodações no ministério para tentar recompor a base aliada.
Veja quais foram as principais baixas provocadas pelo escândalo até o momento:
MINISTROS
José Dirceu
O ministro da Casa Civil pediu demissão no dia 16 de junho, dois dias após ser acusado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), no Conselho de Ética da Câmara, de ser o mentor do esquema de pagamento de mesada a parlamentares da base aliada, o mensalão. Considerado o braço-direito do presidente Lula, Dirceu começou a perder prestígio e poder no início de 2004, quando estourou o caso Waldomiro Diniz. O então assessor da Casa Civil foi flagrado em um vídeo pedindo propina ao empresário de jogo do bicho Carlos Cachoeira. O episódio ocorreu quando Diniz dirigia a Loteria do Estado do Rio de Janeiro (Loterj).
Luiz Gushiken
Após acusações de favorecer a Globalprev, empresa da qual foi sócio, e as revistas da Ponto de Vista Editorial, de propriedade de seu cunhado Luís Leonel, Gushiken perdeu o status de ministro da Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica no dia 12 de julho. Rebaixado à condição de secretário, Gushiken perdeu no final de julho o controle sobre a verba milionária de publicidade oficial (na casa dos R$ 800 milhões). Em seguida, acabou sendo destacado para comandar o Núcleo de Assuntos Estratégicos do Palácio do Planalto.
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Mauro Marcelo de Lima e Silva
Até o dia 13 de julho, Mauro Marcelo era o diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Nessa data, no entanto, ele foi demitido do cargo pelo vice-presidente, José Alencar (PL), à época presidente em exercício. A demissão de Mauro Marcelo veio após o então diretor da Abin criticar a CPI dos Correios, chamando os membros da comissão de “bestas-feras em pleno picadeiro”.
CÚPULA DO PT
José Genoino
O ex-deputado federal renunciou à presidência do partido no dia 9 de julho. Genoino deixou o cargo um dia após a prisão de um assessor de seu irmão, o deputado estadual José Nobre Guimarães (PT-CE), com US$ 100 mil na cueca e R$ 200 mil em uma mala. A situação do presidente do partido se complicou com a descoberta de que ele assinou dois contratos de empréstimo em que o publicitário Marcos Valério Fernandes, acusado de ser operador do mensalão, foi avalista do PT. Genoino também é acusado por Roberto Jefferson (PTB-RJ) de ter omitido à Justiça Eleitoral o repasse de 4 milhões para o PTB financiar a campanha eleitoral de 2004. Ele foi substituído por Tarso Genro, que acumulou o Ministério da Educação até a última semana de julho.
Sílvio Pereira
Secretário-geral do PT, Sílvio foi o primeiro integrante da cúpula petista a se afastar do cargo, no dia 4 de julho. Era ele, segundo o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), o responsável pelo loteamento de cargos no governo federal. Ainda de acordo com a denúncia, os indicados por Sílvio arrecadariam dinheiro nas estatais para abastecer o chamado mensalão. No dia 22, ele acabou se desfiliando do partido, do qual foi um dos fundadores, após confirmar que recebeu um veículo, no valor de R$ 70 mil, da empresa GDK, que presta serviços à Petrobras.
Delúbio Soares
Principal elo entre o PT e o empresário Marcos Valério Fernandes, o tesoureiro do PT se licenciou do cargo no dia 5 de julho. Depois de atribuir as denúncias feitas pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de que seria um dos responsáveis pelo recolhimento e repasse de dinheiro a partidos aliados a um complô das elites contra o presidente Lula, Delúbio confirmou ter cometido crime eleitoral ao não declarar todo o dinheiro arrecadado para as campanhas eleitorais do PT à Justiça. Além disso, Delúbio admite que pediu a Valério que avalizasse empréstimos em favor do PT sem que o restante da cúpula partidária tivesse conhecimento.
Marcelo Sereno
Assim como Silvio Pereira, seria suspeito de participar de loteamento de cargos. Assim como José Genoíno, teria repassado dinheiro ao PTB sem declarar à Justiça Eleitoral. Sereno deixou a Secretaria de Comunicação do PT no início de julho.
DEPUTADOS
Waldemar Costa Neto (PL-SP)
Presidente do partido e um dos acusados de envolvimento no esquema do mensalão, ele renunciou em 1º de agosto ao mandato de deputado federal. A iniciativa de Costa Neto é vista como manobra para manter seus direitos políticos e livrar-se de um eventual processo de cassação. Com a renúncia, ele pode se candidatar já no ano que vem e retornar à Câmara em 2007.
José Borba (PMDB-PR)
O deputado deixou a liderança do partido na Câmara no dia 5 de julho, acossado por denúncias de que teria participado do recebimento do mensalão. Wilson Santiago, também do Paraná e primeiro vice-líder do partido na Câmara, ocupa o cargo até o dia 10 de agosto, quando será feita reunião da bancada para a escolha de nova direção.
João Batista (PFL-SP)
Não se comprovou o envolvimento do deputado, que é presidente da Igreja Universal do Reino de Deus, no suposto esquema de arrecadação de dinheiro em estatais para financiamento de partidos políticos. Mas, não fosse a crise, possivelmente ele não teria sido expulso do PFL assim que foi flagrado embarcando em um avião com R$ 10 milhões em malas. À Polícia Federal, Batista disse que o dinheiro era originário de contribuições de fiéis da igreja.
Paulo Rocha (PT-PA)
O deputado pediu afastamento da liderança do PT na Câmara dos Deputados no dia 21 de julho, depois que foi provado que sua assessora, Anita Leocádia, teria retirado R$ 470 mil da conta da SMB & P no Banco Rural.
Roberto Jefferson (PTB-RJ)
O deputado que iniciou todo o processo ao denunciar a existência do mensalão também não ficou incólume. Pressionado pelos correligionários, foi obrigado a se licenciar da presidência do PTB no dia 17 de junho, passando o cargo a Flávio Martinez, empresário de comunicação no Paraná e irmão do ex-presidente do partido José Carlos Martinez, morto em acidente aéreo em 2003.
DIRETORES DE ESTATAIS
No total, foram mais de 20 exonerações e demissões ocorridas no rastro das denúncias do escândalo. As principais foram:
João Henrique de Almeida Souza e Luiz Appolonio Neto
Presidentes da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) e do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), respectivamente, ambos foram afastados pelo presidente Lula no dia 7 de junho, três semanas depois da denúncia sobre a existência de um esquema de corrupção em ambas as entidades.
Maurício Marinho
Pivô do escândalo dos Correios, o chefe do departamento de Contratação e Aquisição e Material dos Correios foi afastado do cargo após publicação de reportagem em que ele aparece recebendo propina de empresários. Como funcionário de carreira, ele não pode ser exonerado até que o fim das investigações.
Antonio Osório
Diretor de Administração dos Correios na mesma data foi afastado do cargo após ter seu nome citado na fita de vídeo em que o então chefe do departamento de Contratação e Aquisição e Material dos Correios, Maurício Marinho aparece recebendo propina de empresários.
Eduardo Medeiros de Morais
Depois de denúncias de que estaria envolvido com superfaturamento de contratos, o diretor de tecnologia dos Correios pediu demissão no dia 8 de junho.
Henrique Pizzolato
Diretor de Marketing do Banco Brasil, teria recebido R$ 326 mil da conta da SMP&B, empresa do publicitário Marcos Valério, feito por um auxiliar da Previ, plano de previdência do Banco do Brasil. Não muito tempo depois, teria comprado um apartamento de R$ 400 mil em Copacabana, no Rio de Janeiro (RJ). O peso da acusação fez com que deixasse a direção do Banco do Brasil em 15 de julho.
Dimas Fabiano Toledo, Rodrigo Botelho Campos e José Roberto Cesaroni Cury
Respectivamente, diretores de Engenharia, de Gestão Corporativa e de Finanças da empresa estatal Furnas Centrais Elétricas. Deixaram o cargo em 1º de julho, após denúncias de corrupção feitas pelo deputado Roberto Jefferson. Segundo o petebista, eles repassariam R$ 1 milhão ao PT de Minas Gerais, por meio de Rodrigo Botelho; R$ 500 mil ficariam com a própria diretoria. Outros R$ 500 mil levantados na estatal seriam repartidos entre um pequeno grupo de deputados da base aliada, grupo que teria nomeado Cury como diretor financeiro de Furnas.
Marcus Flora
Vinha ocupando interinamente o cargo de subsecretário de Comunicação Institucional, antiga Secom, desde a saída de Luiz Gushiken. Subsecretário da Presidência da República, teve de oficializar no dia 1° de agosto sua saída do governo. O nome de Marcus Flora aparece nas páginas da agenda da secretária Karina Somaggio, que trabalhou com o publicitário Marcos Valério.
Fabiana de Castro
A ex-gerente financeira do fundo de pensão Nucleos, que gerencia as contas dos empregados das empresas do setor nuclear (INB, Eletronuclear e Nuclep), foi demitida na primeira semana de agosto. A saída de Fabiana de Castro se deu depois de uma reportagem que confirmou que ela é prima de Christian de Almeida Rego, sócio da Arbor Gestão de Recursos. O problema é que a Arbor forneceu à Nucleos cotas de um fundo de investimento que somavam R$ 29,04 milhões até abril deste ano. Fabiana havia sido indicada por Marcelo Sereno, ex-secretário de Comunicação do PT e também ex-assessor do deputado federal José Dirceu (PT-SP) na Casa Civil da Presidência da República.
CARGOS ENTREGUES
Após o surgimento do escândalo, os indicados pelo PTB para cargos em estatais pediram demissão, à exceção do ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia, por orientação de Roberto Jefferson. Deixaram os seus cargos: Roberto Garcia Salmeron , presidente das Centrais Elétricas do Norte do Brasil (Eletronorte), em 6 de junho; o diretor da Eletrobrás Termonuclear S/A (Eletronuclear), Luiz Rondon Teixeira de Magalhães ; e o diretor do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), Emerson Elói Palmieri . Posteriormente, foram acrescidos a essa lista o vice-presidente da Caixa Econômica Federal (CEF), Carlos Alberto Cotta , bem como José Marcos Castilho , ex-prefeito de Angra dos Reis, que ocupava a diretoria de Administração da Eletronuclear, e o diretor de Operações da BR Distribuidora, Fernando Cunha .