Ex-secretário-geral da Presidência da República, Gustavo Bebianno revelou que o então juiz Sergio Moro negociou o cargo de ministro da Justiça com representantes do governo Bolsonaro antes mesmo do segundo turno das eleições do ano passado. O PT quer, então, convocar Moro para depor na Câmara dos Deputados sobre a sua entrada no governo. O partido reclama que Moro vinha apresentando outra versão sobre o convite de Bolsonaro e lembra que o ministro pode responder por crime de responsabilidade caso tenha mentido sobre essa questão no Congresso. Bebianno, então, soltou nota para esclarecer a questão. Veja a íntegra abaixo.
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Líder do PT na Câmara, o deputado Paulo Pimenta (RS) explicou que o ministro Sergio Moro já havia sido indagado sobre o momento exato em que recebeu o convite para integrar o governo Bolsonaro ao participar de audiências na Câmara e no Senado. Nessas ocasiões, contudo, Moro disse que, apesar de ter sido sondado pelo atual ministro da Economia, Paulo Guedes, antes do resultado das eleições, só havia sido formalmente convidado para o governo após a vitória de Bolsonaro.
Em entrevista concedida a Fabio Pannunzi nesse fim de semana, contudo, Gustavo Bebianno, que era o chefe da campanha de Bolsonaro, contou que no dia do segundo turno das eleições Guedes contou que já havia tido cinco ou seis conversas com Moro. Guedes ainda teria dito que o então juiz estava disposto a abandonar a magistratura para assumir o Ministério da Justiça.
“Moro veio à Câmara e ao Senado e eu me recordo de ter feito essa pergunta a ele. Ele mentiu dizendo que nunca fez tratativas para vir para o governo antes da eleição”, reclamou Paulo Pimenta, que publicou no Twitter um vídeo desse depoimento de Moro. Veja:
Quando alguém ensaia uma mentira para esconder algo muito grave, a linguagem acaba traindo e mostrando qual é a verdade.
PublicidadeNo Senado (19/6) e na Câmara (2/7) @SF_Moro se enrolou para dizer que foi sondado antes e convidado após a eleição.
Ele não passa num detector de mentiras. pic.twitter.com/oRX6sibKdE
— Paulo Pimenta (@DeputadoFederal) November 18, 2019
Pimenta quer, então, convocar o ministro da Justiça na Câmara para que ele esclareça sua entrada no governo Bolsonaro e também sua participação na campanha do então candidato a presidência Jair Bolsonaro, já que, para o PT, Moro pode ter influenciado no resultado das urnas. “Dias antes da eleição, Moro liberou a delação de Palocci que havia sido rejeitada pelo Ministério Público porque não tinha provas. Ele liberou isso quando já havia sido convidado para ser ministro da Justiça. […] Houve uma relação promíscua de Moro com Bolsonaro antes do resultado final da eleição”, reclamou o deputado, dizendo que atitudes como essa prejudicaram a campanha do então candidato do PT, Fernando Haddad.
Pimenta disse que os detalhes desse novo pedido de convocação que pode ser apresentado contra Sergio Moro serão definidos nesta terça-feira (19). Nesta segunda, contudo, o líder do PT na Câmara já discutiu o assunto com o ex-deputado (PT-RJ) e ex-presidente da OAB-RJ Wadih Damous nas redes sociais. Na conversa, Damous disse que Moro pode responder por crime de responsabilidade caso a declaração de Bebbiano seja comprovada.
“É extremamente grave o fato de ele ter comparecido ao Congresso Nacional e mentido sobre se teria sido convidado para o cargo de ministro da Justiça antes de concluída a eleição presidencial. Sendo verdadeira a declaração de Bebianno, Moro pode ser processado pelo Congresso Nacional por crime de responsabilidade”, explicou o ex-deputado. Veja:
Bebbiano complica Moro https://t.co/bldqTvtUIr
— Paulo Pimenta (@DeputadoFederal) November 18, 2019
Cumprindo agenda oficial no Acre, Sergio Moro ainda não comentou publicamente as declarações de Bebbiano. O ex-ministro, porém, soltou uma nota para esclarecer a declaração e afastar qualquer suspeita contra Moro. Na nota, Bebianno diz que, antes da eleição, Moro conversou apenas com Guedes e não com o próprio Bolsonaro. Veja a íntegra da nota:
“Em entrevista ao jornalista Fabio Pannunzio, no último sábado, ao falar sobre os bastidores das eleições e da composição do governo, comentei que o Ministro Paulo Guedes tinha sondado o então juiz Sergio Moro para o Ministério da Justiça.
Alguns veículos de imprensa distorceram o conteúdo da entrevista, para criar uma narrativa de complô político, que nunca existiu.
Até onde tenho conhecimento, o então candidato Jair Bolsonaro, de forma deliberada, nunca teve contato ou se encontrou com o juiz Sergio Moro antes de ser eleito.
Qualquer contato que tenha existido entre os hoje Ministros Paulo Guedes e Sergio Moro, antes das eleições, foi resultado de um impulso pessoal do primeiro para buscar um nome de peso para o governo, caso Jair Bolsonaro fosse eleito.
O Ministro Sergio Moro sempre se mostrou um magistrado sério e comprometido com a justiça, a ética e o país. Quando aceitou a nomeação ao Ministério da Justiça, abandonou uma carreira estável e brilhante na magistratura, para assumir uma nova função pública, instável e incerta. Mostrou, mais uma vez, seu compromisso primordial com o Brasil.”
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