Glauco Peres da Silva *
Terminada a apuração da eleição mais apertada da história recente do Brasil, Dilma Rousseff é reconduzida ao Palácio do Planalto com pouco mais de 51% dos votos válidos. Seu primeiro discurso como presidente reeleita menciona a abertura ao diálogo e a promoção de mudanças. Porém, seu perfil não mostrou ser esse ao longo destes quatro anos. É emblemático desse comportamento não mencionar em seu discurso o candidato da oposição, Aécio Neves. Qual o diálogo que pensa ela fazer ou com quem dialogará? Mas em termos práticos, conhecida por ser bastante centralizadora e com pouca paciência, a presidente Dilma terá uma dificuldade importante com a qual lidar ao longo deste seu próximo mandato: a minoria derrotada é muito grande. Qual sinal ela entenderá desse resultado das urnas?
Em um extremo, ela pode entender que recebeu um apoio ao governo que implementou até aqui. Nesse sentido, seu segundo mandato seria uma continuidade do que fez até agora: reforçaria as políticas sociais e pautaria a economia por uma clara intervenção do Estado, com a preocupação em manter elevado o salário mínimo e o emprego. Em outro extremo, ela pode entender que nesta eleição ela quase perdeu, o que é um forte sinal de que sua gestão é reprovada por parcela expressiva da população e isso poderia levá-la, a partir daí, a tomar um caminho que a aproxime mais dos governos Lula do que do seu primeiro mandato. Essas são situações extremas. O mais certo é encontrarmos um governo que esteja em um ponto intermediário, tendendo para um dos lados. Mas qual lado?
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É difícil dizer, evidentemente. Como foi dito, o perfil da presidente não é o de disposição ao diálogo. Já pelo seu primeiro discurso, a sinalização quanto à necessidade de diálogo é algo importante. As medidas econômicas necessárias, que serão de forte ajuste, podem ser um bom indicativo dessa sua disposição. Ela precisa, por exemplo, se aproximar do empresariado, que certamente lhe fez oposição ao longo dessa campanha. Esse é um diálogo que ela precisa travar. Paro por aqui porque enumerar os focos com quem dialogar seria extenso. Apenas cito um outro que lhe é muito caro.
O problema da renda no Brasil não apenas separa ricos e pobres, mas é também uma questão regional. Os mais pobres, aqueles que se beneficiam de boa parte dos programas do governo federal, não estão nos estados mais ricos da federação. Isto implica em um duplo movimento, que acentua uma cisão, ao menos nos discursos, latente desde a Revolução de 1932 no Brasil, que é a dependência do país em relação ao desempenho econômico do Sudeste, notadamente de São Paulo. Estabelecer o diálogo, portanto, passa por evitar que preconceitos e uma indisposição federativa pautem as disputas políticas no Brasil, como de certa forma já ocorreu após várias eleições nacionais no país.
A disposição para conversar é um gesto muito importante. Dilma deu esse sinal. Porém, ele não é suficiente. Seu segundo governo precisará ser bastante diferente do que foi o primeiro para não estimular imagens indesejadas por qualquer um que minimamente se preocupe com o ambiente político e a qualidade da democracia no país.
Publicidade* Glauco Peres da Silva, professor de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP), mantém o blog Entrementes.